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Richard von Weizsäcker, o presidente que deu brilho à política alemã

17:56 | 02/02/2015
Defensor apaixonado da democracia e da liberdade, Richard von Weizsäcker marcou como poucos o cargo de líder da Alemanha, que ocupou entre 1984 e 1994. Diplomacia lhe rendeu prestígio entre a população. Isso nunca tinha acontecido: pessoas de todos os lugares da Alemanha lotando lojas de discos e livrarias para comprar um discurso comemorativo. Um discurso que não pode ser simplesmente lido, mas que deve ser escutado. A principal fala do ex-presidente da República Federal da Alemanha Richard von Weizsäcker foi proferida diante do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) por ocasião dos 40° aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, em 8 de maio de 1985. Foi um balanço crítico e bastante atual da capitulação alemã, o qual chamou atenção e ganhou reconhecimento também no exterior. "Para nós alemães, o 8 de maio não é um dia de celebração", disse Von Weizsäcker em seu memorável discurso. "As pessoas que o vivenciaram de forma consciente olham, em retrospecto, para experiências bastante pessoais e, assim, bem diferentes. Uns voltaram para casa, outros ficaram sem pátria. Para uns, veio a liberdade; para outros, o cárcere." Segundo Von Weizsäcker, alguns alemães teriam se deparado com ilusões despedaçadas, enquanto outros ficaram gratos pela possibilidade do recomeço. Von Weizsäcker resumiu em palavras a história vivida também a sua pessoal. Na ocasião, fazia somente um ano que o ex-prefeito de Berlim havia se tornado o sexto presidente da República Federal da Alemanha. Marcado pelo nazismo e pelo fim da guerra A base para a carreira do político foi estabelecida já na sua infância. Nascido em 15 de abril de 1920 em Stuttgart, Richard Freiherr von Weizsäcker cresceu numa família de diplomatas. Entre 1938 e 1943, o pai, Ernst von Weizsäcker, foi secretário adjunto no Ministério do Exterior de Hitler. Depois, até o fim da guerra, foi diplomata na Santa Sé. Após uma educação excelente em vários países da Europa, Richard von Weizsäcker prestou serviço militar por último como capitão da Wehrmacht (Forças Armadas do Terceiro Reich). Após a guerra, ele estudou Direito e trabalhou como assistente para um advogado que defendeu o seu pai nos julgamentos de crimes de guerra em Nurembergue. Ernst von Weizsäcker foi condenado a sete anos de prisão. O filho foi marcado pela crueldade e pela rápida queda do regime nazista. Foram essas vivências que se refletiram em seu célebre discurso e que, em meados da década de 1980, falaram por muitos alemães. "O 8 de maio foi um dia de libertação." Principalmente por essa frase do discurso comemorativo de 1985, recordando o fim da Segunda Guerra Mundial, Von Weizsäcker é lembrado até hoje. Para muitos, essa libertação significou o início do sofrimento, prosseguiu. Mas os alemães, acrescentou Von Weizsäcker, não devem ver o fim da guerra como motivo de medo, expatriação e falta de liberdade isso se aplicaria muito mais ao início do conflito. Reconciliação com o Leste Europeu e Israel Em seus dez anos de mandato, Von Weizsäcker estabeleceu como principal objetivo a reconciliação com o Leste Europeu e Israel. Ele estava convencido de que não eram o esquecimento e a sublimação que proporcionariam uma oportunidade para o recomeço, mas a lembrança e a reflexão. Durante seu mandato, aconteceu finalmente a reunificação alemã: Helmut Kohl foi festejado como o "chanceler federal da unidade". Em contrapartida, Von Weizsäcker manteve-se em segundo plano. Ao contrário de muitos outros, ele achou melhor observar com cautela a aproximação dos Estados divididos. Após o final de seu mandato presidencial, em 1994, Von Weizsäcker continuou a ser um procurado consultor dentro e fora da Alemanha, assim como um defensor apaixonado da democracia e da liberdade. Algumas vezes, ele não poupou até mesmo os seus amigos correligionários da União Democrata Cristã. No entusiasmado intercâmbio com intelectuais, artistas e empresários, Von Weizsäcker conferiu um pouco de brilho à política alemã. Mas ele não foi nenhum presidente próximo do povo, nenhum cantor amador ou adepto de caminhadas, como seus antecessores Walter Scheel e Karl Carstens. E ele também não foi nenhum pensador jocoso, como seu sucessor Roman Herzog. Ele foi muito mais um protótipo de representante sério e letrado, que por meio de sua pessoa, sua história e, principalmente, sua forma diplomática ganhou reconhecimento também entre a população. Até a sua morte, no último sábado (31/01), Von Weizsäcker continuou sendo uma importante instância moral. Autor: Alexander Freund (ca)Edição: Luisa Frey
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