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Incêndio em Santos deixa rastro de danos ambientais

14:29 | 08/04/2015
Fogo em tanques de combustível já dura uma semana. Mais de 8,5 toneladas de peixes morreram por contaminação, e chuva ácida também é esperada. Pesquisadores classificam impacto como "devastador". Há uma semana, os moradores do bairro Alemoa se revezam numa espécie de vigília para acompanhar o incêndio que atinge cinco dos 175 tanques de combustíveis da Ultracargo, em Santos. Os moradores do bairro, o mais próximo da unidade santista da empresa, puderam permanecer em suas casas, mas estão com medo. Além da fumaça escura, eles relatam o aparecimento de peixes mortos no rio Casqueiro, que corta a Alemoa e deságua na baía na Santos. Estão recolhendo tudo, mas a cada dia aumenta o número de peixes mortos que aparecem boiando, conta Maria Lúcia Cristina Jesus Silva, presidente da Associação de Moradores do Alemoa. O cheiro de peixe podre é muito forte." Um laudo da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) confirma o impacto ambiental do incêndio. Análises feitas em vários pontos de saída de água para o combate ao fogo indicam que peixes morreram devido à baixa oxigenação e temperatura elevada. A esses dois fatores soma-se a presença de combustível, constituindo as causas mais prováveis da mortandade de peixes ocorrida no estuário, comunicou em nota nesta quarta-feira (08/04) Cetesb. A companhia informou à DW Brasil que recolheu 8,5 toneladas de peixes mortos. Segundo a Cetesb, a medição feita na terça-feira no bairro Bom Retiro, a 3 km do local do incêndio, registrou qualidade boa, indicando que a fumaça não está afetando a comunidade no entorno. Questionada pela reportagem, a companhia negou que a poluição causada pelo fogo nos tanques de combustíveis possa estar sendo carregada para outro lugar. Na atmosfera, os poluentes estão presentes, mas ficam restritos à área do evento. No entorno, ou seja, num raio acima de 3 km (onde existem residências), o monitoramento da qualidade do ar feito pela Cetesb não acusa concentrações acima dos padrões legais, ou seja, não oferece risco à população, respondeu a companhia por e-mail. Poluição e chuva ácida Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em São Vicente, Baixada Santista, discordam. A direção dessas partículas depende da dinâmica atmosférica, em alguns momentos elas seguem na direção do mar, pairam sobre a Serra do Mar, ou sobre a cidade, por exemplo, analisa Davis Gruber Sansolo, coordenador do laboratório de planejamento ambiental e gerenciamento costeiro. O pesquisador critica a maneira como as autoridades ambientais estão tratando o assunto. É de uma irresponsabilidade absurda. Eles preferem ter uma postura política de diminuir o problema sem mesmo ter consciência da dimensão. Deviam ter um diálogo sincero com a população e deixar claro que a dimensão do problema ainda não é conhecida. Além da mortandade dos peixes, outro efeito de curto prazo esperado por pesquisadores é a chuva ácida. Como há queima de hidrocarbonetos, a reação que dá com a água na atmosfera precipita chuva ácida. A gente não sabe exatamente qual é a intensidade do impacto que a precipitação desses poluentes pode causar tanto na saúde humana como nos corpos d´água, analisa Sansolo. Parte dessas partículas já pode ter atingido o solo durante uma chuva que caiu na região no último sábado. Caso essa chuva caia sobre a Serra do Mar, muito próxima ao local, haverá impacto sobre a floresta, preveem os pesquisadores. Mas tudo terá que ser monitorado ao longo do tempo. Os efeitos na água, no ecossistema e na recomposição dele, pondera o pesquisador. "Mas os efeitos são devastadores." Região estratégica A Baixada Santista tem um histórico de problemas ambientais. As principais fontes de poluição são as indústrias, o despejo de esgoto sem tratamento e as atividades no porto. Ao mesmo tempo, é um ponto estratégico para o país: liga todas as regiões produtivas do planalto paulista ao mundo. O estuário, local de transição entre rio e mar, é um ambiente de reprodução de espécies marinhas. Em Santos, várias se multiplicam, principalmente nas áreas de mangue, para depois habitar a área marinha. O local também é um receptor da poluição provocada pelo incêndio. Especialista ainda não conseguem dizer o que pode acontecer no ecossistema a longo prazo. Segundo o Núcleo de Estudos sobre Poluição e Ecotoxicologia da Unesp, a poluição já iniciou um processo de mortandade total sobre vários organismos no estuário. Ainda não se sabe o que provocou o incêndio no terminal da Ultracargo. O Ministério Público Estadual instaurou inquérito para apurar as responsabilidades e investigar os impactos ambientais causados. Para a promotoria, a culpa da empresa é clara, mesmo que o fogo não tenha sido intencional. Por meio de nota, a Ultracargo informou que assim que as circunstâncias permitirem, a empresa avançará na investigação para apurar as causas do incêndio". Autor: Nádia Pontes, de São PauloEdição: Rafael Plaisant
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