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Referendo na Crimeia expõe interesses políticos e econômicos da Rússia

13:10 | Mar. 15, 2014
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Cerca de 1,8 milhão devem decidir sobre anexação da região à Rússia e península ucraniana ameaça tornar-se um novo palco de guerra na antiga União Soviética. Em jogo estão também grandes reservas de gás natural. Cerca de 1,8 milhão de pessoas estão aptas para votar neste domingo (16/03) no referendo que vai decidir sobre o futuro da República Autônoma da Crimeia. Os eleitores poderão escolher se a península localizada no Mar Negro deverá ser anexada à Rússia ou se deve permanecer parte da Ucrânia. Diante do referendo, o Ocidente endureceu o tom e ameaçou a Rússia com sanções, caso a anexação venha a se concretizar. Mas o que realmente está em jogo na Crimeia? Até agora, a península viveu do turismo, mas em breve isso deverá mudar. Acredita-se que a região possui grandes reservas de gás natural, o que também explica os interesses russos pela península ucraniana. Passado turbulento A península no Mar Negro possui o tamanho de um país como a Suíça e um clima como o da Riviera Francesa. Sua história é bastante turbulenta. Até a região ser povoada pelos russos, ela foi dominada durante séculos pelo povo nômade dos citas, por gregos, tártaros e turcos. "A Crimeia sempre foi a menina dos olhos do Império Russo", disse Wilfried Jilge, especialista em Leste Europeu da Universidade de Leipzig, em entrevista à DW. Segundo ele, o sonho dos czares russos era ter um acesso ao Mar Negro. Catarina, a Grande, realizou tal sonho e, em 1783, a Crimeia tornou-se parte do Império Russo. Somente em 1954, a península russa foi incorporada administrativamente à república soviética da Ucrânia. A iniciativa partiu do então líder do Partido Comunista da União Soviética, Nikita Kruschev. Escalada após a dissolução da União Soviética Após o desmantelamento da União Soviética, em 1991, a Crimeia tornou-se parte da Ucrânia independente. Isso levou a tensões, já que dois terços da população da península são de origem russa. Em 1992, o Parlamento russo anulou a decisão de Kruschev. A Crimeia declarou a sua independência da Ucrânia. O governo em Kiev conseguiu, no entanto, acalmar a situação. Em 1994, o conflito veio novamente à tona. A Crimeia escolheu Yuri Meshkov como presidente, que promoveu a anexação à Rússia. Mais uma vez, no entanto, Kiev conseguiu contornar a situação e manter a Crimeia em seu território. O cargo de presidente da Crimeia foi abolido e Meshkov fugiu para a Rússia. A disputa com a Rússia sobre a partilha da frota do Mar Negro durou até a assinatura de um acordo de parceria em 1997. Na realidade, até 2017, a Rússia teria que retirar as suas tropas da Crimeia mas sob o governo de Viktor Yanukovytch, o acordo de parceria foi prorrogado até 2042. Maioria pró-russa e tártaros Não existem pesquisas recentes sobre como as pessoas veem o futuro da Crimeia, mas existem números que apontam indiretamente para isso. Somente 31% dos habitantes da Crimeia apoiam a Ucrânia como Estado independente, enquanto 36% são contra principalmente os russos. Esses foram resultados de uma pesquisa realizada em junho de 2013 pelo Centro Razumkov de Kiev. Na Crimeia, no entanto, também vivem ucranianos e tártaros, que rejeitam uma separação da Ucrânia. Em 1944, Stalin deportou tártaros da Crimeia para a Ásia Central, porque, durante a ocupação na Segunda Guerra Mundial, eles teriam colaborado com a Alemanha nazista. Nos últimos 20 anos, os tártaros têm voltado à sua terra natal e, com cerca de 300 mil pessoas, perfazem hoje quase 14% da população da península. "Tradicionalmente, os tártaros da Crimeia são pró-ucranianos e veem o seu futuro num Estado ucraniano", disse Jilge, da Universidade de Leipzig. Grandes reservas de gás natural Mas, na Crimeia, o que está em jogo não é somente a política. Se a região realmente se separar de Kiev, isso será um duro golpe para a economia da Ucrânia. Até agora, a península viveu do turismo. Mas isso em breve deverá mudar, pois se suspeita que, na própria Crimeia e no Mar Negro, existam grandes reservas de gás natural. No final de 2013, o governo ucraniano planejou um acordo com um consórcio internacional liderado pela gigante americana do setor energético ExxonMobil para a prospecção de gás e petróleo no Mar Negro. A assinatura do acordo, no entanto, foi adiada. Segundo estimativas do Ministério da Energia em Kiev, a partir de 2017 deveriam ser produzidos até 10 bilhões de metros cúbicos de gás natural por ano. Isso iria diminuir significativamente a dependência ucraniana do gás natural da Rússia.

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