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Leite pode fazer mal à saúde, aponta estudo

Pesquisa realizada na Suécia llança dúvidas sobre os benefícios do leite também em seu estado puro, e não apenas como um complemento de cereais matinais adocicados
21:00 | Nov. 04, 2014
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Segundo pesquisadores suecos, açúcar encontrado no líquido, associado à dieta saudável, pode causar envelhecimento precoce. Método utilizado na análise é alvo de críticas.
Uma menina com um bigode branco sorri para a câmera, segurando um copo de leite. Esse é um tema publicitário bastante popular, assim como o radiante líquido branco se misturando como mágica com cereais. Imagens como essas são vistas diariamente nos comerciais, associadas à noção de que consumir leite é sinônimo de uma alimentação saudável.

No entanto, uma pesquisa recém-publicada, realizada na Suécia, lança dúvidas sobre os benefícios do leite também em seu estado puro, e não apenas como um complemento de cereais matinais adocicados.

Num período de vinte anos, pesquisadores da Universidade de Uppsala observaram 61 mil mulheres e 45 mil homens, durante onze anos de suas vidas, para analisar a conexão entre consumo do leite, mortalidade e fraturas ósseas.

O resultado: o índice de mortalidade observado entre os indivíduos que tomaram três copos de leite ou mais por dia ficou acima da média. Já o número de fraturas ósseas aumentou nas mulheres com alto consumo da bebida, mas não nos homens.

Eckhard Heuser, da Associação da Indústria de Laticínios da Alemanha, critica o método utilizado pelos pesquisadores suecos. Ele afirma que análises baseadas em observações não são precisas e que as conclusões dos pesquisadores de Uppsala são equivocadas.

Até mesmo Karl Michaëlsson, um dos autores do estudo, alerta contra conclusões precipitadas. "Não podemos dizer que esses contextos são exclusivamente causados pelo consumo de leite. O leite é apenas uma peça do quebra-cabeça."

Possível culpado
Entretanto, os pesquisadores já identificaram um possível culpado: a chamada D-galactose, um açúcar presente sobretudo no leite de vaca. Camundongos e ratos que receberam aplicações da substância envelheceram com mais rapidez e morreram mais cedo. A quantidade administrada nas cobaias correspondia a dois copos de leite.

Quanto aos laticínios, como queijo e iogurte, o estudo afirma que não há perigo. "Comparado ao leite de vaca regular, os produtos fermentados têm quantidades significativamente menores de D-galactose", afirma Michaëlsson.

Heuser, no entanto, duvida da aplicabilidade dos testes realizados em animais aos seres humanos. "É óbvio que um animal morre mais cedo quando recebe uma quantidade excessiva de açúcar." As pessoas que consomem três copos de leite por dia não correriam esse risco, embora essa quantidade não seja considerada normal para adultos, diz.

"Se as alegações sobre a D-galactose procedem, então, as mulheres não devem mais amamentar", aponta Heuser, uma vez que a quantidade dessa substância no leite materno é superior à encontrada no leite de vaca.

Perguntas sem resposta
Os próprios pesquisadores suecos admitem que é preciso pesquisar mais. Os estudos baseiam-se apenas nas informações fornecidas pelos participantes, e pode haver fatores de interferência, como hábitos alimentares, consumo de bebidas alcoólicas, prática de esportes e fumo. Além disso, os voluntários observados eram de diferentes faixas etárias.

"Não podemos recomendar o consumo de leite com base apenas nesse estudo, precisamos analisar cuidadosamente os resultados. Nossa pesquisa deixa claro que precisamos de estudos ainda mais extensos sobre o tema", afirma Michaëlsson.

Entretanto, para a indústria de laticínios, o estudo pode ter consequências graves, aponta Heuser. "Levará anos para conseguirmos superar essa má impressão", diz. Ao mesmo tempo, algo de positivo também deve ficar. "A sociedade se interessa bastante pela alimentação. É bom que se discuta sobre o leite", pondera.

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