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Esperança e coragem unem nepaleses após catástrofe

12:48 | 30/04/2015
População luta para entender o que aconteceu e superar a destruição causada há menos de uma semana pelo mais forte terremoto a atingir o país em mais de oito décadas. "Eu estava lavando roupas. As crianças estavam assistindo televisão. Era um sábado normal, até que essa coisa horrível aconteceu. Pensei que estava ficando tonta, porque tenho me sentido doente há um tempo. Então, eu ouvi meu marido e as crianças gritarem. Quando saímos da nossa casa, eu já ouvia estalos nela", se recorda Dhan Gautam, de 40 anos, mãe de quatro filhos. A família se mudou no próprio sábado de sua casa em Lagan para um acampamento para desabrigados em Katmandu. Janak Singh, seu vizinho em Lagan, passou por um desafio maior. Sua única filha, Sonu Thapa, estava nas últimas semanas de gravidez e não conseguia nem andar, muito menos correr, para salvar sua vida. Sonu teve que ser resgatada com a ajuda de vizinhos e levada às pressas para o hospital. Ela deu à luz a sua filha em uma enfermaria improvisada no mesmo hospital em Bir que foi inundado com milhares de feridos pelo terremoto. Quase uma semana depois do pior terremoto no país em 81 anos, as pessoas ainda lutam silenciosamente para entender a extensão dos danos. "O que é que podemos fazer, a não ser salvar nossas vidas? Mesmo isso não está sob nosso controle. Somos impotentes diante da natureza. Uma semana atrás, tínhamos uma casa e um meio de subsistência. Tínhamos amigos e famílias. Tínhamos poupança, e uma falsa noção de que o futuro estava seguro. E num segundo, nossas vidas mudaram para sempre", lamenta Vikas Sharma. Vikas estava do lado de fora de sua loja, quando a famosa torre Dharahara, de 62 metros, começou a balançar e em seguida desabou. No sábado, mais de 150 pessoas haviam comprado ingressos para subir no prédio, para ver a vista espetacular do Vale de Katmandu. Apenas 50 saíram. A torre também soterrou algumas das lojas e casas próximas a ela. Vikas está seguro, assim como sua loja. Mas o trauma e o dano emocional são fardos pesados para carregar. Prédio devastados, vidas devastadas Sameer, Neta Rai e Usha Pokhra são estudantes universitários do distrito de Lalitpur, no Vale de Katmandu. Eles decidiram ser voluntários e ajudam as equipes de resgate a limpar os escombros perto da praça Patan Durbar, em Lalitpur. Construída no século 3, a praça Patan Durbar tinha templos feitos em estilos diferentes e era tida como o melhor exemplo da arquitetura de pedra no Nepal. Mesmo no dia cinco após o terremoto, cães farejadores e equipes de resgate se concentram em tirar corpos presos sob os edifícios. "Esse lugar nunca mais será o mesmo novamente. Nós costumávamos vir ao Banglamukhi Mandir toda quinta-feira para fazer orações. Este lugar vai sempre me lembrar da devastação", diz Sameer, antes de voltar aos trabalhos. Seu maior alívio é que sua família está a salvo, embora a casa dela tenha tantas rachaduras que levará meses para ser consertada. A equipe médica no Hospital Patan, em Lalitpur, atendeu um total de 1.017 pacientes até agora, principalmente com lesões ortopédicas. Outra cidade patrimônio perto de Katmandu, Bhaktapur, foi completamente devastada. A alvenaria histórica e as casas de azulejos que faziam sua fama se transformaram em escombros. Alguns dos templos, no entanto, saíram miraculosamente ilesos. Os pagodes ao redor da Praça Real ainda estão de pé, frente a estruturas devastadas, suas escadas vigiadas por leões e elefantes esculpidos em pedras únicas. Pushpa Rajmala está tentando achar alguns de seus pertences em casa, que nada mais é do que um monte de pó e pedra. Na próxima rua, a cerca de 100 metros de distância, equipes de resgate tentam desenterrar corpos dos escombros. Bhaktapur teve pelo menos 250 mortos e mais de três mil pessoas tiveram que se mudar para um abrigo de refugiados montado numa escola. Bhaktapur fica a apenas 48 quilômetros do epicentro do tremor. Mais acima das colinas, algumas aldeias permanecem, em grande parte, inacessíveis, e os sobreviventes só podem ser retirados de helicóptero. A extensão dos danos é desconhecida ainda. A sorte de ter sobrevivido "Sessenta e cinco por cento de Bhaktapur dependiam do turismo. Com a cidade inteira tendo sido destruída, ficando sem história ou herança para se orgulhar, nós não sabemos como vamos sobreviver. Vai levar vários anos, provavelmente toda uma geração, para que nós curemos essas feridas", diz Robin Raya, um cozinheiro de um dos restaurantes locais. Ele perdeu tanto sua casa como seu local de trabalho. O único consolo é que foi capaz de sair ileso, apesar de seu vizinho do lado ter ficado preso no prédio. Seu corpo só pôde ser retirado um dia mais tarde. "Temos muita sorte de ter sobrevivido. Se Deus nos permitiu sobreviver, ele também vai nos mostrar o caminho", diz Madhu Sharma, amigo de Robin. No abrigo de refugiados de Katmandu, Sonu decidiu chamar sua filha de Devi: "a deusa". Ela diz que a criança salvou sua vida e a de sua família de uma calamidade. Deitada com segurança no colo da mãe, Devi é alheia ao dano ao seu redor. Mas, definitivamente, deu uma razão à sua família e às pessoas ao seu redor para sorrir. Autor: Anu Singh Choudhary, de Katmandu (md)Edição: Rafael Plaisant
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