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Vitória republicana ameaça levar Washington à paralisa política

12:31 | Nov. 06, 2014
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Domínio opositor no Congresso é recebido como "terremoto político" por democratas, que terão dois anos turbulentos para superar desconfiança de parte do eleitorado e tentar seguir na Casa Branca nas próximas eleições. Aconteceu bem do jeito que eu esperava, diz um taxista, enquanto apanha convidados em um evento democrata na Virginia, durante as eleições. Com o resultado da votação de terça-feira (06/11), porém, ele diz que não se importa O taxista faz parte do grande grupo de americanos que, segundo pesquisas, tem pouca confiança nos políticos, independentemente do partido. E que viram com certa indiferença a esmagadora vitória republicana nas eleições legislativas. Entretanto, analistas políticos e imprensa reagiram de forma bem diferente em Washington. Para eles, o sucesso dos republicanos é um sinal claro de que o cenário político dos Estados Unidos mudou drasticamente. "É um terremoto político", opina o especialista Michael Werz, do instituto Center for American Progress. Derrota surpreendente O presidente do American Council na Alemanha, William Drozdiak, classificou o resultado como uma "vitória poderosa" para os republicanos, destacando que eles não só conquistaram o Senado e expandiram a maioria que já tinham na Câmara, como também elegeram governadores nos estados-chave da Flórida, Michigan e Wisconsin. Como se isso não bastasse, o novo domínio republicano enfraqueceu significativamente a chance de os democratas ganharem a Presidência em 2016. Para Hillary Clinton, caso ela realmente decida se candidatar, a eleição pode estar próxima demais, diz Drozdiak. O Partido Democrata estava esperando um momento difícil nas eleições legislativas, já que há semanas as pesquisas apontavam para essa direção. Mas o resultado terrível surpreendeu não só a legenda do presidente Barack Obama, como também a cena política em Washington. Voto anti-Obama No entanto, segundo Werz, uma votação tão expressiva contra um presidente em exercício não é incomum nas eleições legislativas, especialmente no segundo mandato. Para analitas, o resultado seria um claro voto contra Obama, com os republicanos culpando-o por tudo o que há de errado nos EUA. Os republicanos foram muito eficazes em levar essa mensagem aos eleitores, diz Drozdiak. Em vez de deixá-los pensarem o que o Congresso vem fazendo de errado, os republicanos insistiam em dizer que é tudo culpa de Obama, e essa mensagem muito simples apareceu de forma clara." Na quarta-feira, o jornal New York Times chegou a sugerir que o baixo índice de aprovação de Obama em pesquisas nacionais e a derrota completa de seu partido significavam uma rejeição geral ao presidente e às suas políticas. Uma análise feita pelo Washington Post atribuiu a vitória republicana a uma onda de raiva e frustração com o presidente: "As pesquisas preliminares da eleição revelaram um eleitorado que ficou em grande parte frustrado devido ao impasse político em Washington, depois de dois anos em que o Legislativo fez muito pouco. Para Werz, os republicanos encontraram o sucesso com sua estratégia de invocar o terror na mente dos eleitores, concentrando-se no conflito na Síria, na ameaça do ebola e nos perigos da fronteira entre Estados Unidos e México. Entre o confronto e a cooperação Os republicanos têm chamado essa de uma vitória histórica na eleição e tomaram isso como um desafio para moldar o futuro rumo da política americana, mais ainda do que em épocas passadas. "Os eleitores estão famintos por uma nova liderança", disse o senador Mitch Mcconnell, líder da maioria republicana no Senado. Para Drozdiak, parece que um confronto com Obama é inevitável. "A probabilidade é de haver mais estagnação em Washington nos próximos dois anos", afirma. Já Werz, por outro lado, ressalta que o presidente ainda tem seus poderes executivos, com os quais ele pode promulgar ações relacionadas à mudança climática e política externa sem a aprovação do Congresso. Ele lembra que os republicanos, mesmo com uma minoria no Senado até então, usaram uma tática de bloqueio que levou a uma "polarização nunca vista antes". Isso é o que deve acontecer em Washington. Como exemplo, Drozdiak cita o senador Ted Cruz, que já pediu um embate contra a reforma na saúde feita pelo presidente, apelidada de Obamacare. Os republicanos também podem fazer o governo sofrer financeiramente, forçando uma redução na administração. Drozdiak não descarta uma paralisação, semelhante ao impasse que ocorreu no ano passado com o Obamacare. As negociações sobre o aumento do limite da dívida estão por vir, e os republicanos poderiam usá-las para iniciar o bloqueio. Política externa estável Apesar do conflito, é possível perceber gestos conciliatórios dos dois lados. Na sexta-feira (31/10), Obama convidou representantes republicanos à Casa Branca para conversações. E nas entrevistas que antecederam a eleição, o senador McConnell havia indicado a vontade de cooperar uma aproximação que poderia funcionar em assuntos como imigração ou política econômica. Até que ponto a linha dura dos republicanos como vinda do movimento ultraconservador Tea Party permitirá McConnell fazer seus gestos cooperativos é algo que vem sendo observado. Será difícil conseguir um progresso no Congresso com dois partidos e meio, diz Werz, se referindo ao papel independente desempenhado pelo Tea Party. Tanto Drozdiak quanto Werz, entretanto, veem um bom futuro para o Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), negociado entre Europa e Estados Unidos. Os dois especialistas apontam que o paco tem muitos defensores poderosos, mesmo entre os republicanos. Além disso, Drozdiak acredita que a política externa e de segurança americana permanecerá estável, pois Obama tem forte poder quando se trata dessa área. Para Drozdiak, o presidente provavelmente vai optar por concentrar a atenção sobre isso, em vez de focar nas questões internas. Diante das muitas crises internacionais urgentes, ele pode não ter outra escolha.

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