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Conflito na Síria completa três anos sem fim à vista

15:47 | Mar. 15, 2014
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O que começou em março de 2011 como um movimento democrático de protesto na esteira da Primavera Árabe transformou-se numa guerra sangrenta. Crise na Ucrânia beneficia regime de Assad. Enquanto a comunidade internacional observa atentamente os desenvolvimentos na Ucrânia, outro conflito perde cada vez mais o interesse da opinião pública. Nos últimos três anos, uma guerra brutal vem assolando a Síria. Estima-se que 140 mil pessoas já tenham morrido nos confrontos. Mesmo assim, ainda não se vislumbra um fim para a guerra civil, que já provocou a fuga de 2,4 milhões de pessoas. O levante popular contra o regime de Bashar al-Assad já se transformou há muito tempo numa guerra confusa e com muitas frentes. Diferentes grupos lutam entre si pela hegemonia regional. Inimigos desde o início Segundo André Bank, especialista em Síria do Instituto de Estudos Globais e Regionais (Giga), de Hamburgo, atualmente é possível dividir as partes conflitantes em quatro grupos maiores. O primeiro grupo é formado pelos apoiadores de Bashar al-Assad. Além das unidades do Exército sírio fiéis ao regime, esse grupo também inclui as milícias. "São as chamadas Shabiha antigas redes criminosas que ganharam bastante influência nos últimos anos", afirma Bank. No segundo grupo está o Exército Sírio Livre uma coalizão de diferentes associações de milícias, fundado em julho de 2011. Essas foram as primeiras unidades armadas que lutaram com o regime de Assad, disse Bank, afirmando ainda que muitos dos combatentes seriam desertores do Exército regular sírio. Novas frentes As milícias islamistas formam o terceiro grupo. Por sua vez, elas se diferenciam entre si, mas são também bastante fortes. Entre elas, estão o Isis (Estado Islâmico do Iraque e da Síria, em inglês) e também a frente Al Nusra. Como milícias jihadistas, ambas estão próximas da rede Al Qaeda. "Às vezes, estes dois grupos lutam até mesmo um contra o outro", explicou o especialista do Giga. No início do ano, o líder da Al Qaeda, Ayman al-Zawahiri, distanciou-se claramente do Isis. O quarto grupo é formado pelas milícias curdas. "Aqui o partido PYD, o desdobramento do partido turco-curdo PKK e suas unidades de combate estão em ação." Eles controlam as regiões na fronteira com a Turquia e norte do Iraque. Nessa situação confusa de conflito, até agora, a comunidade internacional não obteve nenhuma solução para dar um fim ao derramamento de sangue. A Rússia e o Irã são considerados os apoiadores mais importantes de Assad. Já o Ocidente está do lado das forças moderadas do Exército Sírio Livre. A Arábia Saudita e os Estados do Golfo apoiam os oposicionistas islamistas, apesar de há poucos dias o governo saudita ter proibido o Isis e a frente Al Nusra, após classificá-los oficialmente como grupos terroristas. Negociações sem resultados Também a Conferência Internacional sobre a Síria, que aconteceu em janeiro e fevereiro deste ano, em Genebra, na Suíça, sob a direção do enviado especial das Nações Unidas Lakhdar Brahimi, não trouxe avanços. O regime Assad chama a oposição de "terroristas", com quem é impossível formar um governo de transição. A oposição, por sua vez, condiciona a formação de um novo governo à saída de Assad. Não se sabe, porém, até que ponto as partes negociadoras têm alguma influência sobre os combatentes locais. Apesar disso, é preciso dar continuidade a esse processo, disse Volker Perthes, especialista em Oriente Médio e diretor do Instituto de Relações Internacionais e de Segurança (SWP) em Berlim. "É importante que esse processo de Genebra exista." Perthes sugere que tal processo seja complementado. Para ele, é possível organizar um encontro de diferentes grupos sociais, "que são reunidos pela primeira vez para conversar entre si e discutir se realmente querem um Estado unitário comum e, se a resposta for positiva, como esse Estado deve ser." Afinal de contas, disse Perthes, a sociedade está definitivamente interessada numa transição. "São os grupos armados que não querem a transição, o comprometimento e a divisão do poder." A influência das potências mundiais Essa transição só pode ser bem-sucedida se os EUA e a Rússia encontrarem uma posição comum. Foi a pressão dos dois países que levou, finalmente, Assad a ceder quanto à destruição das armas químicas, mas a implementação do plano transcorre lentamente. Segundo dados da Organização para a Proibição das Armas Químicas (Opaq), a Síria está disponibilizando só muito lentamente o seu arsenal de armas químicas para a destruição. Um porta-voz do Departamento de Estado americano criticou que, dessa forma, possivelmente a Síria não irá cumprir o prazo para destruir todas as suas armas químicas até junho deste ano. O conflito na Ucrânia e o subsequente esfriamento de relações entre Moscou e Washington veio a beneficiar Assad. A Rússia irá se mostrar menos cooperativa e os países ocidentais terão menos interesse numa cooperação com a Rússia. "Um estrategista como Assad vai perceber isso e vai se sentir menos forçado a continuar cooperando com os inspetores de armas químicas", afirmou Perthes.

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