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Livres do "Estado Islâmico", moradores retomam a vida em Kobane

11:58 | 26/02/2015
Depois que as forças curdas expulsaram as milícias do "Estado Islâmico" da cidade síria de Kobane, os moradores começam a voltar para reconstruir a cidade e ajudar a defendê-la nem que seja distribuindo pão. Todos os dias, Kaban subia o morro de Mashteh. De lá, ele tinha uma vista panorâmica de Kobane, na Síria. Há cinco meses ele e sua família se refugiaram na cidade de Suruç, do lado turco da fronteira. Muitas outras famílias com medo das milícias do "Estado Islâmico" (EI) seguiram o mesmo caminho. Mas as preocupações sempre estiveram em Kobane. Logo depois que soube da notícia de que os combatentes curdos haviam expulsado os jihadistas e retomado o controle da cidade, Kaban voltou sozinho. Queria ver o que tinha acontecido com sua casa e seu restaurante. Depois perguntou se a família queria voltar com ele. Todos disseram que sim. "Acabamos de voltar à vida normal, apesar dos danos causados à minha casa e da destruição do meu restaurante, disse Kaban à DW, aparentando estar feliz. Não apenas o bairro de Kaban, mas a maioria das ruas e regiões da cidade foi danificada. "Kobane tem cerca de sete quilômetros quadrados de área, e 70% dela foram destruídos, sendo que 40% completamente principalmente na parte sudeste da cidade", estima o presidente do Conselho Executivo Municipal, Anwar Muslim. Ele lembra que 27 veículos cheios de explosivos e mais de 110 morteiros foram usados pelos jihadistas, "e sempre aconteciam atentados suicidas." Muslim criticou o fato de a cidade ainda não ter recebido qualquer ajuda financeira para a reconstrução. Padaria de emergência A vidade volta lentamente à rotina, graças ao pragmatismo de seus moradores. O EI destruiu a fábrica de pães da cidade logo no início dos confrontos, mas os padeiros não se deixaram abalar. Para atender à demanda de combatentes e civis, uma nova padaria foi rapidamente improvisada em um local seguro. Lá eles fazem pão e o distribuem gratuitamente entre os moradores. "Nosso trabalho é uma forma de resistência. Quem empunha armas no campo de batalha precisa de pão. Nós todos defendemos Kobane", afirma Aziz Murad, que coordena a padaria de emergência. Seu colaborador Ali acaba de voltar da Turquia, sozinho, sem a família por convicção. "Quando decidi voltar, foi com a firme intenção de servir os cidadãos da minha cidade. Se for necessário, eu também vou pegar em armas." Todos os colaboradores da padaria conhecem Kobane muito bem. Durante os combates, eles distribuíam pão em locais protegidos, longe do fogo cruzado. Um veículo buscava comida e suprimentos para levar à frente de batalha. Agora eles também doam pão aos refugiados na fronteira com a Turquia. Médicos assustados O único hospital que restou na cidade tem pouco a oferecer aos pacientes. Mas todos os feridos recebem tratamento gratuito. Além disso, os médicos vão regularmente até os civis que ainda vivem em Kobane para prestar assistência. Uma delegação de médicos percorre diariamente as aldeias de Tell Shair e Marsamila, onde atendem refugiados. Eles distribuem medicamentos e examinam os doentes. Mohammed Aref Ali integra a equipe médica. Apesar do conflito, ele decidiu ficar na cidade. Foi a primeira vez que atuou como médico em uma guerra. "Quando ouço o barulho dos aviões e dos morteiros, tenho medo. Mas quando penso que a qualquer momento um civil ou um combatente pode estar ferido, eu esqueço o medo para atendê-los", disse Aref à DW. A agência governamental turca encarregada das situações de urgência (Afad) estima que 183 mil moradores de Kobane tenham fugido da cidade, mas os dados são desencontrados. Políticos curdos afirmam que 200 mil refugiados chegaram à Turquia desde 16 de setembro do ano passado. Estima-se que 25 mil pessoas tenha retornado a Kobane. Mas o número exato, ninguém conhece. A única certeza é que vai levar anos, talvez décadas, até que a vida dos antigos 100 mil habitantes de Kobane volte à normalidade. Autor: Kamal Sheikho (mp)Edição: Francis França
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