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Copa leva milhares à Vila Madalena e muda rotina do bairro paulistano

10:02 | Jul. 06, 2014
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A Vila Madalena, em São Paulo, é o local preferido por turistas e paulistanos para assistir aos jogos da Copa do Mundo. Motivo de alegria para os comerciantes e de desespero para os moradores do bairro boêmio. O bairro boêmio da Vila Madalena, em São Paulo, recebeu nesta sexta-feira (04/07) cerca de 50 mil torcedores para assistir à partida entre Brasil e Colômbia, segundo estimativa da Guarda Civil Metropolitana. Já a Fan Fest da Fifa, no Vale do Anhangabaú, teve sua lotação máxima: 25 mil pessoas. Os jogos alteram completamente o clima do bairro, que, pelo menos durante o dia, é tranquilo. Ali convivem donos de ateliês de arte, bares, restaurantes, lojas de artesanato e pequenas grifes, além dos moradores da Vila Madalena. No local, predominam ruas estreitas, com casas e sobrados baixos, interrompidos por raros e novos edifícios. Durante as partidas, além dos torcedores, chegam também vendedores ambulantes, artistas de rua, carros de som e pequenos grupos de percussão. O bairro vive um Carnaval fora de época, com pessoas dormindo no chão (geralmente devido ao excesso de álcool), aumento da venda de drogas, e um constante odor de urina. O trânsito nas principais vias é bloqueado desde as 10h, e a Prefeitura de São Paulo instala lixeiras e banheiros químicos foram 160 apenas no último jogo. Apesar do trabalho de limpeza, que se inicia às 2h e segue até o amanhecer, os moradores reclamam da sujeira. "Colocaram em frente à minha casa dez banheiros químicos, numa rua pequena e totalmente familiar. O cheiro é muito forte", diz Gisela Farias, de 59 anos. Cristine Franco Alves, de 44 anos, conta que a porta da sua casa foi transformada em banheiro público. "O portão, o quintal, as árvores: é muito fedor. Isso porque não há banheiros químicos suficientes, as pessoas fazem em qualquer lugar", protesta. Locomoção e som alto Segundo Gisela, os moradores são impedidos de ir e vir. "A pé fica complicado, porque é muito cheio de gente e, se precisar sair de carro, não pode. Não dá nem para fazer compras", afirma a aposentada, que vive na Vila Madalena há 20 anos. Desde a abertura da Copa, Cristine está dormindo na casa de parentes. "Eu não consegui dormir por várias noites seguidas porque o 'pancadão' nos carros fica tocando alto até as quatro da madrugada. Ficou impossível ficar em casa", reclama. Para Cássio Calazans, presidente da Sociedade de Amigos da Vila Madalena (Savima), a Copa no bairro atrapalha a vida dos moradores. "A Vila é residencial, antes de ser boêmia. A região não comporta tanta gente, é como colocar cem litros de água numa xícara", afirma. Segundo ele, há uma mudança no público que frequenta o bairro. "As pessoas que vêm festejar nas ruas não consomem nos bares. É diferente do que estamos acostumados. Não há respeito aos moradores", diz. Intervenção da polícia A principal reclamação é que os torcedores permanecem no local após a 1h, horário determinado pela lei municipal conhecida como PSIU para o fechamento dos bares e restaurantes. Na última terça-feira, após o jogo entre Argentina e Suíça, milhares de torcedores, principalmente argentinos, se dirigiram à Vila Madalena. Durante a madrugada, a Polícia Militar disparou uma bomba de efeito moral para dispersar o grupo, que insistia em continuar no local. "Os bares já estavam fechados quando os policiais tentaram desimpedir uma das ruas, fazendo um cordão de isolamento. Alguns torcedores exaltados reagiram arremessando pedras, garrafas e rojões. Neste momento, foi empregada uma granada de efeito moral para afastar os agressores. Foi executada a limpeza, serviço da prefeitura que tem contado com o apoio da PM, para atender à reivindicação dos moradores do bairro", afirmou, em nota, a corporação. A atitude, muito criticada por turistas e torcedores presentes no local, foi aprovada por alguns moradores. "Tem que dispersar. É o papel dela, a PM tem que preservar a ordem", defende Calazans. Arnaldo Altman, dono de quatro bares na Vila Madalena e diretor da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), não concorda com a atuação da PM nesse episódio. "A polícia sempre extrapola, não só aqui na Vila. É preciso dispersar as pessoas, por conta dos moradores, mas não concordamos com forma que foi feito." Para Altman, o bairro é pouco residencial. No quadrilátero, por exemplo, 90% é comercial", explica. Os jovens que celebram nas ruas do bairro pedem mais compreensão por parte dsa pessoas que vivem no local. "Eles tinham que vir participar da festa, tenho certeza de que assim não reclamariam", diz Danubia Oliveira, de 26 anos. A estudante de fisioterapia mora perto da Arena Corinthians, outro importante ponto de encontro de turistas e torcedores na Copa. "Lá também tem bagunça direto por causa dos jogos, e eu não reclamo", ressalta. Lucro para comerciantes Para os comerciantes do bairro, o movimento aumentou as vendas. "Surpreendeu totalmente, não esperava que as ruas fossem tomadas dessa forma. O resultado imediato tem sido muito bom. Mas também a divulgação do bairro no cenário internacional é um legado que fica para depois da Copa", comemora Altman. Segundo ele, o movimento nos bares em São Paulo aumentou 80% em dias de jogo do Brasil e 30% em partidas de outras seleções. "Na Vila isso é ainda maior. Nos meus bares, houve um incremento de 100% nos dias de jogos da seleção brasileira. O mesmo aconteceu quando a Argentina ganhou da Suíça", diz. De acordo com a Abrasel, os bares devem lucrar R$ 12 bilhões no mês Copa do Mundo. Além dos donos de bares, outros comerciantes têm motivos para celebrar. Luis, de 51 anos, tem trabalhado como vendedor ambulante de cerveja na Vila Madalena. Ele conta que, com o dinheiro da Copa, vai poder construir a sua casa. "Está sendo ótimo! Devo ganhar cerca de mil reais hoje."

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