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Violência de colonos radicais ameaça palestinos e israelenses

16:27 | Jul. 03, 2014
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Atentados nacionalistas dificultam não só vida dos palestinos. Eles limitam a margem de manobra política do próprio governo israelense, atingem soldados israelenses, ativistas de esquerda e instituições cristãs. Oliveiras queimadas e cortadas nos campos dos agricultores palestinos, veículos destruídos, ataques a pedestres. Na Cisjordânia, multiplicam-se os casos de violência extremista por colonos judeus radicais. Em 2013, as Nações Unidas registraram 399 ataques contra palestinos. Um dos grupos mais conhecidos e mais brutais é o chamado Hilltop Youth (Juventude da Colina), cujo nome remonta seu hábito de criar postos avançados ilegais em morros da Cisjordânia, de onde podem observar amplamente a área. Já no início dos anos 1980, o grupo Jewish Underground (Clandestinidade Judaica) realizava atentados contra prefeitos palestinos. O extremista judeu mais famoso foi Baruch Goldstein, que em fevereiro de 1994 matou a tiros 29 muçulmanos que rezavam numa mesquita em Hebron, sendo em seguida morto pelos sobreviventes. Israelenses também são alvejados Embora o grupo de colonos extremistas reúna apenas alguns milhares de integrantes, ele é muito poderoso. Numa época em que, cada vez mais, doutrinas religiosas estabelecidas perdem sua validade, também no judaísmo se difundem as interpretações extremistas da religião. Muitos colonos se radicalizaram em 2005, quando o governo israelense determinou a retirada militar da Faixa de Gaza e encerrou os assentamentos na região. "Essas pessoas cresceram num ambiente onde tinham a impressão de poder fazer o que quisessem", observa o rabino Arik Ascherman, do movimento Rabbis for Human Rights, em entrevista à DW. "Isso foi possível porque as forças de segurança de Israel os protegiam. Também desempenharam um papel importante os rabinos radicais que redigem textos extremistas." Atualmente a violência não é mais dirigida exclusivamente contra palestinos. Alguns extremistas passaram a visar também soldados israelenses. No início de abril, 50 colonos obrigaram seis soldados em Yitzhar, no norte da Cisjordânia, a sair de suas guaritas, as quais destruíram, em seguida. Em maio, uma moradora daquela localidade foi presa por ter defendido atentados fatais contra soldados israelenses por motivos religiosos. "Monstro de Frankenstein" Enquanto isso, a violência na Cisjordânia também passou para o território israelense. Lá também se multiplicam casos do chamado vandalismo "price tag" (etiqueta de preço). Assim que os radicais batizaram a destruição radical da propriedade palestina como "preço" por sua presença no território reivindicado pelos colonos. Porém a violência extremista também se dirige contra ativistas de esquerda e instituições cristãs. A vítima mais proeminente do terrorismo de fundo sectário foi o então primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin, assassinado em 1995 pelo extremista judeu Yigal Amir. A maioria da população israelense condena os atos violentos perpetrados pelos extremistas. "As críticas surgiram, entretanto, relativamente tarde", diz Arik Ascherman. "Os israelenses só começaram a prestar atenção ao movimento quando soldados israelenses começaram a ser atacados. Há um comentário rabínico que afirma: 'Não pense que uma mão que golpeia um não judeu, se recusará a bater num judeu.' É exatamente isso o que está acontecendo agora." "O governo de Israel já reconheceu o problema", ressalta Ascherman. As forças de segurança devem ser reforçadas, consequentemente, e já ocorreram os primeiras prisões. Mas ainda não houve julgamentos. "Porém cada vez mais os israelenses têm a impressão de que os colonos são como um monstro de Frankenstein", compara o rabino. Internacionalmente, os extremistas judeus também já chamam atenção há muito tempo. "O governo israelense deveria declarar criminosos violentos como terroristas, e dar um fim a suas atividades", apelava a revista Foreign Affairsjá em 2012. "E as autoridades de segurança devem aplicar a lei israelense e perseguir colonos violentos, como fazem com terroristas, independente de serem palestinos ou israelenses." Extremismo e terrorismo Até agora, oficialmente, as autoridades não vão tão longe assim em Israel. Quando o Departamento de Estado dos EUA incluiu os autores das ações "price tag" em seu relatório Country reports on terrorism, o porta-voz da polícia israelense, Micky Rosenfeld, protestou. "Não se pode fazer comparação alguma entre incidentes criminais com motivos nacionalistas e aqueles com fundo terrorista", argumentou. Já a revista Foreign Affairsdefine o terrorismo não só pela escolha dos meios, mas também pela finalidade, ou seja, "produzir um efeito psicológico, o terror, para, assim, impor uma agenda política". Nesse sentido, a violência dos extremistas judeus pode ser chamada de terrorismo, "tanto mais grave por também prejudicar os palestinos moderados", argumenta. Segundo a publicação, enquanto estes não conseguirem que Israel impeça que seus próprios cidadãos ataquem os palestinos, eles estarão numa posição frágil. "Cada vez menos palestinos acreditam que sua liderança conseguirá negociar um tratado de paz com Israel. Por outro lado, caso Israel se curve às demandas de colonos radicais, o governo perderá cada vez mais margem de manobra. Os colonos extremistas não são um desafio apenas ético, mas também político", conclui a Foreign Affairs.

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