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Alemães levam para a Bahia experiência em lidar com situações críticas

10:25 | Jun. 09, 2014
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Parceria leva à região de Porto Seguro o know-how para lidar com situações de emergência, criado desde o ataque terrorista nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972. A queda de um avião no litoral de Porto Seguro, um incêndio na sala de embarque de um aeroporto, um ataque a gás com mortos e feridos numa cidade-sede da Copa do Mundo. Christoph Unger prefere não pensar em cenários como esses. Mesmo assim, o presidente do Departamento Federal para Proteção da População e Auxílio em Catástrofes (BBK, responsável em nível federal pela defesa civil) da Alemanha e seus funcionários têm de considerar os piores acidentes para poder desenvolver políticas de segurança adequadas, especialmente pensadas para a região de Porto Seguro, na Bahia, onde a seleção do técnico Joachim Löw vai se hospedar, além de inúmeros torcedores e jornalistas. Como salvar e dar a necessária assistência médica e psicológica o mais rápido possível numa situação em que há vários feridos? "Para perguntas objetivas como essa existem procedimentos padronizados", explica Unger. Seus funcionários desenvolveram políticas de segurança para a Copa de 2006, na Alemanha e, depois, aconselharam os organizadores do Mundial de 2010, na África do Sul. E, há dois anos e meio, o BBK e as autoridades que se ocupam da Copa em Porto Seguro trabalham juntos. Além deles, o Corpo de Bombeiros da cidade de Dortmund também está representado. "O Brasil não se encontra em conflito com seus vizinhos. Por isso há falta de know-how", diz o bombeiro alemão Detlev Harries. Aprendizado com os Jogos de 1972 De acordo com Harries, após o ataque terrorista nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, a Alemanha desenvolveu políticas de segurança para ataques e situações de crises: "Nós conseguimos alcançar algo no quesito comunicação em situações de crise. É importante mostrar empatia com os feridos e seus familiares, e falar sempre a verdade", exemplifica. Corpo de Bombeiros, polícia, equipes de resgate e médicos, por exemplo, não devem dar mensagens públicas contraditórias, mas combinar o que será informado sobre o número de possíveis feridos. Se isso não acontecer, as instituições não vão ser dignas de crédito e vão virar imediatamente alvo de críticas. "Não temos a pretensão de dizer aos colegas brasileiros como eles devem agir. Nós apenas explicamos como nós atuamos em casos de emergência", diz Harries. Cabe aos anfitriões da Copa decidir se querem aprender com essa experiências ou se desejam fazer o trabalho de outro jeito, completa. Com figurantes, houve a simulação de um grande acidente, com as equipes de socorro nos hospitais trabalhando sob pressão. Também foram discutidas formas de lidar com armas químicas ou radiológicas. "Os brasileiros não estão tão bem preparados para situações assim. Nós, ao contrário, acumulamos muita experiência de como lidar com essas ameaças", diz Unger. Falta de recursos Na central do BBK localizada em Bonn, funcionários estão 24 horas em ação. Em monitores, eles dispõem de uma perspectiva geral de onde ocorrem catástrofes, como guerras, conflitos, terremotos ou condições meteorológicas desfavoráveis. Na tela dos computadores, eles podem analisar e identificar os potenciais riscos e coordenar o aconselhamento psicológico, além de organizar questões técnicas e administrativas. Se um alemão, por exemplo, morre no exterior, os funcionários podem providenciar a certidão de óbito e até organizar o serviço funerário à distância. No Brasil, comenta Unger, ainda não existe esse tipo de infraestrutura. "O maior problema é a falta de recursos. Existem poucos hospitais públicos, e eles estão sempre saturados. Em caso de catástrofe, a situação ficaria crítica", diz. Bombeiros distantes "O Brasil é um país emergente. Para a região de Porto Seguro, com 30 mil quilômetros quadrados, estão à disposição apenas 14 homens do Corpo de Bombeiros. Esse número é assustador se comparado aos da Alemanha", comenta Unger. Podem ser necessárias várias horas para se chegar até os focos de incêndio. Harries dá como exemplo o caso de haver um incêndio no alojamento da seleção alemã, em em Santa Cruz Cabrália. "O Corpo de Bombeiros mais próximo se localiza a 30 quilômetros de distância. Num caso de necessidade, eles tem que pegar uma balsa, e a estrada passa pelo litoral. Se houver inundações, haverá interrupção do trânsito numa parte da estrada." A parceria entre a Alemanha e o Brasil deverá continuar após a Copa do Mundo. O Brasil pediu a ajuda do BBK e do Corpo de Bombeiros de Dortmund para a construção de um Corpo de Bombeiros voluntário. Além disso, os alemães deverão aconselhar os brasileiros a como lidar com catástrofes naturais, como deslizamentos de terra.

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