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Opinião: Rei Felipe 6º tem agora uma oportunidade histórica

12:45 | Jun. 19, 2014
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A realeza continua sendo instrumento vital de relações públicas para Espanha e outras monarquias parlamentares europeias. Mas não é fácil justificar, hoje, uma instituição ameaçada pelo anacronismo, opina Laura Iglesias. Quando o então príncipe herdeiro Felipe visitou o pavilhão da Espanha na Expo 2000, em Hannover, Alemanha, representantes da mídia alemã e estrangeira se acotovelavam, impacientes por sua chegada. Por outro lado, o interesse da imprensa era muito menor se se tratava do presidente de outra república europeia, com as mesmas funções representativas que os reis das monarquias parlamentares do continente. Deste ponto de vista, não há melhores encarregados de relações públicas para um país, do que as famílias reais. Por ocasião da proclamação do novo monarca espanhol, contudo, cabe perguntar se esse glamour é condizente com os tempos atuais ainda que seja um meio eficaz de promover o nome de uma nação. Após o fim da ditadura franquista, ao aprovar em referendo a Constituição de 1977, a maioria dos espanhóis legitimou a monarquia parlamentar como uma das instituições da Espanha democrática. Hoje, quase 40 anos mais tarde, muitos espanhóis gostariam que esse teste de legitimação fosse renovado, pois o país já não é o mesmo de 1977. Se antes os partidários de uma república eram minoria em 1998, somente 11%, perante 78% de monarquistas , agora a alternativa entre ela e a monarquia parlamentar gera debates constantes na Espanha. Cresce a oposição à existência de privilégios por motivos de linhagem, e ao fato de a vontade expressa por gerações passadas comprometer a geração presente. A proibição de uma manifestação dos partidários da república em Madri, no dia da entronização de Felipe 6º, não é exatamente um incentivo ao debate construtivo. As autoridades alegam ter proibido a passeata por razões de segurança e para tal sacrificaram o direito à liberdade de expressão. Apesar de sua vinculação pessoal ao ditador espanhol Franco, e de sua infeliz visita ao ditador argentino Rafael Videla no momento mais duro do regime militar que resultou em mais de 30 mil desaparecidos, desde sua atuação em seguida ao golpe de Estado de 1981 o ex-rei Juan Carlos 1º foi considerado a garantia da democracia na Espanha. Esse fato sustentou durante décadas a monarquia parlamentar no país. No entanto, qual é, agora, a legitimação de Felipe 6º diante dos espanhóis? Bastam sua linhagem, sua formação privilegiada e suas qualidades pessoais para que ele herde o direito e o dever de representar a Espanha? Ele detém autoridade suficiente para atuar como mediador entre os diferentes protagonistas políticos do país? Essa legitimação, o novo rei deve obter dos espanhóis, independente de seus direitos dinásticos, com uma atuação moderada, tolerante e compreensiva tanto com as distintas identidades históricas e culturais que convivem sob o nome de "Espanha", como com as sensibilidades e as necessidades de um país ainda não recuperado da pior crise econômica do último século, detentor de um dos piores índices de desemprego do continente. As funções representativas de uma casa real estão bem longe de ser passeios por lazer: elas são trabalho duro. A maioria dos espanhóis deve estar realmente convencida de que esse trabalho se realiza para eles e em seu nome e não em benefício da própria realeza. Esse é o principal desafio de Felipe 6º: conferir legitimidade democrática a uma instituição ameaçada pelo anacronismo. Ele tem a oportunidade histórica de ser bem sucedido.

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