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Meninas completam 100 dias em cativeiro na Nigéria

13:51 | Jul. 23, 2014
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Tipo Notícia
Em abril, militantes do Boko Haram sequestaram mais de 300 alunas de uma escola na cidade de Chibok. Passados mais de três meses, governo segue sem pistas concretas sobre paradeiro e se recusa a negociar com radicais. Na noite de 14 para 15 de abril, caminhões estacionaram em frente a uma escola pública de Chibok, na Nigéria. Homens fortemente armados saltaram, invadiram o local e fugiram levando cerca de 300 meninas, de entre 12 e 18 anos. Passados cem dias do sequestro, não se tem qualquer pista concreta do paradeiro delas. "Eu sofro desde o dia do sequestro. Desde então, nada mais me importa. Se alguém me ameaçasse agora com uma arma, isso não teria a menor a importância", disse à DW a mãe de uma das meninas sequestradas. "Mesmo se eu morresse, isso não importaria." Em maio, o general Alex Badeh disse que o Exército conhecia o paradeiro das meninas, mas não revelou detalhes. A suspeita inicial era de que o Boko Haram as teria levado diretamente para Camarões. Hoje, há indícios de que elas estejam escondidas numa área florestal de Zambiza, no nordeste da Nigéria. "O governo afirma que não quer empregar nenhuma violência militar, para não pôr em risco a vida das meninas. Mas se um ataque militar não é opção, então é preciso haver um diálogo com essa gente [Boko Haram]", exige Jibo Ibrahim, ativista de direitos humanos. "Será que o governo está acreditando que as meninas poderão continuar vivendo nessas condições?" Indignação e apelos Dias após o sequestro, uma onda de indignação se espalhou pelo mundo. À frente desse movimento estavam as redes sociais com a campanha #BringBackOurGirls (tragam de volta nossas meninas), a que se juntaram personalidades como a primeira-dama americana, Michelle Obama, ou a jovem ativista paquistanesa Malala Yousafzai. Na capital Abuja e em Kano, maior cidade do norte de maioria muçulmana, milhares passaram a protestar sob o lema "Libertem nossas crianças". A cada dia que passa, a mensagem dos manifestantes se torna mais enfática: "A verdade é que os pais das meninas e a comunidade de Chibok são reconfortados muito mais pelo outro lado do que pelo governo", escreveu no Twitter Oby Ezekwesili, ex-ministra da Educação da Nigéria e um das líderes da campanha #BringBackOurGirls. "Isso tem de mudar." Sua crítica vem no momento certo. Pois, pela primeira vez depois do sequestro, o presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, se encontrou com familiares das estudantes desaparecidas, na última terça-feira. O encontro estava anunciado já há bastante tempo, mas foi adiado várias vezes. "Estou muito satisfeito com a reunião", disse o pai de uma das meninas raptadas. "O presidente Jonathan nos recebeu em seu escritório. E nos disse que faria tudo em seu poder para trazer de volta a nossa filha." Em Abuja, Jonathan recebeu a portas fechadas 177 familiares, entre eles 57 meninas que conseguiram escapar dos radicais do Boko Haram. "O Exército está impotente" A decepção dos familiares é grande. E a crítica à gestão de crise do presidente GoodluckJonathan provém não somente da ONGs e da oposição, mas também das fileiras do próprio partido do governo. Apesar do grande contingente militar e da decretação do estado de emergência em três estados do norte do país, são frequentes os sequestros e roubos. Recentemente um alemão foi raptado em Gombi, cidade do norte da Nigéria. Uma operação de resgate por parte de forças de segurança fracassou. "O Exército está impotente", disse à DW o ex-militar Abubakar Dangiwa Umar. "Por falta de armas adequadas, mas também por falta de motivação." Outro aspecto que também fez minar a confiança da população no Exército nigeriano foi o recente anúncio, por parte da mídia local, de que importantes generais estariam suprindo o grupo terrorista Boko Haram com informações e munição. O Exército nigeriano desmentiu. Muitas pessoas no país exigem o diálogo com o Boko Haram. "Nem as forças estrangeiras nem o Exército nigeriano têm uma resposta. Em minha opinião, agora, o diálogo é o único caminho que resta", diz Umar. Uma solução difícil de ser aceita pelo governo. Principalmente depois da mais recente mensagem de vídeo do líder do Boko Haram, Abubakar Shakau, dizendo que as meninas só serão libertadas em troca de militantes presos do grupo. Até agora, tal negociação foi sistematicamente descartada pelo governo.

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