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Cinco décadas de tensões Cuba-EUA sobreviveram até à Guerra Fria

18:57 | Dez. 17, 2014
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Tipo Notícia
Fruto do cabo de guerra ideológico entre americanos e soviéticos, a hostilidade entre EUA e Cuba fez como principal vítima o povo cubano. Agora parece estar com os dias contados. Caso concretize os anúncios de normalização das relações entre seu país e Cuba, Barack Obama entrará para a história como o presidente dos Estados Unidos que finalmente deu fim a cinco décadas de um capítulo deplorável até mesmo grotesco da história da política mundial. Até lá, porém, o democrata certamente terá que enfrentar os protestos e a resistência de numerosos políticos e da influente comunidade dos cubanos exilados em seu país. "Quintal dos EUA" Da virada do século até a Revolução Cubana, em 1959, as relações entre Washington e Havana eram basicamente amigáveis. Até demais: observadores críticos chegavam a denominar o país insular de "quintal dos Estados Unidos". Em meados da década de 20, companhias americanas possuíam 60% da indústria açucareira, e o país importava 95% de toda a produção agrícola cubana. Essa cooperação de características colonialistas se intensificou com a ascensão ao poder do general Fulgencio Batista, presidente por dois mandatos e líder "de fato" de Cuba desde os anos 1930 até sua derrubada pelos rebeldes liderados por Fidel Castro, em 1º de janeiro de 1959. Apesar de todo o apoio anterior a Batista, os EUA prontamente reconheceram o novo governo revolucionário. Porém, em breve as relações bilaterais começam a deteriorar, à medida que Castro se orienta para a esquerda, paralelamente se aproximando do regime comunista da União Soviética, tanto na política como na economia. Protagonistas da Guerra Fria Em meados de 1960, Cuba estatiza as refinarias de petróleo americanas, e em outubro quase todas as firmas dos EUA no país foram expropriadas. Em reação, Washington inicia um embargo econômico, interditando todas as exportações para a ilha caribenha, exceto de gêneros alimentícios e medicamentos. Em janeiro seguinte, os EUA cortam relações diplomáticas e fecham sua embaixada em Havana. Três meses mais tarde, Fidel Castro declara Cuba um Estado socialista. Tendo tido como meta derrubar o líder cubano, a fracassada tentativa de invasão da Baía dos Porcos, em 17 de abril de 1961, por 1.500 exilados cubanos treinados pela CIA, aprofunda o estranhamento entre as duas nações. Mais tarde, uma comissão do Senado dos EUA confirmará menos oito complôs americanos para assassinar Castro, entre 1960 e 1965. Em 1962, o presidente John F. Kennedy amplia as sanções, proibindo praticamente todo comércio com Cuba. Até o colapso da União Soviética, no fim de 1991, os dois países se destacam como protagonistas e perpetuadores de hostilidades na chamada Guerra Fria. Nesse cabo de guerra ideológico, com as sucessivas administrações americanas alegando pressionar pela democratização em Havana, a população cubana é quem sai como grande perdedora: vítima tanto da inegável repressão política interna como dos efeitos dos embargos econômicos. Revés: o caso Gross A eleição do democrata Barack Obama como presidente dos EUA, em 2005; e a renúncia de Fidel em favor de seu irmão, Raúl Castro, três anos mais tarde, trouxeram perspectivas de uma normalização das relações bilaterais. O novo chefe de Estado cubano implementou diversas reformas econômicas, embora mantendo o sistema unipartidário. Entretanto, tais esperanças sofreram um sério revés em 3 de dezembro de 2009, quando o governo cubano prendeu o assistente social e especialista em desenvolvimento internacional Alan Gross. Como contratado da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), ele importara itens tecnológicos sem licença, com o fim de estabelecer um serviço de internet clandestino para os judeus cubanos. Por isso, foi acusado de "atos contra a independência ou integridade territorial" cubana e condenado a 15 anos de prisão. Fim do círculo vicioso? Nesta quarta-feira (17/10), o círculo vicioso das retaliações mútuas parece ter sido, por fim, quebrado, com a libertação de Gross "por motivos humanitários". Seu advogado e sua família o descrevem como mentalmente debilitado, macilento, coxo e tendo perdido cinco dentes. Atualmente com 65 anos, o especialista jurara que antes morreria a passar seu próximo aniversário no cárcere. O retorno de Gross aos Estados Unidos faz parte de uma iniciativa bilateral de troca de prisioneiros políticos. Segundo fontes de Washington, as negociações duraram cerca de um ano e envolveram também o Vaticano e o arcebispo cubano Jaime Ortega. Havana igualmente soltará um agente do serviço secreto americano, confinado há mais de 20 anos por espionagem. Em troca, os EUA libertam três agentes de Cuba, presos desde 1988 por monitorar instalações militares americanas e espionar grupos de exilados anticastristas na Flórida. Novas perspectivas Entre as medidas de Washington para a breve distensão cubano-americana está previsto o relaxamento do fluxo de comércio e transporte entre os países. Enquanto presidente, Obama tem até mesmo o poder de suspender unilateralmente o embargo contra Havana. Seu Departamento de Estado também deverá remover o Estado insular da lista de financiadores do terrorismo uma designação obsoleta, que acarreta sanções econômicas adicionais. Os entraves às viagens de cidadãos dos EUA para Cuba deverão ser minorados. Porém não é de se esperar, em contrapartida, uma política de portas abertas para os turistas americanos. AV/ap/rtr

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