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Visita de Steinmeier a Dilma confirma interesses recíprocos

16:20 | 14/02/2015
Sem pressão de tempo, a conversa bilateral abordou desde a crise da Ucrânia até temas de economia. Parceria estratégica é importante para Brasil e Alemanha, em tempos de redefinição política na América Latina e no mundo. O ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, entra apressado no Palácio do Planalto, em Brasília, por uma porta lateral e 19 minutos atrasado. A presidente Dilma Rousseff deixou o convidado chegar mais tarde: o encontro com ela foi marcado em cima da hora, e é obviamente uma deferência. Pois, enquanto ministro, Steinmeier não pertence ao mesmo escalão de Dilma. Por isso não há uma coletiva de imprensa conjunta, e até durante as saudações apenas os fotógrafos têm permissão de permanecer por alguns minutos os homens, só de gravata. Mas a partir daí, a chefe de Estado do quinto maior país do mundo não mostra pressa, A conversa dura mais de 80 minutos, com a inesperada presença do chanceler brasileiro, Mauro Vieira, que não estava programada. De improviso, Dilma também joga para o alto a locação planejada, transferindo o encontro, do salão representativo, com bandeiras alemãs e brasileiras, para uma sala de conferências menor. A presidente parece abatida: o escândalo de corrupção em torno da semiestatal Petrobras não a deixa incólume em mais de um sentido. Interesse mútuo intenso Diz-se que Dilma Rousseff tem pouco interesse pela política externa. O Itamaraty está tão mal equipado que algumas embaixadas nem sabem como pagar suas contas. Porém, como fica claro nessa manhã de sexta-feira (13/02), as relações teuto-brasileiras são importantes para ambos os lados. A parceria estratégica com o Brasil é a única mantida pela Alemanha na América Latina. E no momento os dois Estados precisam de aliados. A Alemanha, em seu difícil número de equilibrismo, como novo peso-pesado da política mundial, no conflito com a Rússia, entre outros focos. O Brasil precisa reavivar sua economia em estagnação e enfrentar o problema da inflação crescente. Assim, não é por acaso que, após a conversa, integrantes da delegação comentem que a presidente mostrou grande interesse na situação na Europa ou seja, na crise da Ucrânia. E Steinmeier, por sua vez, tem uma mensagem sobre o tema "economia", na posterior coletiva de imprensa com seu homólogo brasileiro: também nas situações difíceis, não se deixam sozinhos os parceiros. Sem dúvida, o Brasil pode escolher os seus parceiros, num momento em que a Rússia e a China buscam intensamente ampliar suas esferas de influência na América Latina. Porém em tempos de queda de preços de matérias primas, o país não precisa apenas de investimentos, mas, acima de tudo, de um impulso de tecnologia e inovação. Além disso, as vivências com a Venezuela, um parceiro cada vez mais exigente, aparentemente fizeram os brasileiros ficar cautelosos. O estado de coisas no país vizinho em crise foi igualmente tema das conversas bilaterais. Nos últimos anos, o Brasil tem se posicionado como defensor de uma abordagem multilateral na política mundial, e nesse ponto encontrou na Alemanha um parceiro em sintonia entre outros assuntos, na discussão sobre uma ampliação do Conselho de Segurança da ONU. Brasil, parceiro latino-americano disputado Assim, são muitas as perspectivas comuns, havendo, portanto, bons motivos para que se cultive a parceria estratégica. Nos últimos anos, Berlim tem tomado a dianteira nesse aspecto, pois as visitas alemãs de alto escalão ao Brasil foram mais numerosas do que no sentido inverso. As próximas consultas governamentais, marcadas para agosto, também se realizarão em solo brasileiro. O país é um parceiro disputado, num continente em que as relações de forças estão em vias de se redefinir, e num mundo em que as velhas oposições ameaçam voltar a eclodir. "Apenas juntos poderemos enfrentar com eficácia as crises internacionais e os desafios globais", declarara Steinmeier antes de sua viagem. As atuais circunstâncias mundiais forçam o ministro alemão do Exterior a uma maratona: depois que seu giro pela América Latina teve que ser abreviado devido à crise na Ucrânia, só sobrou uma manhã para conversas intensivas com Dilma, o chanceler Vieira e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa. No mesmo dia, ele seguiu para o Peru e depois para a Colômbia, antes de voltar às crises europeias. Contudo, entre amigos, o que conta é o gesto. Assim, ninguém levou Steinmeier realmente a mal, quando em Brasília ele lembrou mais uma vez a fragorosa derrota dos anfitriões pela seleção alemã, na última Copa do Mundo. Pelo menos, fez a ressalva que, considerado a longo prazo, o Brasil continua em vantagem, no que tange ao futebol. Autor: Uta Thofern (av)
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