Participamos do

Apoio à pena de morte diminui nos EUA

09:21 | Jul. 10, 2014
Autor O POVO
Foto do autor
O POVO Autor
Ver perfil do autor
Tipo Notícia
Pena capital é aplicada em 32 dos 50 estados americanos, mas a resistência a ela entre a população é cada vez maior, também por parte de associações de vítimas. Kristin Froehlich luta para manter a compostura ao falar do assassinato de seu irmão David. Já faz 19 anos que ele e quatro amigos foram mortos por seu senhorio no estado de Connecticut, mas para Kristin ainda é difícil tocar no assunto. Nesse dia, contudo, ela tem de encontrar as palavras certas, depois de viajar especialmente à capital americana, Washington, para falar de suas experiências, do sentimento de impotência, do luto. Mas também sobre a pena de morte. "As vítimas necessitam outros meios, além da execução ou da sentença de morte, para que suas feridas cicatrizem e para que possam dar prosseguimento às suas vidas", diz Kristin, discursando em frente à escadaria da Suprema Corte Americana para um grupo de manifestantes, que irrompe em júbilo com suas palavras. Esse tribunal é a única instância em nível federal que pode invalidar todas as sentenças de morte. Em casos especiais, o presidente tem o direito de perdão, mas nos EUA a pena de morte é da competência dos estados. Em Delaware, onde vive Kristin, execuções são permitidas ainda. Mais críticas e proibições Pois o número de opositores da pena capital cresce no país. De acordo com a pesquisa mais recente do instituto de opinião pública Pew Research Center, 55% dos americanos ainda são a favor dela todavia uma percentagem bem inferior aos 78% registrados na década de 1990. Ao mesmo tempo, aumenta o número de estados em que as execuções são proibidas. Nos últimos sete anos, Nova Jersey, Novo México, Illinois, Connecticut e Maryland as aboliram. Outras iniciativas populares ainda estão por vir, no Colorado, Califórnia, Delaware, entre outros. Para Abraham Bonowitz, esse é um bom sinal. Ele pertence ao Abolition Action Committee, que defende a abolição de execuções em todos os Estados Unidos, onde atualmente a pena de morte é aplicada em 32 estados. A próxima execução, de Eddie Davis, está prevista para esta quinta-feira (10/07) na Flórida. Na Geórgia, a execução de Tommy Lee Waldrip, também marcada para esta quinta, foi transformada em prisão perpétua na véspera. Ambos foram condenados por assassinatos no início da década de 1990: Waldrip pelo assassinato de um homem que iria testemunhar contra seu filho; Davis pelo estupro e morte da filha de 11 anos de sua ex-namorada. Antes, o ativista Abraham Bonowitz considerava tais medidas legítimas. Mas o republicano mudou de apoiador a adversário. "Em algum momento, compreendi que não é possível matar todos os assassinos. E como decidir quais criminosos devem ser executados? Notei que geralmente escolhemos gente pobre, que não pode pagar um advogado e que matou alguém de cor branca. Isso não tem mais nada a ver com justiça." "Fome pela justiça" De camiseta branca, com a imagem do prédio da Suprema Corte impresso na frente e os dizeres "Fome de justiça" nas costas, todos os anos o ativista vai a Washington no início de julho, para jejuar por alguns dias. Ele monta quadros informativos e procura sensibilizar a população com palestras como a de Kristin Froehlich, entre outros recursos. "Cada vez mais pessoas se sentem desconfortáveis com a pena de morte", declara o ativista. "Isso não significa automaticamente que elas sejam contra. Mas quando lhes é oferecida uma alternativa, como, por exemplo, a prisão perpétua, então elas preferem essa opção." Um dos motivos para a crescente desconfiança popular é o número de erros da Justiça, comenta Sarah Croft, da organização sem fins lucrativos Equal Justice USA. "Existem cada vez mais histórias sobre gente que foi injustamente condenada à morte e libertada em seguida". Por isso ela se uniu aos manifestantes nas escadarias da Suprema Corte. Entre amedrontar e reparar O Centro de Informação sobre a Pena de Morte registra, atualmente, 144 casos de exoneração de culpa após uma condenação à pena capital. Porém o número de inocentes que ainda estão na prisão é muito maior, alerta Sarah Croft. A ativista espera que tais informações levem a população a se posicionar contra a pena de morte. A poucos metros dos manifestantes encontra-se o Eric Christiansen. O engenheiro texano, de férias com sua família na capital americana, não simpatiza com as ideias do abolicionismo penal. "Eu sou a favor da pena de morte. Só gostaria que ela tivesse um efeito ainda mais amedrontador." O republicano de 44 anos não é o único com essa opinião. "É preciso pensar nas famílias das vítimas", argumenta Jacob Sullic, de 18 anos. "Se elas querem a pena de morte, então é preciso lhes garantir esse direito." Trent, seu irmão mais velho, concorda: "Eu não gostaria de ser aquele a apertar o botão que vai matar outra pessoa. Mas se alguém tivesse matado um membro da minha família, provavelmente eu não hesitaria." Vitória em 15 anos Este ano, Oklahoma, estado de onde vêm os irmãos, ganhou uma triste notoriedade devido a uma execução fracassada: uma mistura tóxica da injeção letal não funcionou e o condenado agonizou dolorosamente por mais de 40 minutos. Casos como esse mudaram a atitude dos americanos, relata Sarah Croft. "Desde a execução fracassada, a discussão entrou em andamento. E possibilitou a muitos expressarem abertamente a sua opinião." Por exemplo, no estande de informações de Abraham Bonowitz. Ele conta que, neste ano, muito mais cidadãos do que de costume procuraram se informar. Isso lhe dá coragem para o futuro. "Daqui a 10 ou 15 anos, um número tão grande de estados terá abolido a pena de morte que a Suprema Corte terá de agir" exatamente como no caso da execução de menores de idade, abolida desde 2005. "São apenas pequenos passos que estamos dando. Mas vamos vencer." Até lá, Abraham pretende jejuar todos os anos.

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente