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Custo Brasil espanta empresas estrangeiras

08:31 | 03/04/2015
Filial da H&M em Frankfurt: empresa sueca desistiu, pelo menos a médio prazo, de se instalar no BrasilBurocracia excessiva, alta carga tributária e impostos em cascata levam empresas como Ikea e H&M a postergar o desembarque no país, que ocupa a 120ª posição no ranking de "facilidade de fazer negócios" do Banco Mundial. O chamado Custo Brasil não é um vilão que assusta só as empresas já sediadas no país. Segundo informações do mercado, estrangeiras como a H&M (de roupas) e Ikea (de móveis) desistiram de se instalar em território brasileiro, pelo menos a médio prazo. Entre os motivos estão a burocracia excessiva, a alta carga tributária (de mais de 35% do PIB), o complicado sistema tributário e os altos custos trabalhistas. De acordo com o relatório Doing business 2015 Indo além da eficiência, do Banco Mundial, o Brasil ocupa a 120ª posição entre 189 nações pesquisadas no ranking "facilidade de fazer negócios" o que é considerado ruim, levando-se em conta que o país está entre as dez maiores economias do mundo. Cingapura (1º), Alemanha (14º), Peru (35º), México (39º) e Chile (41º) são algumas das nações que estão à frente do Brasil. "Os problemas, como corrupção, relação não muito boa com investidores e intervenção estatal são questões que prejudicam os investimentos", diz o economista Marcel Grillo Balassiano, da FGV-IBRE. "Além de encarecer o produto nacional, esses fatores também geram um desincentivo a investimentos por parte de empresas nacionais e à entrada de marcas estrangeiras no país." Questionada sobre o cancelamento da chegada ao país, a sueca H&M afirmou, por meio de nota, que o Brasil é um dos vários mercados de interesse que a empresa tem observado, "mas ainda temos que comunicar se e, se neste caso, quando estaremos abrindo filiais no país". Em 2015, a marca já anunciou Peru, África do Sul, Taiwan, Índia e Macau como novos mercados. A Ikea, por sua vez, afirmou que, no momento, não tem planos para o Brasil. Desafios para manter preços competitivos Marcas estrangeiras que já estão no Brasil, como a Zara e a Forever 21, enfrentaram grandes desafios de produção para conseguir manter os preços de seus produtos tão competitivos quanto em outros países. A Ikea teria que produzir no Brasil, mas, segundo informações do mercado, teria esbarrado na carência de fornecedores de produtos baratos e em larga escala, seguindo o modelo de suas outras filiais pelo mundo. Problemas de logística e impostos extremamente altos sobre produtos importados impedem qualquer alternativa a não ser fabricar no Brasil. "Quando os custos são muito altos, a empresa pode ter que mudar seu público-alvo. Isso foi um dos fatores que fez com que a H&M não viesse ao país, já que não teria o interesse de ser considerada loja de grife em apenas um dos países onde está atualmente presente", afirma Balassiano. A marca possui mais de 3.500 lojas em 57 mercados. Para Sidnei Abreu, diretor-executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX), o país tem um potencial de consumo atraente. Apesar de as grandes marcas saberem que se trata de um ambiente custoso e burocrático, elas não querem deixar passar a oportunidade de se instalar no Brasil. "Resta a essas marcas avaliarem, em sua estratégia de expansão, qual o melhor momento para a entrada no mercado brasileiro", afirma Abreu. Produtos caros Gargalos e nós na logística, além de outros fatores que formam o Custo Brasil, diminuem a competitividade de produtos brasileiros e colocam o país em desvantagem frente a mercados como Estados Unidos, Europa e Ásia. Um exemplo é o iPhone 6, que custa a partir de 3.499 reais no Brasil. Já nos Estados Unidos, o mesmo produto é vendido por 199 dólares (cerca de 630 reais). A falta de estradas em boas condições e uma rede de transporte ferroviário insuficiente fazem com que produtos brasileiros cheguem mais caros para o consumidor brasileiro e, também, para a exportação. Para os especialistas, a solução para o problema do Custo Brasil passa principalmente por uma reforma que reduza não somente o número de tributos, mas também a carga tributária sobre a produção, passando a concentrá-la sobre o patrimônio e a renda e, ainda, de forma progressiva, quer dizer, quem ganha mais e tem mais bens, paga mais impostos. "Porém, falta interesse político", afirma Rubens de Oliveira Gomes, professor de direito tributário do Ibmec-MG. "Cada ente da federação olha somente para seus interesses individuais, em detrimento do interesse do país como um todo." Autor: Fernando CaulytEdição: Alexandre Schossler
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