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Medicamento dos EUA leva esperança a africanos na luta contra ebola

11:52 | Ago. 13, 2014
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Depois de ajudar dois pacientes americanos, Zmapp poderá ser exportado para Libéria mesmo sem testes. Apesar de ressalvas e da indignação pelos milhares de africanos já mortos pelo vírus, clima geral é de aprovação. Apenas na Libéria, o ebola já custou a vida de mais de 300 pessoas. Até agora, nenhuma das medidas adotadas foi capaz de conter o alastramento do vírus na África Ocidental nem mesmo as mais drásticas, como a criação de zonas de quarentena e o fechamento de fronteiras. Agora, todas as esperanças dos liberianos estão depositadas em um experimento: o Estado pretende tratar dois médicos infectados com o Zmapp, um remédio de fabricação americana que ainda não foi devidamente testado. Mesmo assim, a FDA, agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, liberou sua exportação na terça-feira (12/08). Dois pacientes de ebola americanos já se submeteram a um primeiro experimento com o Zmapp, com sucesso, e desde então o estado deles melhorou. Para o ministro da Informação da Libéria, Lewis Brown, a decisão do órgão americano é motivo de alegria, e apenas o começo de uma aplicação ampla. "Todos os infectados devem ter a chance de se submeter a um tratamento com o remédio se desejarem", declarou. Cidadãos da Libéria entrevistados pela DW também aprovaram a iniciativa de seu governo. "É uma notícia realmente boa que o remédio esteja a caminho da Libéria", comentou um liberiano. Como observou um outro liberiano, ainda que, até agora, o Zmapp não tenha sido aprovado para o tratamento humano, "mal se pode esperar que seja encontrada uma cura para essa infecção viral". Sem opções Também nesta terça-feira noticiou-se a morte de um missionário espanhol por ebola. Ele também era candidato ao tratamento experimental com o Zmapp. A questão de se é correto testar o medicamento em seres humanos tem sido tema de polêmicas. A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) alerta que o emprego de tais meios deve permanecer uma exceção, e exige que os pacientes fiquem sob observação estrita. Apesar de todas as reservas, no país africano atingido pela epidemia o clima é basicamente favorável à tentativa de terapia. "Todo medicamento tem efeitos colaterais, mesmo aqueles cujo uso é aprovado por diversos órgãos de supervisão", argumentou o médico e ex-ministro liberiano da Saúde Peter Coleman. Ele diz ser óbvio que os pacientes serão colocados sob observação. "Mas, nós temos escolha? Se não distribuirmos os remédios, essas pessoas vão morrer." Após a decisão da FDA, também a Organização Mundial de Saúde (OMS) adotou o argumento de que a situação no oeste da África justifica o passo pouco usual. Segundo o médico Halidou Tinto, da vizinha Burkina Faso, a OMS não tem alternativa, pois não pode deixar de fora nenhum recurso capaz de conter a epidemia. "Esse tipo de teste é aplicável quando há altos índices de mortalidade", disse à DW o profissional especializado na realização de estudos clínicos. No caso do ebola, o índice de fatalidade é bem superior a 50%. Opiniões divididas Se dependesse do jornalista Amadou Tham Camara, o novo medicamento fabricado nos EUA já teria sido trazido há muito para a África. Seu país natal, a Guiné, apresenta o segundo maior número de vítimas do ebola, depois de Serra Leoa. "Indignem-se por ter bastado dois americanos adoecerem, para que se encontrasse um remédio contra o ebola", conclamou Camara, num editorial dirigido a seus compatriotas. "Enfureçam-se por milhares de africanos terem morrido, embora exista um remédio!" Ainda assim, falando à DW, o jornalista se declarou satisfeito por a Libéria poder testar agora o Zmapp. A Guiné espera que, em seguida, também os seus enfermos poderão se beneficiar dos testes. De toda a África, seguidores da DW no Facebook também reagiram à decisão da Libéria de empregar o medicamento não testado. Para o queniano Aggrey Kaguo, o experimento vem tarde demais, quando a doença já se tornou um problema grande. Já Amoc Jay Michael Irondo, da Tanzânia, expressa reservas: "Esse remédio experimental deveria ser primeiro ser suficientemente testado antes de ser exportado para a África e, lá, possivelmente causar novos problemas."

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