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Presidente argentina pede reformulação dos serviços de inteligência

15:10 | 27/01/2015
A presidente argentina Cristina Kirchner pediu ao Congresso, na noite de segunda-feira, que dissolva os serviços de inteligência do país após a misteriosa morte do promotor Alberto Nisman. Em discurso transmitido para todo o país, ela negou a acusação do promotor de que teria tentado proteger ex-funcionários iranianos suspeitos do ataque a uma organização judaica, em 1994.

Cristina não disse quem pode ter matado Nisman, mas em cartas recentes, postadas em redes sociais, ela dá a entender que falsos agentes de inteligência podem ter orquestrado a morte do promotor, numa atitude de conspiração contra seu governo.

O discurso marcou a primeira vez que ela falou sobre o assunto, desde que o corpo de Nisman foi encontrado, horas antes de testemunhar ao Congresso sobre as acusações.

Ela não deu detalhes sobre o suposto complô no interior das agências de inteligência, que são supervisionadas por ela. O discurso foi alvo de críticas de partidos de oposição e líderes da comunidade judaica.

"O Departamento de Inteligência não vai mudar com a modificação de seu nome", declarou o prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, possível candidato à eleição presidencial de outubro. Segundo ele, o discurso de Cristina não fez nada para esclarecer o que aconteceu com Nisman.

A presidente declarou que entregará sua proposta para uma nova agência de espionagem até o final da semana. Ela lembrou que a estrutura do serviço de inteligência permaneceu praticamente a mesma quando o país retomou a democracia em 1983, após anos de uma brutal ditadura militar.

Embora autoridades do governo tenham considerado as acusações de Nisman como absurdas, o discurso de segunda-feira foi a primeira vez que a presidente tratou deles diretamente. "É razoável pensar que nosso governo poderia até ser suspeito de tal manobra", disse Cristina, que falou sentada numa cadeira de rodas, em razão de uma fratura no tornozelo.

Nisman, de 51 anos, foi encontrado morto no dia 18 de janeiro no banheiro de seu apartamento, com uma bala na têmpora direita. Uma arma calibre 22 foi encontrada próxima a ele. A morte aconteceu dias depois de ele ter entregue a um juiz um relatório segundo o qual Cristina havia fechado, secretamente, um acordo para impedir que ex-funcionários do governo iraniano fossem acusados de envolvimento no ataque à Associação Mutual Israelita Argentina (Amia) , que deixou 85 mortos.

O acordo teria sido fechado em troca de benefícios econômicos e comerciais com o Irã. O governo iraniano negou a acusação.

A morte de Nisman deu início a uma séria protestos contra o governo e a um grande número de teorias da conspiração, que vão de suicídio ao envolvimento de agentes da inteligência iranianos.

Com aparência descansada e calma, Cristina começou o discurso com uma defesa dos esforços de seu governo para resolver o caso, mas lamentou que mais de 20 anos depois ninguém tenha sido condenado.

Ela lembrou que Néstor Kircher, seu antecessor e marido, havia indicado Nisman para o caso após anos de paralisia nas investigações.

A presidente afirmou que um memorando de entendimento com o Irã, que foi bastante criticado no país, teve como objetivo obter a cooperação de Teerã para finalmente buscar a justiça no caso do ataque.

Cristina disse que apenas algumas pessoas no governo teriam acesso aos líderes na nova agência federal de inteligência, numa aparente crítica ao atual sistema, no qual muitos no Congresso têm contato com agentes de inteligência.

Nas duas cartas publicadas na semana passada, a presidente deu a entender que a morte de Nisman foi um complô contra seu governo, possivelmente orquestrado pelos serviços de inteligência, que teriam passado informações falsas ao promotor. Fonte: Associated Press.

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