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Em meio à guerra, novo presidente de Israel toma posse

11:42 | Jul. 24, 2014
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Contrário à criação de Estado palestino, Reuven Rivtri é tido, porém, como defensor dos direitos das minorias. Apesar de bom trânsito entre árabes, ele terá que aparar arestas com Netanyahu, com quem teve atritos. Reuven Rivlin é uma figura amigável, mas persistente. Mesmo diante de contratempos, não perde o foco. E foi assim com sua meta de se tornar presidente de Israel. Obrigado a retirar sua candidatura em 2007, em favor de Shimon Peres por falta de apoio parlamentar, Rivlin tentou novamente em 2014 e foi eleito pelo Knesset como chefe de Estado. A pedido do próprio Rivlin, porém, a cerimônia de posse nesta quinta-feira (24/07) não contou com uma grande celebração. Israel encontra-se em guerra. Soldados e civis estão morrendo. "Por isso decidimos fazer um evento mais simples e contido", explicaram Rivlin e Yuri Edelstein, porta-voz do Knesset, por meio de um comunicado. "Apoiamos nossos soldados em sua missão sagrada de garantir a paz e a tranquilidade a todos os cidadãos israelenses." Simpático aos assentamentos Casado e pai de quatro filhos, "Ruby", como também é chamado, é considerado um político linha-dura. "Ele é um grande apoiador da política do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu", explica o historiador israelense Moshe Zimmermann, da Universidade de Jerusalém. O novo presidente não deve intervir por uma solução pacífica para o atual conflito, aposta o especialista, destacando que Rivlin vem da mesma orientação política de Netanyahu os dois pertencem ao partido conservador de direita Likud. Diferentemente de Netanyahu, porém, Rivlin opõe-se abertamente à criação do Estado palestino. Nascido 1939 em Jerusalém, o novo presidente israelense nunca escondeu sua ideia de uma "Grande Israel", abrangendo a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. Em 2010, Rivlin afirmou que para ele era mais fácil aceitar que palestinos fossem considerados cidadãos israelenses do que concordar com a separação entre Israel e Cisjordânia. Sendo assim, ele deverá usar o mandato para "estimular a construção de assentamentos na Cisjordânia", sagrada para ele, aposta Ari Schavit, do jornal israelense Haaretz. Pelos direitos democráticos Mesmo sendo de direita e favorável aos assentamentos, Rivlin mantém boas relações com deputados árabes e de esquerda no Knesset. Isso se deve principalmente ao fato de que, nos dois períodos em que presidiu o Parlamento (de 2003 a 2006 e de 2009 a 2013), Rivlin sempre se colocou em defesa dos direitos democráticos das minorias. Um exemplo é o caso envolvendo a deputada árabe Haneen Zoabi, que em 2010 tentou furar o bloqueio da Faixa de Gaza com uma frota de navios. Várias pessoas foram mortas quando militares israelenses invadiram o MS Mavi Marmara. Uma comissão parlamentar sugeriu, à época, que a imunidade de Zoabi fosse suspensa o que foi negado pelo então presidente da Casa, Rivlin. Advogado e ex-oficial do serviço secreto militar, o novo presidente israelense já mostrou ter compreensão sobre a situação dos palestinos. Em 2009 ele declarou que "a fundação de Israel foi acompanhada de muita dor e um grande trauma para os palestinos". Na época ele conclamou por uma "verdadeira parceria entre judeus e árabes". Pouco antes do início da última ofensiva na Faixa de Gaza, Rivlin e Netanyahu haviam publicado um artigo conjunto no jornal Yedioth Ahronoth pedindo o fim da violência. "O banho de sangue só vai acabar quando ficar claro a todos que a nossa vida em conjunto não é um acidente do destino; é, sim, a nossa sina". Para Rivlin, a solução para o conflito que se arrasta há décadas passa por conceder mais direitos aos palestinos em um único Estado federativo em comum. "Ele tenta apaziguar os palestinos com igualdade de direitos", critica Moshe Zimmermann. Rusgas com Netanyahu A maior autoridade no sistema político israelense, no entanto, é do primeiro-ministro. Ao presidente cabem apenas poucos poderes, sobretudo tarefas representativas. Entre suas principais atribuições estão a concessão de anistia a presos e a emissão de ordem para a formação de um novo governo logo após as eleições legislativas. O antecessor Shimon Peres também usou a posição para se colocar em favor da paz com os palestinos. Rivlin enxerga seu cargo, porém, com mais cautela. Ele já afirmou que, como presidente, não pretende se meter nas decisões dos representantes do povo. Reuven Hazan, cientista político da Universidade de Jerusalém, acredita que Rivlin deverá seguir à risca o caráter cerimonial e simbólico de sua função. "Peres era um presidente mais voltado para fora. Rivlin deverá se concentrar em Israel. Ele será um presidente para as pessoas, a sociedade, os israelenses", afirma Havan."Alguém que poderá construir uma ponte entre judeus e árabes israelenses." Primeiramente, no entanto, será preciso erguer essa ponte entre Rivlin e Netanyahu, que só no último minuto, e um tanto quanto a contragosto, apoiou o nome do correligionário à presidência. Apesar de pertencerem ao mesmo partido e de terem ideias políticas semelhantes, os dois têm certa repulsa mútua. No passado, Rivlin acusou o primeiro-ministro de não respeitar o Parlamento. Por várias vezes ele negou apoio ao premiê no Knesset. Por isso, muitos enxergam em Rivlin, a partir de agora, como uma pedra no sapato de Netanyahu.

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