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Kiev tenta lidar com crescente fluxo de refugiados

14:45 | Out. 13, 2014
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Todos os dias chegam à capital da Ucrânia multidões fugindo do leste do país. Maioria não pôde trazer consigo nem o mínimo necessário. E todos precisam de alimento, moradia, roupas e trabalho. Alena tem 30 minutos para coletar roupas de inverno para si e para o filho de três anos, Nikita. Ela vem da província de Lugansk, no leste da Ucrânia, onde há meses separatistas pró-Rússia e tropas do governo travam combate. Nesse domingo, faz-se fila na organização de caridade da rua Frolivska, no distrito de Podil, no coração de Kiev. A maioria do público é de refugiados vindos do leste do país. Dez pessoas podem entrar a cada vez a sala das roupas, que conta com um bom estoque, através das numerosas doações recebidas nas últimas semanas. "Meu dever aqui é ajudar", diz Victor, que entra trazendo roupas velhas e cobertores. "Somos todos ucranianos, se eu estivesse em situação parecida, as pessoas também me ajudariam, está claro." Aglomeração e clima tenso Lesya Lyfvynova, a coordenadora da sala de roupas, tenta não perder a visão do todo. Ali, uma vez por semana são distribuídos alimentos, uma vez ao mês, artigos de higiene e todos os dias, roupas. Apressadamente, ela anota a identidade dos refugiados e o que lhes deu. A distribuição das doações deve ser mais ou menos justa. Vinte voluntários trabalham permanentemente no local, nos fins de semana o pessoal é ampliado. Há aglomeração, barulho, o clima é tenso. Uma pessoa, carregando pacotes de fraldas, força a passagem em meio à multidão, outra não consegue encontrar botas de inverno. "Mais do que qualquer outra coisa, faltam sapatos", revela a coordenadora. "A cada dia, 250 famílias vêm até aqui. Não tem fim." Alena revira pilhas de suéteres de tricô e de luvas de couro descartadas. A refugiada de 28 anos está desde agosto em Kiev. Ela conta que não teve tempo de trazer roupas quentes para o inverno que se aproxima. Sua cidade, Krasnyi Luch, nas proximidades da capital provincial Lugansk, foi bombardeada pelos separatistas. "Não pude trazer nada, minha mãe me deu alguns remédios para meu filho doente e fui-me embora." Por isso, evita revelar seu nome completo: é grande demais o medo do que poderá acontecer, se voltar á região controlada pelos separatistas. Ela é uma entre os 80 mil refugiados, oriundos principalmente do leste do país, que foram parar em Kiev, sem saber o que será no futuro. Mercado imobiliário restrito Uma das consequências do afluxo de refugiados à capital é o aumento drástico dos aluguéis, entre 10% e 20%. Desde o início da guerra, a corretora de imóveis Yulia Dzikh tem muito trabalho. Diariamente chegam a sua empresa imobiliária famílias fugidas da região dos combates. "A maioria procura moradia para períodos de quatro a seis meses", conta. "Elas têm esperança de que a guerra vai acabar e de que então vão poder voltar às suas casas." A cidade de Kiev improvisou um posto de coordenação junto á estação ferroviária, e disponibilizou moradia em casas de estudantes para os refugiados, durante as férias de verão. Mas não há lugar suficiente. "Atualmente, recomendamos a todos os refugiados que se cadastram conosco, que deem preferência a outras regiões da Ucrânia, onde o mercado imobiliário não está tão sobrecarregado assim", informa Natalia Ivanivic, da administração municipal. Grupos para refugiados nos jardins de infância Por enquanto, Alena está hospedada na casa de conhecidos em Kiev, enquanto tenta encontrar um apartamento para dividir com sua amiga Marina, que também fugiu da região de conflito. Ela quer matricular o filho, Nikita, num jardim de infância na capital. Em seu bairro, Pusha Voditsa, as escolas criaram grupos especialmente para os filhos de refugiados, numa tentativa de dar conta da demanda. E, claro, ela terá que encontrar algum tipo de trabalho nas próximas semanas, comenta, cansada, enquanto vasculha as pilhas de roupas. A essa altura, esportivos, uma grossa jaqueta de inverno preta e até brinquedos para seu filho Nikita já foram parar nas sacolas plásticas. Uma rápida assinatura, confirmando o recebimento das roupas, e acabaram-se os 30 minutos a que Alena e o filho tinham direito. Ambos saem logo, pois, do lado de fora, a fila dos que aguardam a vez ainda é longa.

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