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Briga Berlim-Atenas estremece União Europeia

17:44 | 17/03/2015
Ministros das Finanças Wolfgang Schäuble (esq.) e Yanis VaroufakisHá meses políticos gregos e alemães vem trocando farpas. Com os ministros das Finanças dos dois países como protagonistas, o potencial de dano político é grande, tanto à relação bilateral quanto ao bloco europeu. Em Bruxelas, o clima é de pura irritação. A gestão financeira grega é tida como pouco séria e cheia de falhas técnicas, e a comunicação, como uma catástrofe só. O que foi confirmado à mesa de negociações já não vale na próxima entrevista, critica a União Europeia (UE). Por sua vez, a Grécia se sente coagida pela Europa e sobretudo humilhada pela Alemanha. O ministro das Finanças Yanis Varoufakis, em especial, ocupa regularmente as manchetes com suas críticas ao programa de resgate para a Grécia. Atenas chama o pacote de um "waterboarding fiscal", numa alusão à técnica de tortura do afogamento simulado. O relacionamento entre Berlim e Atenas vem se deteriorando. O tradicional jornal grego dominical To Vima já fala de uma "batalha de Berlim". E o ministro grego da Defesa, o populista de direita Panos Kammenos, acusa o chefe da pasta das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, de travar guerra psicológica a fim de envenenar a relação bilateral. Em reação, o vice-chanceler federal alemão e líder do Partido Social Democrata (SPD), Sigmar Gabriel, saltou em defesa do colega de gabinete, declarando ao tabloide Bild que a coisa passou dos limites. Ele não vê a menor justificativa para os "ataques permanentes" a Schäuble. E aí veio a história com o dedo do meio, que ocupa a mídia alemã desde a noite de domingo. O pomo da discórdia é a divulgação num programa de TV de um vídeo de 2013. Convidado a dar uma palestra em Zagreb, capital da Croácia, na qualidade de professor de economia, Varoufakis discorria, então, sobre a crise do euro. No vídeo, o economista disse que o próprio país deveria ter declarado insolvência, e permanecido na zona do euro, "mostrando assim o dedo para a Alemanha e dizendo: 'Agora resolvam vocês mesmos o problema'". Nesse momento, vê-se no vídeo em questão o atual ministro grego erguer o dedo médio da mão esquerda num gesto obsceno o que o afirma ser uma imagem manipulada. Mas, quer falsificado, quer verdadeiro, o episódio também contribuiu para deteriorar ainda mais as relações greco-alemãs. Extremos absolutos Os protagonistas da desavença binacional são os respectivos chefes de Finanças, cujas confrontações em público muito têm de um conflito pai-filho. De um lado, está o juvenil e musculoso Varoufakis, com visão política marxista e atitude yuppie. Um homem do mundo acadêmico e da teoria. Seu principal adversário no ringue da UE é o exato oposto, em praticamente todos os aspectos. Em sua quinta década no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), Schäuble é um homem da prática política, com experiência em acordos e consensos. Para o democrata-cristão, poupar é razão de Estado; anunciar benesses financeiras lhe é totalmente estranho. Ao mesmo tempo em que a inadimplência ameaça a Grécia, pela primeira vez em décadas, Schäuble apresentou à Alemanha um orçamento equilibrado em 2014. Enquanto, de camisa sempre aberta e motocicleta diante do ministério, Varoufakis lembra um ex-integrante de boy group, Schäuble é o clássico servidor do Estado, munido da ética protestante do dever. O euro e sua estabilidade são coisas praticamente sagradas para o conservador alemão. Pois, justamente vista da perspectiva de Berlim, a moeda comum europeia é também um valor político. Danos à UE Potencial explosivo também tem o debate reacendido sobre a legitimidade das exigências gregas de reparação pela ação nazista no país. Para além da disputa jurídica, os arquivos designados "R 27320 Administração econômica na Grécia sob ocupação alemã" têm sido causa de grande ressentimento. Não apenas muitos gregos consideram vergonhoso o "debate do ponto final", também historiadores alemães têm manifestado compreensão pelas exigências de ressarcimento, 70 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial. É equivocada a acusação da Alemanha de que Atenas só está colocando o assunto em pauta agora, em meio à discussão sobre a falência estatal, dizem os especialistas. Já em 1995 o governo grego comunicara ao Ministério alemão do Exterior que não abriria mão de seu direito a indenizações e reparações. Declarações recentes do atual presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, demonstram até que ponto o conflito verbal entre Atenas e Berlim começa também a prejudicar a União Europeia como um todo. Em entrevista ao jornal Süddeutsche Zeitung, ele falou numa "situação idiota", advertindo os Estados da UE sobre o perigo de acidentalmente jogarem a superendividada Grécia para fora da zona do euro. Já houve muitos mal-entendidos, acidentes e telefonemas estúpidos na história europeia, comentou Tusk. Autor: Volker Wagener (av)Edição: Luisa Frey
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