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Com Baltimore sob toque de recolher, Obama questiona táticas policiais

Após o início do toque de recolher, centenas de manifestantes desafiaram a medida

00:55 | 29/04/2015
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A presença da Guarda Nacional nas ruas de Baltimore não intimidou os manifestantes, que violaram o toque de recolher durante a noite desta terça-feira, 28, decretado após os violentos incidentes que, segundo o presidente Barack Obama, geram "questões preocupantes" sobre a relação entre a polícia e a comunidade negra no país.

Após o início do toque de recolher, centenas de manifestantes desafiaram a medida na noite de terça, 28, e foram reprimidos por policiais, que utilizaram gás lacrimogêneo e gás de pimenta.

"Os oficiais estão utilizando gás de pimenta contra uma multidão agressiva na av. North / av. Pennsylvania", anunciou a polícia no Twitter, enquanto a CNN e outras estações informavam o uso de gás lacrimogêneo para fazer respeitar o toque de recolher, iniciado às 22H00 local (23H00 Brasília).

Um toque de recolher vigora em Baltimore nos próximos dias entre 05H00 e 22h00.

Posicionamento do presidente

O presidente Barack Obama condenou os atos de violência em Baltimore e afirmou que não há desculpas para eles, mas destacou estar convicto de que os Estados Unidos enfrentam uma crise latente em relação à polícia, especialmente em sua abordagem com os negros.

"Vemos muitos exemplos de interação entre a polícia e as pessoas, principalmente com os afro-americanos, geralmente pobres, que levantam questões preocupantes", afirmou o presidente em coletiva na Casa Branca.

Na opinião de Obama, "o departamento de polícia deve fazer uma reflexão". "E acho que há comunidades que devem fazer uma reflexão. Acho que todos nós, como um país, devemos fazer uma reflexão".

Obama afirmou ainda que, se o país quiser resolver os problemas que envenenam a moderna sociedade americana, os Estados Unidos devem não apenas repensar a formação da polícia, como também seu sistema educacional e talvez uma reforma do sistema judicial.

Reforço policial

Milhares de homens da Guarda Nacional e reforços da polícia foram mobilizados nesta cidade portuária da costa leste dos Estados Unidos, onde os incêndios se extinguiam lentamente e várias lojas foram totalmente saqueadas por manifestantes durante os violentos protestos da véspera.

Os distúrbios já deixaram mais de 140 veículos queimados, 20 policiais feridos e 235 suspeitos detidos, informaram as autoridades.

Equipes de voluntários saíram às ruas nesta terça-feira, 29, para limpar os escombros.

Apesar de não ter sido registrado o caos da véspera, nesta terça, 29, houve cenas tensas com manifestantes gritando em frente a cordões de policiais. Os agentes usaram gás de pimenta pelo menos uma vez.

O Superintendente da Polícia de Maryland, o coronel William Pallozzi, informou ter mobilizado 500 agentes para a cidade e pediu outros 5.000 homens de cidades da região.

A Guarda Nacional, por sua vez, informou ter disponíveis 5.000 homens e que será mobilizada uma "enorme força" para proteger pessoas e propriedades.

[SAIBAMAIS 1]

O governador de Maryland, Larry Hogan, percorreu as ruas da cidade na madrugada, de 29, e visitou uma barricada da Guarda Nacional, onde disse à imprensa que as autoridades vão garantir "que aquilo que aconteceu ontem à noite (28) em Baltimore não volte a acontecer".

"Esta violência não será tolerada", disse Hogan perante a barricada, onde montavam guarda homens armados com fuzis de assalto, enquanto prometia a presença "maciça" das forças de ordem.

Sentimento popular

Líderes locais e nacionais formulavam um apelo à calma, depois de um novo capítulo de incidentes provocados por tensões raciais.

"Foi horroroso ao ponto que meus filhos choravam enquanto tentávamos voltar para casa", disse à AFP Latania Graham, ao evocar a noite de segunda-feira, 27.

"Eu sinto que meus ancestrais lutaram para que tudo seja mais calmo que isto. Passar por isto, 50 anos depois é incrível para mim", acrescentou Graham, em alusão às lutas pelos direitos civis dos negros americanos.

Muitos condenaram os agitadores, mas também falaram de sua desconfiança da polícia.

Aretha Williams, de 45 anos, funcionária de uma loja, disse em frente a uma fileira de policiais da tropa de choque, a maioria, brancos: "Acho que muitos dos policiais são racistas.... Que têm licença para matar ao se tornar um oficial da polícia".

Uma aposentada de 68 anos, que se identificou apenas como Clarence, disse que nunca viu Baltimore tão tensa desde os distúrbios de 1968, quando seis pessoas morreram, 700 ficaram feridas e grande parte do centro da cidade foi arrasado.

Nesta terça-feira, 28, as escolas de Baltimore estavam fechadas como medida de segurança, embora algumas vozes comentassem que isto poderia ter um efeito contrário, deixando muitos jovens e adolescentes nas ruas.

AFP
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