PUBLICIDADE
Notícias

Ao aterrorizar cristãos, EI tenta fomentar "guerra" ao Ocidente

14:25 | 27/02/2015
Além de propaganda, "Estado Islâmico" busca incitar ódio religioso para criar instabilidade nos países onde atua. Tática também pode elevar islamofobia na Europa, o que cria terreno fértil para radicalização de jovens. Ainda não se sabe o que "Estado Islâmico" (EI) fará com os cerca de 220 cristãos raptados de vilarejos no norte da Síria nos últimos dias. Uma das possibilidades é que eles sejam trocados por jihadistas presos. Outra é que tenham o mesmo destino de outros reféns, e morram de forma brutal nsa mãos da organização terrorista. O EI poderá demonstrar mais uma vez que declarou guerra aos cristãos e ao cristianismo em todo o mundo. O significado disso foi vivenciado, recentemente, por 21 cristãos coptas. Eles foram raptados pelos jihadistas na Líbia e, pouco depois, decapitados diante das câmeras. Para os jihadistas, decapitações são apenas o prelúdio de uma luta maior que, atualmente, é travada ao sul do Mediterrâneo, mas ameaça eclodir a qualquer momento também mais ao norte. "Vamos conquistar Roma", disse um dos carrascos encapuzados numa praia da Líbia, com a faca na mão, apontando para a Europa. "Muçulmanos governados por muçulmanos" A declaração não foi gratuita. No segundo semestre de 2014, o EI divulgou a quarta edição de sua revista Daqib. O nome alude a uma cidade no norte da Síria, que é mencionada na Hadith a narrativa dos atos do profeta que, junto ao Alcorão, forma a base da "sharia", a lei islâmica. De acordo com a tradição, pouco antes do fim do mundo, ali serão travadas batalhas decisivas entre muçulmanos e cristãos. Para a quarta edição de sua revista, os redatores escolheram uma capa marcante: ela mostra uma bandeira negra jihadista tremulando sobre a Praça de São Pedro, no Vaticano. Em dezembro, o líder do EI, Abu-Bakr al-Baghdadi, declarou que sua organização quer conquistar Roma com "a bênção de Alá". A justificativa religiosa para a empreitada anticristã foi apresentada já em 2007 pela organização antecessora do EI, o "Estado Islâmico do Iraque" (EII). Na época, o EII divulgou a sua carta de fundação. Ela tinha o título Notificação aos fiéis sobre a criação do Estado Islâmico. Baseando-se num provérbio do profeta Maomé, os autores explicam que os muçulmanos deveriam ser governados por muçulmanos. Se três seguidores do islã vivem num lugar, eles devem nomear um comandante, diz a carta. Além disso, para a salvação dos muçulmanos, seria imperativo viver numa região em que fosse aplicada a sharia. Como os textos canônicos não fazem menção ao tamanho da área ocupada pelos sunitas, não há limites para ela. Ou seja: os extremistas reivindicam para si o mundo - ou qualquer lugar onde esteja um muçulmano. O território islâmico, diz o texto, deve crescer como nos primórdios da religião. E essa região conquistada será considerada automaticamente território do califado. A expansão acontece com base em três princípios: nikayah (terrorismo e destruição); tawwahush (brutalidade impiedosa) e tamkin (estabelecimento do califado). Círculo fatal Segundo o historiador irano-americano Hamid Dabashi, com os ataques direcionados contra cristãos, o EI persegue quatro objetivos. Primeiramente: os cristãos estão entre as populações mais antigas do Oriente Médio. Como tal, eles são um dos símbolos mais visíveis da diversidade multicultural e multiconfessional da região, o que o EI pretende destruir. Em segundo lugar, os ataques direcionados contra minorias como os cristãos, xiitas e yazidis têm como objetivo incitar os grupos religiosos uns contra os outros e, dessa forma, minar a estabilidade interna dos diferentes países. O terceiro objetivo se aplica aos ataques das potenciais ocidentais União Europeia (UE) e EUA. O EI quer que os ataques provoquem intervenções, o que contribuiria para dar uma plausibilidade aparente à afirmação do EI de que o islã se encontra em guerra com o resto do mundo. Por outro lado, o Ocidente tende a interpretar os ataques contra os cristãos como um ataque contra si mesmo. Neste caso, explica Dabashi, é ignorado o fato de que a maioria das vítimas da organização terrorista é formada por cristãos árabes. Em quarto lugar, continua Dabashi, os ataques contra as minorias religiosas seriam uma tentativa de restaurar a aura de invencibilidade, que foi bastante abalada com a derrota em Kobane. Isso também ajuda a manter o EI presente na mídia ocidental. Seria possível ainda acrescentar que, no Ocidente, há o perigo de que os atos terroristas contra os cristãos possam vir a aumentar a islamofobia. Isso poderia fazer, por sua vez, com que alguns muçulmanos venham a se radicalizar e a se mostrar abertos ao ideário jihadista. Isso daria início a um círculo fatal, que se fortaleceria cada vez mais pela interação entre ação e reação pelo menos até o ponto em que a estratégia do EI seja desmantelada. Autor: Kersten Knipp (ca)Edição: Rafael Plaisant
TAGS