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Muro de Berlim: 25 anos de história

Aniversário de 25 anos da queda do Muro de Berlim é lembrado por historiadores
17:00 | Nov. 08, 2014
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>> A queda do Muro de Berlim pelas páginas do O POVO

Na capital alemã, há poucos restos originais, mas o Muro ainda sobrevive como suvenir, com fragmentos usados em chaveiros, cartões postais e ímãs de geladeira. Ou adornando monumentos ao redor do mundo.

Primeiro vieram os "pica-paus do Muro". Em 9 de novembro de 1989, caía o Muro de Berlim, e poucas semanas depois ele já estava todo perfurado, no trecho entre o Reichstag e o Portão de Brandemburgo.

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Berlinenses e turistas coletavam pedaços do concreto que dividira a cidade por 28 anos. Vendedores ambulantes começam a vender os fragmentos, fazendo dinheiro com as lembranças inusitadas, transformando a antiga barreira num negócio milionário até hoje.

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Em todos os continentes, há remanescentes do Muro de Berlim, em museus, em monumentos. "Os restos do Muro são uma relíquia da história", diz Hans-Hermann Hertle, do Centro de Pesquisa Histórica Contemporânea, em Potsdam. "Eles têm um alto valor simbólico por o Muro ter perdido sua aura de terror."

Com a construção do Muro, iniciada em 13 de agosto de 1961, a República Democrática Alemã (RDA) quis evitar uma hemorragia econômica. Desde a fundação do Estado comunista, em 1949, até então, cerca de 1,6 milhão de alemães orientais haviam fugido para o Ocidente através de Berlim.

Ao longo dos anos, a liderança do país foi ampliando as fortificações da fronteira. Mesmo assim, milhares tentaram fugir. De acordo com estatísticas recentes, 138 pessoas morreram tentando atravessar o Muro de Berlim.

Em pedacinhos ou a quilo

Na capital alemã, destino turístico cada vez mais disputado, existem apenas algumas partes da parede original, mas o Muro ainda sobrevive como suvenir.

Chaveiros, ímãs de geladeira, miniaturas, cartões postais com pedacinhos do Muro embutidos, restos do Muro pintados à mão.

Numa loja de suvenires ao lado do antigo posto de fronteira Checkpoint Charlie, há bem perto da entrada um grande estande cheio de fragmentos do Muro, belamente embalados, com preços a partir de 4,90 euros, dependendo do tamanho.

"O interesse pelo Muro continua alto", revela Wieland Giebel, diretor da editora Berlin Story, que também vende lembranças do Muro. "Por um lado, as pessoas não conseguem imaginar como a era cidade, quando dividida. Por outro, a queda do Muro mostra a ânsia de liberdade dos cidadãos da Alemanha Oriental", explica.

Os fragmentos vêm de um fornecedor, e a editora confirmou sua autenticidade com uma perícia encomendada à Universidade Técnica de Berlim. No portal online da editora, um pedaço pequeno custa 6,90 euros, outro, um pouco maior, sai por 12,90 euros. Já um grande "fragmento original do Muro", pesando 33 quilos, custa 699 euros.

Não só os vendedores de suvenires ainda possuem restos do Muro, outros lugares também guardam pedaços da parede de concreto. "A administração de Berlim mantém um depósito com restos do Muro no bairro berlinense de Marzahn", diz Anna Kaminsky, diretora da Fundação Federal para Avaliação da Ditadura do SED (Partido Socialista Unitário da RDA). "Recentemente, demos um grande pedaço do Muro para Tallinn, com a ajuda do nosso embaixador na Estônia."

Muro como fonte de divisas

Logo após a queda do Muro de Berlim, comerciantes tiveram ideia de ganhar dinheiro com os restos. Empresários nacionais e estrangeiros ofereceram ao governo da RDA, que estava à beira da falência, grandes quantias pelos pedaços, segundo o historiador Ronny Heidenreich. O governo aceitou.

O antigo "muro de proteção antifascista" serviria, agora, para trazer dinheiro. A operação de comércio exterior foi confiada à empresa de importação e exportação Limex, e os recursos deviam ser utilizados para "fins humanitários", de acordo com a justificativa oficial, beneficiando, entre outros, o sistema de saúde.

Também no Ocidente foi fundada uma agência de vendas. Um leilão de restos selecionados do Muro, em Mônaco, rendeu entre 1,8 e 2,2 milhões de marcos, a antiga moeda da República Federal da Alemanha (RFA), o equivalente a 0,9-1,1 milhão de euros. No entanto, verbas originárias da venda do Muro também iriam escorrer por canais obscuros, conta Heidenreich.

Em meados de 1990, no início do verão, começou a demolição dos 155 quilômetros de Muro. As barreiras foram removidas com ajuda de 65 guindastes, 175 caminhões e 13 tratores. Empresas privadas, principalmente da RFA, ajudavam nos trabalhos de demolição e recebiam, em troca, entulho a preços baixos.

De Berlim para o mundo

Assim, grande parte do Muro foi utilizada na construção de ruas. Mas empresários criativos reconheceram o valor dos restos como suvenir. Até hoje, há escombros armazenados em grandes depósitos.

Para a liderança da Alemanha Oriental, contudo, o negócio com o Muro acabou não valendo a pena. Os custos de demolição foram gigantescos, em torno de 170 milhões de marcos, de acordo com o historiador Heidenreich. A venda dos destroços rendeu apenas uns poucos milhões.

Em todo o mundo, o Muro ainda é um símbolo da divisão alemã, 25 anos após sua queda. Existem mais de 140 monumentos onde foram utilizadas partes dele. Eles estão descritos numa nova edição do livro de Ronny HeidenreichDie Berliner Mauer in der Welt(O Muro de Berlim no mundo).

O maior conjunto de pedaços do Muro de Berlim está no Newseum, um museu na capital dos Estados Unidos, Washington, situado ao lado de uma torre de vigia original.

O Muro também está presente no estaleiro de Gdansk, Polônia; no Museu Imperial da Guerra de Londres; em Nova York; no Havaí; em Buenos Aires e em Seul além de Marte. Ou, pelo menos, quase. Por sugestão de um geólogo alemão, uma rocha de 85 centímetros foi batizada no planeta como "Broken Wall" Muro Partido.

 

Agência DW

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