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Cachorros reconhecem expressões faciais

09:16 | 18/02/2015
Estudo mostra que cães conseguem diferenciar um rosto alegre de um zangado. Em entrevista à DW, o pesquisador Ludwig Huber fala sobre a dificuldade de se comprovar que os animais compreendem as emoções. Cachorros acostumados com seres humanos são capazes de reconhecer diferentes expressões faciais. Isso não acontece apenas com rostos de conhecidos, mas também com os de estranhos. Entretanto, ainda não se sabe ao certo se o melhor amigo do homem consegue compreender o significado das expressões. Um grupo de pesquisadores da Universidade de Medicina Veterinária, em Viena, publicou recentemente um estudo sobre o assunto na revista científica Current Biology. A DW conversou com o diretor do departamento de pesquisa cognitiva, Ludwig Huber, sobre o experimento realizado com cachorros. DW: Professor Huber, um estudo do seu instituto mostrou que os cães podem reconhecer expressões faciais humanas. De certo, a maioria dos donos confirmaria isso com base na própria experiência. Por que, então, é tão difícil fundamentar cientificamente a comunicação por gestos? Ludwig Huber: Donos ou simpatizantes de cães percebem muita coisa. Mas permanece a questão sobre o que exatamente os cachorros conseguem compreender a partir da comunicação com as pessoas. Nós nos comunicamos por vários canais e usando vários sentidos, e os cachorros também o fazem. Cães sentem cheiro e ouvem especialmente bem, mas não enxergam tão bem. Pode ser que eles não percebam o estado de espírito das pessoas visualmente, mas de outra forma. O experimento é, portanto, um meio para separar os vários fatores de influência uns dos outros ou para controlá-los, de modo a analisar cada parâmetro separadamente. Queríamos saber se, usando apenas a visão, os cães são capazes de compreender expressões faciais. O primeiro passo foi mostrar que os animais conseguem distinguir os diferentes estados de espírito das pessoas. Usamos imagens estáticas para excluir outros fatores, como cheiro e movimentos. Os cães conheciam os rostos das pessoas que foram reproduzidos? Não. Os rostos vieram de bancos de dados de laboratórios de psicologia humana e mostram de forma fidedigna as emoções das pessoas. Os cães deveriam aprender a distinguir as expressões faciais. No treinamento, lhes eram apresentadas sempre duas imagens da mesma pessoa: uma expressão facial era alegre, e a outra, zangada. Foram usados rostos de 15 pessoas. A tarefa dos cães era aprender, através de tentativa e erro, diante de qual expressão eles receberiam comida. Para metade dos cães, associamos expressões faciais alegres à comida. Para a outra metade, expressões zangadas. Os cães deveriam tocar com o focinho os respectivos rostos numa tela, e aí ganhariam comida. Os animais tinham que descobrir qual expressão facial lhes dava comida e quase todos conseguiram. O objetivo não era, portanto, que os cães avaliassem o significado das expressões, ou seja, as alegres como algo bom e as zangadas como algo ruim? Os cães não deveriam avaliar. Para a nossa surpresa, entretanto, descobrimos que eles não solucionaram as tarefas de forma totalmente neutra. Os cães que deveriam tocar os rostos alegres tiveram mais facilidade. Já os cães que deveriam tocar os rostos zangados, demoraram quase três vezes mais para solucionar a atividade. Apesar de a tarefa ser a mesma: os mesmos rostos e as mesmas informações. Para nós, isso é uma prova indireta de que os cães realmente percebem e interpretam emoções nos rostos. Os cães já haviam sido fortemente influenciados pela interação com as pessoas? Eram cães totalmente normais, de famílias da região de Viena. Eles estavam felizes e colaboraram durante os testes. Eram cachorros de várias raças e idades e de ambos os sexos. Os rostos usados no teste estavam parcialmente cobertos, na região dos olhos ou da boca. Por quê? Metade dos cães foi treinada com a parte inferior do rosto, e a outra, com a parte superior. Queríamos ter certeza de que os animais não estavam memorizando somente as características específicas da foto, como manchas coloridas, sem compreender os rostos ou emoções. Num estudo japonês, feito anteriormente, em que o rosto todo podia ser visto, as bocas de todos os rostos alegres estavam abertas e podia se ver uma faixa branca. Em todos os rostos com expressões zangadas, as bocas estavam fechadas e não se via a tal faixa branca. Dessa forma, um cão poderia se sair bem no treino e no teste identificando apenas "a faixa branca horizontal", ou seja, os dentes. Mas não queríamos saber se os cães podem ou não usar características perceptíveis, mas se eles podem usar expressões faciais como recurso. Os cães tiveram contato não somente com rostos novos e parcialmente cobertos, mas, na tarefa mais difícil, também com novos rostos com outras partes expostas. Animais que haviam sido treinados apenas com a região da boca tinham agora que lidar com rostos alegres ou zangados dos quais podiam ver somente a região dos olhos. A explicação é que os cães se lembram de rostos inteiros do seu cotidiano, sejam eles alegres ou zangados. Quando veem apenas as bocas, usam a memória para completar o resto do rosto. Mas eles só conseguem fazê-lo se já souberem alguma coisa sobre o rosto e sobre expressões faciais. Mas isso não significa necessariamente que os cães interpretam as expressões faciais como emoções. Supomos que eles compreendam o significado das emoções, mas o experimento não comprovou isso. Então, outro teste deveria ser feito com filhotes, que ainda não foram influenciados por seres humanos... Nesse tipo de experimento, filhotes são pouco confiáveis e agitados demais. Mas mesmo que testássemos cães adultos que nunca tivessem visto pessoas, seria difícil. Seria preciso realizar o treino e o teste com eles. Ou seja, não podemos descartar uma experiência com rostos humanos. Autor: Fabian Schmidt (mp)Edição: Luisa Frey
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