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Vacina brasileira contra a dengue entra em nova fase de testes

11:06 | Dez. 05, 2014
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Método desenvolvido pela Fiocruz combina duas técnicas de imunização. Primeiros resultados de testes em camundongos mostraram eficácia de 100%. Em 2015, começam os testes em macacos. Após resultados iniciais promissores, começa em 2015 a nova fase de testes da vacina brasileira contra a dengue, desenvolvida no Instituto Oswaldo Cruz. Diferente de outras vacinas pesquisadas para a doença, o método brasileiro inova ao combinar duas técnicas de imunização. Para aumentar a eficácia de proteção, pesquisadores brasileiros uniram a técnica conhecida como vacina de DNA com o uso do vírus da febre amarela. Na técnica vacina de DNA, determinados genes do vírus da dengue são inseridos em moléculas chamadas plasmídeos. Quando aplicada em indivíduos, essa molécula produz proteínas do agente infeccioso, estimulando o sistema imunológico a combatê-lo. A técnica do vírus quimérico da febre amarela, por sua vez, estimula a produção de anticorpos através de um vírus atenuado e modificado, que não causa a doença. No caso da vacina brasileira, alguns genes do vírus da febre amarela foram substituídos pelos da dengue. Esse método foi desenvolvido no Instituto Bio-Manguinhos, que também faz parte da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Testadas isoladas, as duas abordagens não apresentaram resultado totalmente satisfatório. "Mas ao juntarmos as duas estratégias, os animais ficaram completamente protegidos, não apresentaram nenhum sintoma da doença. A abordagem é pioneira, pois essa combinação de técnicas nunca havia sido testada", conta a bióloga Ada Alves, coordenadora do estudo. Proteger contra os quatro sorotipos O grande desafio para o desenvolvimento de uma vacina da dengue são as variações do vírus, que possuiu quatro sorotipos. Geralmente, a segunda vez que um indivíduo é infectado pelo vírus, o curso da doença tende a ser mais severo do que em pessoas sem qualquer imunidade. Por isso, a vacina da dengue precisa proteger igualmente contra todas as variações do vírus. "Uma vacina que não proteja contra todos os sorotipos pode simular uma primeira infecção. Ao ser infectado com um sorotipo diferente do qual está protegido, a pessoa pode vir a desenvolver uma dengue mais grave", afirma Alves. Atualmente, a vacina da dengue que está na fase de testes mais avançada é a desenvolvida pela farmacêutica francesa Sanofi Pasteur. Os resultados dos últimos testes antes de ser lançada no mercado, no entanto, não apresentaram uma eficácia totalmente satisfatória. "Ela não protege de maneira igual contra os quatro sorotipos da dengue, e isso é problemático", conta o virologista Jonas Schmidt-Chanasit, do Instituto Bernhard-Nocht para Medicina Tropical, em Hamburgo. Além disso, a quantidade de doses e o longo intervalo de aplicação três doses tomadas, uma a cada seis meses também são controversos, pois deixam pessoas vulneráveis ao vírus durante um longo período. "É necessário um ano e meio até o indivíduo ficar completamente protegido. Isso é um problema em regiões endêmicas, como o Brasil", diz Alves. Em 2013 foram registrados aproximadamente 2 milhões de casos de dengue no país. Vacina tetravalente O método duplo desenvolvido pela Fiocruz possibilita a redução no número de doses e no intervalo entre elas. A vacina também deve proteger contra todas as variações do vírus. Os testes com o sorotipo 2 começam a ser realizado em macacos no próximo ano, e em paralelo, serão realizados testes em camundongos com os outros três tipos. A expectativa é de que os testes clínicos da vacina tetravalente em humanos comecem em cinco anos. Schmidt-Chanasit acrescenta, porém, que, apesar dos primeiros resultados promissores, é preciso cautela para falar sobre o sucesso da vacina e fazer prognósticos. "A abordagem brasileira é muito interessante, mas ainda está numa fase muito inicial. Os testes iniciais da Sanofi Pasteur pareciam ser promissores, mas a agora, na fase final, a proteção da vacina não foi a esperada", diz o virologista. Autor: Clarissa NeherEdição: Francis França

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