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Preço do petróleo gera especulação sobre influência dos EUA no mercado

11:08 | Out. 21, 2014
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Nos últimos meses, o preço do combustível fóssil teve queda vertiginosa. Entre os principais prejudicados, estão países como Rússia, Irã e Venezuela. Há quem atribua o fato a um acordo entre americanos e sauditas. Se existe no mundo uma matéria-prima de significado estratégico, esta é o petróleo. Por causa dele, guerras foram travadas, governos, derrubados. O preço desse combustível da economia mundial pode parar ou estimular os ciclos econômicos, e normalmente ele reage de forma muito sensível a todos os tipos de distúrbios. Porém a regra que, por muito tempo, foi considerada quase como uma lei da natureza, parece estar atualmente fora de vigor. Os preços do petróleo caíram mais de 20% nos últimos meses, apesar de crises graves em alguns dos principais países produtores: a Rússia é parte do conflito na Ucrânia; no Iraque, batalhas ferozes são travadas contra os radicais do "Estado Islâmico"; a Nigéria foi atingida pela epidemia de ebola na África Ocidental. Robert Burgess, economista-chefe para mercados emergentes do Deutsche Bank Research, em Londres, justifica a queda dos preços do petróleo, classicamente, com a regra da oferta e da procura. Para ele, dois fatores são fundamentais na questão: a preocupação com o desenvolvimento econômico na Europa e em alguns países emergentes, assim como uma ampla oferta nos mercados de petróleo, sobretudo devido à revolução do óleo de xisto nos Estados Unidos. Mais doloroso que sanções Em meados de outubro, o Deutsche Bank Research publicou um estudo sobre as consequências dos preços baixos do petróleo para os principais países produtores. Os economistas investigaram de que preço cada país produtor precisa para financiar seu orçamento. A Rússia, por exemplo, financia pelo menos 45% de seu orçamento com as receitas de exportação de energia, e os preços do gás estão atrelados aos do petróleo. Conforme os números do Deutsche Bank, a Rússia precisaria cobrar cerca de 100 dólares por barril para equilibrar seu orçamento. Atualmente, o preço é significativamente menor, em torno de 85 dólares por barril. "Isso tem graves consequências", analisa Stefan Meister, da Sociedade Alemã de Política Internacional (DGAP). "O orçamento russo está subfinanciado. E isso é especialmente grave considerando as sanções do Ocidente e a falta de crescimento da economia russa", constatou, em entrevista à DW. "O impacto dos baixos preços do petróleo é para a Rússia significativamente mais doloroso do que as sanções do Ocidente." Arábia Saudita e Estados Unidos E assim florescem as teorias da conspiração. Na Rússia, a situação começa a fazer lembrar a década de 1980. Na época, o preço do petróleo despencou, tendo sido uma das razões para o colapso da União Soviética. Esse detalhe foi lembrado recentemente pelo secretário do Conselho de Segurança Nacional da Rússia, Nikolai Patrushev, em entrevista ao jornal do governo Rossiyskaya Gazeta. Ele acredita que, cerca de três décadas atrás, os Estados Unidos provocaram a queda dos preços do petróleo para levar a União Soviética à falência. Um relatório também publicado em meados de outubro pelo Instituto Russo de Estudos Estratégicos (RISS, na sigla em inglês) atribui a queda atual do preço do petróleo a um acordo entre os EUA e a Arábia Saudita. Realmente, o país árabe não tem mostrado até agora inclinação alguma para estabilizar o preço do petróleo através de uma redução de sua produção. Pelo contrário: os sauditas ainda a aumentaram ligeiramente em setembro. Além disso, foram contra a reivindicação da Venezuela de uma reunião extraordinária da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), de forma que o assunto só poderá ser discutido na reunião ordinária da OPEP no final de novembro. É verdade que a Arábia Saudita sofre com o baixo preço do petróleo. Ela precisa de cerca de 99 dólares por barril para ter um orçamento equilibrado. No entanto, como conseguiu, nos anos de preços elevados, acumular 450 bilhões de dólares em reservas, o país dispõe de fôlego largo. "Ao contrário do Irã, eterno rival de Riad na luta pela influência no Oriente Médio", observou Kirsten Westphal, do Instituto Alemão de Relações Internacionais e de Segurança (SWP), em entrevista à DW. "O Irã precisa desesperadamente da receita da venda de petróleo." Conspiração ou coincidência de interesses Teerã tem esperança de que a queda de preços seja de curta duração, mas já perdeu mais da metade de suas receitas de petróleo desde 2011, devido às sanções ocidentais. Para cobrir seu orçamento, o Irã precisa vender cada barril de petróleo por pelo menos 125 dólares. Para o ministro iraniano do Petróleo, Bijan Zanganeh, a Arábia Saudita é responsável direta pela queda dos preços. Ele acusa Riad de inundar o mercado mundial. Em 12 de outubro, a emissora internacional iraniana iRip informou que Teerã havia barateado barril de petróleo aos níveis da Arábia Saudita. Os baixos preços limitam a flexibilidade do Irã nas negociações sobre seu programa nuclear: quanto menos ganhar com o petróleo, mais dependente fica da flexibilização das sanções internacionais a que está submetido. Embora a especialista em energia Kirsten Westphal considere especulação a teoria de que a Arábia Saudita e os Estados Unidos tenham expandido a produção de petróleo a fim de aumentar a pressão econômica sobre a Rússia e o Irã, ela reconhece que nesse ponto há uma coincidência de interesses. O fato de a Venezuela também estar pressionada agrada a Washington: o país sul-americano precisa de 162 dólares por barril de petróleo para atender seus gastos estatais. Entretanto, os produtores nos Estados Unidos também são dependentes de um alto preço do petróleo. A extração de óleo de xisto ou petróleo de areias betuminosas só vale a pena com preços elevados.

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