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Merkel viaja com 16 ministros a Israel

15:34 | Fev. 24, 2014
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Megacomitiva tenta aparar arestas das relações entre alemães e israelenses, recentemente abaladas pela questão dos assentamentos judaicos. Clima é de distensão, mas grandes divergências não devem ser superadas. "Nunca se viu algo assim". Foi com certo tom de orgulho que Steffen Seibert, porta-voz do governo alemão, anunciou a agenda da chanceler federal em Israel. Angela Merkel embarcou nesta segunda-feira (24/02) para a quinta reunião bilateral de consultas entre a Alemanha e Israel, em Jerusalém, acompanhada de 16 ministros ou seja, quase todo o seu gabinete. As conversas estarão centradas na cooperação de pesquisa e nos preparativos para a celebração do 50° aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre a República Federal da Alemanha e Israel. Além disso, haverá também um programa de encontros bilaterais da chanceler com líderes israelenses. Merkel tem na agenda encontros com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o presidente Shimon Peres. Do chefe de Estado, receberá a mais alta condecoração israelense, a Medalha de Distinção de Israel. Através da condecoração, Peres pretende honrar o especial comprometimento de Merkel com as relações entre os dois países. Parceria abalada As relações, porém, não atravessam seu melhor momento. O jornal israelense Haaretz escreveu, recentemente, que elas estariam piores do que nunca. Para essa análise, a publicação se apoia na revista alemã Spiegel, querelatou sobre profundas divergências entre Merkel e Netanyahu. Os dois teriam até gritado ao telefone. O governo alemão rejeita a política israelense de assentamentos a considera um obstáculo à paz. Israel, por outro lado, insiste no avanço das atividades de assentamento em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia provocando aborrecimento nos europeus. Após as últimas consultas de governo com a presença de Netanyahu, em dezembro de 2012, Merkel declarou quase resignadamente: "É preciso evitar ações unilaterais. Isso também leva ao fato de que, na questão dos assentamentos, nós concordamos que não estamos de acordo." A disputa em torno da política de assentamentos levou, no ano passado, também a uma crise nas relações entre Israel e União Europeia (UE). Em julho do ano passado, Bruxelas anunciou as diretrizes do bilionário programa de apoio à pesquisa Horizonte 2020. Elas estabelecem que nenhum centavo desse programa deva beneficiar projetos israelenses nas regiões ocupadas. Só em novembro os dois lados chegaram a um acordo, que permite a Israel participar do programa, sem o reconhecimento explícito da ilegalidade dos assentamentos. Ao mesmo tempo, esse acordo estabelece que nenhum financiamento europeu deva ser destinado a instituições de pesquisa israelenses nas regiões ocupadas. Em janeiro, o governo alemão surpreendeu Israel com o anúncio de que, também na cooperação bilateral de pesquisa, as diretrizes europeias iriam ser observadas. As restrições deveriam valer também para o apoio a empresas privadas. No futuro, elas também deverão se comprometer a utilizar o financiamento para projetos somente dentro da chamada Linha Verde, ou seja, dentro da fronteira internacionalmente reconhecida de Israel. Temor de boicote Em Israel, tais intenções provocaram burburinho. O governo teme um movimento internacional de boicote, que poderia pôr o Estado de Israel em descrédito e atingir a economia do país. Os primeiros sinais já se anunciaram. O maior banco da Dinamarca, Danske Bank, cancelou os seus negócios com o banco israelense Hapoalim. Segundo a justificativa da instituição dinamarquesa, o Hapoalim estaria financiando a construção de assentamentos, violando assim o direito internacional. Pelo mesmo motivo, o Ministério norueguês das Finanças anunciou que instruiu os fundos de pensão estatais para que excluam dois investidores israelenses envolvidos em projetos de assentamento em Jerusalém Oriental. Também a campanha internacional pró-palestina BDS pode apontar em direção a um crescente sucesso. Ela propaga boicote, desinvestimentos e sanções a Israel, contra instituições e produtos israelenses. A campanha não se limita aos assentamentos. O apelo de boicote a Israel também se dirige a cientistas e promotores culturais. Celebridades como a escritora canadense Naomi Klein, a autora Alice Walker e o músico fundador do Pink Floyd, Roger Waters, já atenderam a esse apelo, evitando ou cancelando apresentações em Israel. Atrito com eurodeputado Talvez tenha sido o medo do isolamento internacional que levou a reações violentas no Parlamento israelense, o Knesset, ao discurso de Martin Schulz em 12 de fevereiro de 2014. Dirigindo-se aos parlamentares israelenses, o eurodeputado social-democrata alemão abordou a distribuição desigual de água entre israelenses e palestinos, provocando uma avalanche de protestos. O ministro da Economia israelense, Naftali Bennett, acusou Schulz de propagar mentiras e retirou-se do plenário acompanhado de sua bancada partidária. "Eu não aceito mentiras dos alemães", afirmou Bennet, que exigiu um pedido de desculpas do presidente do Parlamento Europeu. No final, no entanto, foi Bennett que teve de se reconciliar com Schulz em sua visita a Bruxelas na semana passada. O clima parece ser de distensão entre os políticos israelenses e alemães pouco antes das conversas bilaterais entre os dois países. No entanto, as diferenças fundamentais de opinião em relação à política de assentamento não deverão ser superadas, mesmo num encontro dessas proporções.

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