Anistia denuncia centenas de sequestros e torturas no leste da Ucrânia
Separatistas são responsáveis pela maioria dos casos, mas forças pró-Ucrânia também são denunciadas. Entre as vítimas estão ativistas, manifestantes e jornalistas.
Centenas de casos de sequestros e tortura foram registrados no leste da Ucrânia entre os meses de abril e junho deste ano, denunciou a organização de direitos humanos Anistia Internacional (AI) em relatório publicado nesta sexta-feira (11/07).
A maior parte dos casos foi cometida por separatistas armados, embora também haja evidências de um número menor de abusos por parte das forças pró-Kiev, diz a Anisita, que afimoru dispor de provas contundentes de espancamentos, sequestros e outras formas de tortura.
Os casos aconteceram nas regiões de Donetsk e Lugansk, no leste do país, onde cidades importantes são disputadas por forças do governo e separatistas. Segundo o relatório, intitulado Sequestros e Tortura no Leste da Ucrânia, a maioria dos casos tem motivação política, mas alguns pretendem incutir medo e outros visam resgates.
"Eles me bateram com os punhos, com uma cadeira, com tudo que encontravam. Apagaram cigarros na minha perna e me eletrocutaram. Durou tanto que eu não sentia mais nada, simplesmente desmaiei", revela Sasha, de 19 anos, membro das forças pró-Kiev em Lugansk. Ele só foi libertado depois que seu pai pagou uma fiança de 60 mil dólares (cerca de 130 mil reais).
O texto também traz uma declaração de Hanna, uma ativista pró-Ucrânia que teria sido sequestrada em maio por homens armados em Donetsk: "No final do interrogatório ele disse 'reza agora, eu vou te matar', e então fez um corte [na parte de trás] do meu pescoço com uma faca."
Hanna foi refém dos separatistas por seis dias antes de ser liberada como parte de uma negociação de troca de prisioneiros. Durante esse tempo, ela conta ter sido espancada, cortada com uma faca e forçada a escrever uma mensagem pró-Rússia na parede com o próprio sangue.
Forças do governo também foram acusadas de perpetrarem abusos. Vladislav Aleksandrovich, um garoto de 16 anos, teria sido sequestrado após postar um vídeo no Youtube que mostrava uma operação policial em Mariupol, cidade que "trocou de poder" duas vezes nos últimos dois meses. Ele afirma ter sido torturado, espancado e obrigado a escrever "uma declaração para o povo da Ucrânia", além de ter que gritar frases nacionalistas ucranianas.
Não há números confiáveis sobre o número de sequestros, mas a missão da ONU para a Ucrânia registrou 222 incidentes nos últimos três meses, enquanto que o Ministério do Interior fala em quase 500 casos no período, incluindo 39 jornalistas.
Entre as vítimas estão também ativistas, políticos, membros de comissões eleitorais, empresários, policiais, militares e funcionários do governo. Grupos de auto-ajuda consultados pela AI também forneceram uma lista com mais cem nomes de civis que viraram reféns. A maioria deles relata episódios de tortura.
"A situação anárquica no leste da Ucrânia tem sido facilitada pela erosão do domínio da lei [rule of law] ao longo dos últimos seis meses, período no qual foram registradas anistias para autores de crimes", disse a Anistia, que também pediu a libertação imediata de todos os reféns, além de mais investigações sobre abusos de direitos nos dois lados do conflito.
"Com o sequestro de centenas de pessoas ao longo dos últimos três meses, é chegada a hora de analisar o que aconteceu e de travar esta abominável prática", disse o subdiretor da Anistia para a Europa e Ásia Central, Denis Krivosheev.
IP/afp/rtr/lusa/ots
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