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Líder mais longevo da África, Mugabe completa 90 anos

13:31 | Fev. 21, 2014
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Tido como ditador por grande parte do Ocidente e alvo de sanções da União Europeia, presidente do Zimbábue está há mais de três décadas no poder, em grande parte devido ao apoio quase incondicional de países vizinhos. Robert Mugabe um ditador? Para Baffour Ankomah, que conhece pessoalmente o presidente do Zimbábue, isso soa absurdo. "Quando se lê a impressa ocidental, pode-se acreditar que ele devora seu povo no café da manhã, no almoço e no jantar. No entanto, quando alguém o conhece pessoalmente, vivencia uma pessoa completamente diferente", disse o editor-chefe da revista New African, publicada em Londres. "Particularmente impressionante é o seu grande sentimento de humanidade." Na mídia internacional, o jornalista de Gana e também a sua revista pertencem ao rol dos fãs de Mugabe. Para ele, o ditador contra quem a União Europeia (UE) impôs sanções devido a graves violações dos direitos humanos ainda é um combatente da liberdade. A revista New African não está sozinha em sua admiração por Mugabe. Em 2004, pediu aos leitores que escolhessem os cem africanos mais importantes. O ditador zimbabuano ocupou o terceiro lugar, atrás de Nelson Mandela e do fundador da República de Gana, Kwame Nkrumah. No entanto, na celebração dos 90 anos de Mugabe, nesta sexta-feira (21/02), as mensagens de parabéns provenientes do Ocidente deverão ser escassas. Mas até as décadas de 1980 e 1990, isso era bem diferente: anteriormente, Mugabe, que desde a independência de seu país (1980) encontra-se ininterruptamente no poder, era cortejado pelo Ocidente, chegando a ser nomeado cavalheiro pela rainha Elizabeth 2ª e a receber diversos títulos de doutor honoris causa. O fato de soldados terem massacrado, a mando de Mugabe, os apoiadores do arquirrival do ditador, Josuah Nkomo, pouco interessou no passado. Somente a partir do ano 2000, quando terras de latifundiários brancos que até aquele momento controlavam o setor agrícola no Zimbábue foram ocupadas por milícias, com a anuência de Mugabe, o velho presidente passou a ser visto como um ditador pelo Ocidente. Solidariedade de africanos Entre as vítimas do regime Mugabe, o chefe de Estado mais velho da África e o segundo mais longevo do mundo, não estão somente brancos ricos. Em 2005, as tropas de Mugabe avançaram contra os moradores de favelas na capital Harare e em outras grandes cidades do país. Mais de 50 mil casas foram destruídas, 30 mil pessoas foram presas e por volta de 1 milhão de pessoas ficaram desabrigadas. Os críticos acreditam que foi uma ação deliberada, porque os moradores das comunidades pobres tinham a reputação de estar próximos da oposição. Também a prisão de sindicalistas e membros da oposição provocou manchetes negativas no Ocidente. A pobreza aumentava rapidamente. Durante certo período, o Zimbábue apresentou a taxa de inflação mais alta do mundo. Em 2008, com o sistema de saúde em colapso, uma epidemia de cólera matou 3 mil pessoas. Apesar de tudo, na África, a popularidade de Mugabe continua inabalada. No início deste ano, os chefes de Estado e governo africanos o elegeram vice-presidente da União Africana e ainda deram a entender retoricamente que se ele não fosse convidado para a planejada cúpula UE-África, em Bruxelas, também não iriam participar do encontro. "Se o Zimbábue não for, a África não vai", chegou a dizer o ministro do Exterior de Zâmbia, Wylbur Simuusa. Retórica bem aceita Mugabe deve a popularidade que goza entre outros chefes de Estado africanos principalmente à sua habilidade política e às suas boas conexões. Como combatente da resistência ao regime de apartheid entre brancos e negros na antiga Rodésia, ele travou contatos com vários outros movimentos africanos de libertação, entre eles o sul-africano Congresso Nacional Africano. Temporariamente, ele se refugiou na Tanzânia e em Moçambique. Muitos companheiros de luta de antigamente ocupam hoje cargos presidenciais e políticos e apoiam o ditador, também em respeito à antiga amizade. "Uma vez, eu perguntei ao ex-presidente moçambicano Joaquim Chissano por que ele, como uma pessoa de orientação democrática, ainda mantinha uma amizade com alguém como Robert Mugabe", disse à DW a jornalista alemã Andrea Jeska, autora de um novo livro sobre o Zimbábue. "Ele ficou enfurecido e afirmou que tipo de pessoa ele seria se, em tempos de dificuldades, deixasse um amigo em apuros." Também em partes da população de alguns países africanos, a retórica de Mugabe é bem aceita. Ao protestar contra a dominação ocidental, exigindo que os próprios africanos, finalmente, devam ter o controle sobre a sua terra e os seus recursos naturais, Mugabe atinge um ponto nevrálgico na população. Pois a pobreza e a distribuição desigual dos recursos naturais ainda são realidade em muitos países, mesmo passadas décadas do fim da era colonial. "Muitas pessoas admiram Mugabe pelo fato de ele, nos últimos 20 anos, ter restituído aos proprietários originais terras confiscadas pelos colonizadores", afirma o editor-chefe da revista New African, Baffour Ankomah. Outros países têm poucos progressos a relatar nessa área. A Namíbia, por exemplo: quando o país se tornou independente da África do Sul, em 1990, por volta da metade das terras aráveis pertencia a 3.500 famílias brancas. Durante a colonização alemã e a ocupação pela África do Sul, namibianos negros não tiveram a oportunidade de adquirir terras. No entanto, o programa de reforma agrária é voluntário e somente alguns poucos fazendeiros colocaram, até agora, as suas propriedades à venda. A situação é semelhante na África do Sul. O regime do apartheid proibia que negros possuíssem terras. Desde o fim do regime racista, a situação é diferente, mas muitos sul-africanos negros não têm recursos para adquirir propriedades. Ali também a reforma agrária avança com morosidade. Nesse contexto, a política de Mugabe deverá continuar agradando a muitos num futuro próximo.

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