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Museu em Varsóvia guarda a história dos judeus poloneses

20:03 | Out. 28, 2014
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Em Varsóvia, Museu da História dos Judeus Poloneses abre sua esperada exposição permanente. Repleto de simbologia, espaço representa a nova Polônia e a sua diversificada identidade. O prédio do novo Museu da História dos Judeus Poloneses em Varsóvia foi inaugurado em 2013. Ele está em frente ao famoso memorial do Gueto de Varsóvia, diante do qual o ex-chanceler federal alemão Willy Brandt um dia se ajoelhou. A arquitetura é única por fora, um paralelepípedo de concreto, cobre e vidro; por dentro, dinamismo e simbologia. Mas não é só a fachada e o interior que o diferenciam dos demais museus judaicos do mundo. Nele, o foco não está somente na história de perseguição e dor dos judeus. A Polônia, diz Jerzy Halbersztadt, um dos envolvidos no projeto, não precisa de um museu do Holocausto. Ele lembra que qualquer pessoa que quiser saber mais sobre os horrores da Segunda Guerra pode encontrar muitos lugares autênticos no país como os campos de extermínio nazistas de Auschwitz-Birkenau, Treblinka e Sobibor. Já antes da inauguração da exposição permanente, a mídia de todo o mundo noticiava a singularidade do museu, localizado em Muranow antes o maior bairro judeu do mundo. "Não se trata de um museu do Holocausto. Não somos mais vítimas. Trata-se de um museu da vida", diz Sigmund Rolat, um dos patrocinadores do projeto, citado pelo jornal americano New York Times. O empresário judeu sintetiza assim a ideia de um museu judaico-polonês surgida no início da década de 1990, que foi posteriormente trabalhada conceitualmente por uma equipe internacional de especialistas. "Queríamos uma visão sobre a presença milenar da vida judaica na Polônia e transmitir a convivência judaico-polonesa antes do Holocausto", explica Halbersztadt. "Ao mesmo tempo, queríamos mostrar que a vida judaica na Polônia de hoje vem se recuperando lentamente nos últimos anos e está mais presente na vida pública." Tudo isso é ilustrado por meio de reconstruções multimídias, instalações interativas e produções em vídeo distribuídas por oito galerias numa área de 4.300 metros quadrados. A maior das galerias, chamada Extermínio, conta a história do Holocausto. Chega-se ali, no entanto, somente através da chamada Rua dos Judeus. "Nossa preocupação não foi mostrar somente o imenso drama e os crimes inimagináveis cometidos contra a humanidade, mas também a grandeza da nossa cultura e sociedade, que não foram destruídas. O reducionismo ao papel de vítima roubou a identidade de todas as gerações de nossos antepassados, já que, tanto durante a guerra quanto antes dela, eles não foram somente vítimas", observa Jerzy Halbersztadt, que dirigiu durante muitos anos a programação polonesa do Museu do Holocausto em Washington. Retomada da vida judaica A narrativa milenar no museu em Varsóvia ilustra que nem a cultura polonesa existe sem a cultura dos judeus, nem a identidade nacional polonesa existe sem a identidade judaica. Como instituição de educação e cultura, o museu pretende apontar para um caminho futuro. E como "plataforma de diálogo", também quer promover o redespertar da vida nas crescentes comunidades judaicas da Polônia. Dez anos após a entrada na União Europeia, a Polônia reconhece a sua diversidade. Em muitos lugares do país onde antes viviam judeus, tenta-se reanimar os componentes judaicos perdidos da identidade local. Até 1939, viviam na Polônia 3,5 milhões de judeus. De acordo com o censo de 2011, hoje, eles são apenas 2 mil. Algumas fontes falam de 8 a 12 mil. Antes da guerra, havia na Polônia 996 comunidades judaicas. Hoje, existem apenas nove, mas esse número está crescendo. Antes da Segunda Guerra Mundial, os judeus perfaziam por volta da metade da população em cerca de 1.200 municípios poloneses. Após o Holocausto, a presença judaica na Polônia foi extinta. E, depois da perseguição comunista contra os judeus em 1968, ela também quase desapareceu dos livros de história e da consciência pública. Agora, a exposição permanente evoca novamente esse mundo perdido. Ela foi aberta no Museu da História dos Judeus da Polônia na presença dos presidentes polonês, Bronislaw Komorowski, e israelense, Bronislaw Komorowski. "Trata-se da sensibilização da opinião pública e da disseminação do conhecimento", diz Halbersztadt, que vê o museu como possível arma contra certos estereótipos e reações irracionais, principalmente quando se trata do moderno antissemitismo. Projeto de 20 anos Da ideia à abertura do museu e da muito aguardada exposição permanente, passaram-se quase 20 anos. Graças à determinação e ao poder de execução de determinadas pessoas e seus parceiros de outros museus judaicos, de cientistas de vários países, além de patrocinadores, foi possível superar obstáculos financeiros, políticos e burocráticos. A Alemanha participou com 6 milhões de euros, ou seja, cerca de 7% do custo total. "As primeiras verbas vieram da Fundação para a Cooperação Teuto-Polonesa e do Reino Unido", diz Halbersztadt, ex-diretor do museu. Só mais tarde vieram verbas públicas polonesas. Elas permitiram a construção do impressionante projeto do arquiteto finlandês Rainer Mahlamäki. A exposição, porém, foi totalmente financiada com fundos privados. Para Barbara Kirshenblatt-Gimbet, diretora de programação da exposição permanente, o museu simboliza a "nova Polônia". E o que ela diz pode englobar também o recém-inaugurado Centro Solidariedade em Gdansk. Ambos os museus promovem uma inclusão dos eventos da Polônia no contexto europeu. Para o jornal alemão Die Welt, uma prova da crescente autoconfiança da democracia polonesa.

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