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Paulistas protestam contra Dilma, mas sem consenso

22:39 | 15/03/2015
Insatisfação com governo foi ponto comum, mas os milhares de manifestantes que foram à Avenida Paulista mostraram diferentes demandas. Muitos pediram impeachment, e uma minoria defendeu golpe. Clima festivo imperou. Parecia Copa do Mundo, mas algo muito mais sério estava em jogo neste domingo (15/03), quando manifestantes vestidos de verde e amarelo tomaram a Avenida Paulista. Unidos pela insatisfação com o governo, centenas de milhares de pessoas se reuniram na principal via de São Paulo para protestar. Não havia, no entanto, uma agenda comum entre os manifestantes ainda que a maioria quisesse a saída da presidente Dilma Rousseff e do PT do poder. Sou contra a corrupção e quero o impeachment, caso haja provas contra a presidente. O Collor saiu por muito menos, afirma Melchiades Freitas, de 89 anos. Apesar da forte chuva, ela garantiu que seguiria na manifestação até o final. De acordo com a PM, um milhão de manifestantes estiveram na Avenida Paulista 210 mil segundo o Datafolha. Entre elas as adolescentes Nicolle Souza (17), Rebeca Fonseca (14) e Julia Albuquerque (17), que foram ao protesto acompanhadas dos pais, com os rostos pintados com as cores da bandeira. Queremos impeachment de todo mundo, porque queremos um futuro melhor, e isso vai parar a corrupção, dizem. Indagadas sobre Michel Temer (PMDB), entretanto, as adolescentes aparentaram não conhecer o vice-presidente. Mas nem todos os presentes eram favoráveis ao impeachment. O médico Cristiano Gomes, de 41 anos, veio de São Caetano do Sul, na região metropolitana de São Paulo, junto com 15 familiares, inclusive o filho, de seis anos de idade. Vim para protestar contra a corrupção. Para ter impeachment é preciso uma base legal e ainda não há provas contra ela, afirma. Golpe militar Entre os cartazes e faixas na manifestação, apenas a minoria pedia uma intervenção militar. Mas, quando indagadas sobre a possibilidade de um golpe, das 12 pessoas entrevistadas pela DW Brasil, metade não descartou a opção. Os irmãos Cátia (32) e Carlos Eduardo Muniz (34), moradores de Penha e de São Miguel, na Zona Leste, acreditam que uma intervenção militar seria válida em último caso. Carlos, que é negro e trabalha como analista de sistemas, diz que não só brancos ricos querem o impeachment da Dilma. Isso é mentira do PT, afirma. Tatuados da cabeça aos pés, com alargadores, piercings e cabelos pintados de rosa e azul, os amigos Andréia Borgoni (30) e Rafael Costabile (22) concordariam com uma intervenção militar. Agora não queremos. Mas não vai ser tão fácil tirar a Dilma como foi com o Collor. O PT não vai aceitar, diz ela. Entretanto, havia manifestantes que chegavam a ficar ofendidos com a pergunta sobre um golpe. É um absurdo, não tenho nem o que falar sobre isso. Eu vim aqui defender a democracia e a liberdade, respondeu Cristiano Gomes. Pendurada na frente de dois caminhões, que estacionaram próximos à manifestação, a faixa com os dizeres intervenção militar já se tornou um ponto de encontro de simpatizantes da ideia. Dezenas de pessoas se revezavam para posar para fotos e fazer selfies com o cartaz ao fundo. Os manifestantes eram atraídos para o local, na Rua da Consolação, pelas altas buzinas e pelo roncar dos motores de cerca de 60 caminhões estacionados na via. Os caminhoneiros formaram uma fila, bloqueando a rua. Segundo Autieres de Oliveira, um dos organizadores da manifestação dos caminhoneiros, o grupo não é favorável ao impeachment e muito menos ao golpe. Colocaram essa faixa aí na frente, mas não fomos nós, explica. Oliveira, que participou da recente paralisação de caminhoneiros, diz que o grupo protestava contra o alto preço dos combustíveis e pedágios. Clima festivo e panelaço O clima de comemoração começou já dentro do metrô, a caminho do protesto. Cada vez que o trem parava em uma estação da linha verde do metrô, mais pessoas vestidas de verde e amarelo se juntavam à multidão, e eram aplaudidas com entusiasmo. Nos vagões, os manifestantes puxavam coros de fora PT e eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor. Na Avenida Paulista, muitos ambulantes vendiam cerveja e alimentos, que rapidamente se esgotavam. Os manifestantes, com os rostos pintados, cornetas, apitos e adereços nas cores da bandeira do Brasil, pareciam vestidos para assistir a um jogo da Copa do Mundo, não fossem as faixas com conteúdo político. Comunismo não, salve a família brasileira, se lia em um cartaz, colado na saída da estação de metrô Brigadeiro. O protesto, que começou por volta das 14 horas, seguiu até o início da noite. Por volta das 19 horas, a Avenida Paulista havia sido liberada para o trânsito. Cerca de uma hora depois, entretanto, o protesto continuou, desta vez das varandas e janelas de bairros de classe média alta da cidade. Em São Paulo, bairros como Itaim Bibi, Perdizes, Pinheiros, Vila Madalena, Morumbi, Vila Mariana, Higienópolis e Jardins registraram um panelaço, enquanto as declarações dos ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) eram transmitidas ao vivo pela televisão. O governo federal foi alvo de um protesto similar na semana passada, quando a presidente fez um pronunciamento na televisão. Autor: Marina Estarque, de São PauloEdição: Rafael Plaisant
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