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Putin ameaça recorrer à força contra a Ucrânia

Presidente alertou a Moldávia, um pequeno país pró-europeu, declarando que a Transnístria, um território separatista, deveria poder "decidir seu próprio futuro"
11:01 | Abr. 17, 2014
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O presidente russo, Vladimir Putin, ameaçou nesta quinta-feira, 17, recorrer à força na Ucrânia, em meio a negociações em Genebra entre a Rússia, os Estados Unidos, a União Europeia e a Ucrânia em busca de uma solução para a pior crise desde a Guerra Fria.

A reunião ocorre em um contexto de extrema tensão no terreno. As forças de segurança ucranianas responderam a um ataque contra uma unidade da Guarda Nacional na cidade de Mariupol, sul do país, e mataram três pessoas. Durante uma longa sessão de perguntas e respostas exibidas pela televisão russa, o presidente Putin elevou o tom, advertindo "que espera não ser obrigado a recorrer" ao envio de suas Forças Armadas para a Ucrânia.

O chefe do Kremlin, que esta semana já havia citado o risco de guerra civil no país vizinho, declarou que a única saída para as autoridades ucranianas é o diálogo e que o recurso à força leva o país ao abismo.

"Ao invés do diálogo (as autoridades ucranianas), começaram a ameaçar a ainda mais e enviaram os tanques e a aviação contra a população civil. É, mais uma vez, um crime grave dos que estão no poder em Kiev", completou. O presidente russo advertiu ainda que um agravamento da crise poderia obrigá-lo a enviar tropas ao país vizinho.

"Espero realmente não ser obrigado a usar este direito", disse, antes de recordar que o Parlamento russo autorizou em 1º de março o envio de tropas para defender os direitos dos russos e das pessoas que têm o russo como primeira língua, majoritários no leste da Ucrânia.

Ao ser questionado sobre o envolvimento das forças russas nos distúrbios na Ucrânia, Putin respondeu que "tudo isto não passa de bobagem". E assegurou que a Otan não "lhe dá medo". "Nós poderíamos abafar todos, por que teríamos medo?", insistiu o presidente em resposta a uma jornalista russa.

Por fim, o presidente alertou a Moldávia, um pequeno país pró-europeu, declarando que a Transnístria, um território separatista, deveria poder "decidir seu próprio futuro".

A reunião diplomática em Genebra acontece em um grande hotel e tem a presença dos ministros das Relações Exteriores ucraniano e russo, Andrei Deshchitsia e Serguei Lavrov, respectivamente, além do secretário de Estado americano John Kerry e da chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton.
Diplomatas americanos confidenciaram que esperavam um "verdadeiro diálogo" entre Moscou e Kiev e uma "desescalada" das tensões no leste da Ucrânia. A secretária de Estado adjunta para a Europa, Victoria Nuland, declarou, no entanto, que os Estados Unidos não tinham "muitas expectativas" sobre essas negociações.

Mas, sinal de que ainda há muito a negociar, a UE já aceitou a proposta do presidente Putin de organizar um encontro sobre a questão do fornecimento de gás russo através da Ucrânia e destacou que a credibilidade de Moscou está em jogo.

"É de nosso interesse comum organizar rapidamente negociações que incluam a Ucrânia", afirmou o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, em uma carta na qual considera que a "credibilidade contratual da Rússia como fornecedor de gás está em jogo".

Putin enviou uma carta na semana passada, na qual ameaçou deixar de entregar o gás à Ucrânia, por onde transita parte do produto que vende à UE, caso Kiev não pague suas dívidas.

Mas Putin também assegurou que a Rússia "garantirá o respeito à totalidade de suas obrigações para com os consumidores europeus. Poucas horas antes do início da reunião, as forças de segurança ucranianas responderam a um ataque contra uma unidade da Guarda Nacional na cidade de Mariupol, sul do país. Três pessoas morreram e 13 ficaram feridas entre os agressores, segundo o ministério do Interior.

Os criminosos integravam um grupo de quase 300 homens armados. Sessenta e três foram detidos e nenhum integrante da Guarda Nacional foi ferido.
Quarta-feira, a confrontação com os insurgentes do leste se traduziu em derrota para as forças do poder pró-europeu de Kiev.

As forças leais ucranianas acumularam fracassos em Slavjansk, cidade emblemática da última série de insurreições pró-russas, controlada desde sábado por forças separatistas.

Uma coluna de blindados enviada como parte da "operação antiterrorista", lançada por Kiev para retomar o controle da cidade, foi bloqueada por manifestantes pró-russos. Seis tanques foram apreendidos por um grupo de combatentes não identificados. Depois de horas, os militares ucranianos acabaram por depor suas armas.

De acordo com Kiev e os ocidentais, estes grupos armados, ironicamente chamados de "homens verdes" na Ucrânia, são de fato soldados russos de elite, como aqueles que atuaram na Crimeia, antes da anexação da península ucraniana à Rússia em março.

AFP

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