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Opinião: Ocidente está perplexo diante de Putin e Oriente Médio

16:22 | Ago. 29, 2014
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Como lidar com as pretensões neo-imperialistas dos russos? E com as avassaladoras mudanças no Oriente Médio? As perspectivas para o Ocidente são desanimadoras, opina o editor-chefe da DW, Alexander Kudascheff. A uma semana da conferência de cúpula da Otan no País de Gales, a poucos dias da necessária, útil e demonstrativa visita do presidente Barack Obama à Estônia, e poucas horas antes de uma cúpula extraordinária da União Europeia, pode-se e deve-se constatar: o Ocidente está perplexo diante da política neo-imperial de Vladimir Putin, e de mãos atadas perante as quase tectônicas mudanças estratégicas no Oriente Médio. Claro, a União Europeia, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, o Ocidente em geral acirram as sanções contra a Rússia. E seguramente serão impostas novas medidas punitivas na próxima cúpula. Elas atingirão, sem dúvida, a Rússia e o seu presidente mas não o levarão a ceder. Muito embora ninguém saiba, de verdade, que resultado Putin almeja obter na Ucrânia: "apenas" desestabilizar o leste do país, ou anexar a região, a fim de formar um corredor fechado até a Crimeia? Seja como for, o chefe do Kremlin testa maquiavelicamente as fraquezas de reação do Ocidente sabendo que este não vai responder militarmente, por uma questão de sensatez, mas sim, no máximo, equipar o debilitado e desmoralizado exército ucraniano. Porém, até mesmo isso é altamente improvável. Em termos real-políticos, é preciso constatar: a Ucrânia não é dona do próprio destino. Ela depende de Moscou, da graça de Vladimir Putin. Quem quiser preservar a unidade do país, seja em Kiev, Bruxelas, Berlim ou Washington, tem que falar com o presidente russo. Vai precisar descobrir o que ele quer, para então decidir o que pode oferecer. Um "não" à inclusão da Ucrânia na UE e, sobretudo, na Otan, é pré-requisito, condição absoluta até, para futuras conversas e não mais assunto de debate. A federalização estrita da Ucrânia, com amplas condições de autonomia para o leste, é certamente tema de negociações. O reconhecimento do papel da Rússia em toda a cadeia de acontecimentos é inevitável. Formulando de outra forma: a Ucrânia e o Ocidente vão ter que engolir o veto russo em tudo. Esse é o preço da insidiosa invasão russa: um preço alto para Kiev, e a admissão de que o Ocidente não pode fazer muita coisa, fora dar fim à guerra por meio de concessões diplomáticas. Sendo que "concessões" é um mero eufemismo para "resignação". Desde a queda do Muro de Berlim, 25 anos atrás, com a reunificação da Europa, o Ocidente tem acreditado na racionalidade da diplomacia. Ele apostou em sensatez nas relações estatais. Por isso, está tão surpreso quanto atropelado pelas pretensões hegemônicas e pela inescrupulosidade de Putin. O Ocidente percebe que, no momento, não é um protagonista da política mundial nem convincente, nem convicto de si mesmo. Nestes anos de governo Obama, os Estados Unidos começaram a se recolher em si mesmos, restringindo, assim, seu papel proeminente na política mundial. A Otan está há muito em crise quanto ao próprio significado. Foi nesse vácuo que Vladimir Putin se introduziu, seguro de si e do seu poder. Tanto a essas provocações quanto às avassaladoras mudanças no Oriente Médio, o Ocidente tem reagido, até agora, perplexo e indefeso. Só até agora? Não: mais ele não tem a oferecer, no momento.

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