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Termelétricas pesam no bolso do consumidor brasileiro

18:21 | 05/02/2015
Usinas altamente poluentes que deveriam ser acionadas apenas em caso de emergência se tornaram fundamentais para suprir a demanda energética no Brasil. Custo de geração alto faz conta de luz aumentar. Com a crise hídrica e o aumento do consumo de energia, as termelétricas brasileiras vêm operando continuamente nos últimos anos. O que deveria ser uma solução emergencial e temporária acabou se tornando essencial. O peso da geração térmica no setor elétrico praticamente sextuplicou nos últimos quatro anos. Em 2011, as termelétricas geraram 4,5% da energia consumida no país, saltando para 16,3% em 2013 e 30,13% em 2014. "A participação das termelétricas na matriz energética brasileira nos últimos anos cresceu exponencialmente", diz André Nahur, coordenador de mudanças climáticas e energia do WWF-Brasil. "O que era considerado uma energia de suporte, hoje está se tornando uma energia de base, para aguentar a queda dos reservatórios em decorrência das mudanças climáticas, uso do solo e mau planejamento da matriz." A geração térmica, porém, é muito mais cara que a hidrelétrica ou eólica. Enquanto, o megawatt-hora (MWh) das usinas eólicas e hidrelétricas custa em torno de 100 reais, nas termelétricas, esse valor pode ultrapassar os 800 reais. E a partir deste ano, o custo da geração térmica será repassado às tarifas de energia elétrica. Reajuste de até 50% "O custo do uso das termelétricas foi acumulado em 2014, pois o governo em um ano eleitoral não quis repassar esse valor às tarifas. Agora, duas contas devem ser pagas: a atual e a do ano passado", diz o físico Ennio Peres da Silva, do Instituto de Física Gleb Wataghin, da Unicamp. O especialista estima que a tarifa de energia vá aumentar entre 25% e 50% neste ano. A estiagem prolongada, que diminui o volume de reservatórios, o atraso em obras de futuras usinas hidrelétricas e linhas de transmissão e o aumento do consumo são os principais fatores que impulsionaram o acionamento das termelétricas, aponta Silva. Nesta semana, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou que fará uma revisão dos valores do sistema de bandeiras tarifárias, que repassa ao consumidor os altos custos de geração de energia causados pelo acionamento das termelétricas, por exemplo. O sistema entrou em vigor em janeiro e usa cores para avisar os consumidores de que a energia naquele mês está mais cara. Com o maior acionamento de termelétricas, a atual bandeira é a vermelha, que acrescenta três reais à tarifa para cada cem quilowatts-hora consumidos. Com a revisão do sistema, esse valor deve subir, mas a Aneel ainda não informou o valor do reajuste. Nesta quinta-feira (05/02), o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, disse que ele deverá ser menor que 50%. Poluição em alta Além do custo, o nível extremamente alto de poluição é outro aspecto negativo das termelétricas. "De 1990 a 2012, as emissões brasileiras no setor de energia aumentaram 126%. Isso ocorre, principalmente, devido à participação cada vez maior das termelétricas na matriz energética", afirma Nahur. O coordenador da WWF-Brasil reforça que essas usinas também requerem um volume muito grande de água para operar, pois suas turbinas funcionam com o vapor de água. "Num cenário de impacto das mudanças climáticas e alta demanda de água para consumo humano em grandes centros urbanos, ter um setor que vai consumir mais água como solução é gerar outro problema", diz. Silva afirma que faltam análises amplas sobre o efeito das termelétricas aobre o meio ambiente no Brasil. Apesar de o impacto das usinas ser pouco visível e imediato, poluentes lançados no ar podem prejudicar a saúde, causando problemas respiratórios, por exemplo, aponta o especialista. Autor: Clarissa NeherEdição: Luisa Frey
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