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Caso Tinga gera onda de solidariedade poucas vezes vista no Brasil

18:10 | Fev. 14, 2014
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Dilma, Joaquim Barbosa e até os rivais do Atlético Mineiro criticam manifestações de racismo contra o jogador cruzeirense na Libertadores. Pressionada, Conmebol abre investigação que gerar punição a time peruano. O episódio de racismo envolvendo o volante Tinga, do Cruzeiro, gerou uma onda de solidariedade poucas vezes vista no Brasil. Da presidente Dilma Rousseff até o presidente do rival Atlético Mineiro, inúmeras personalidades saíram em defesa do atleta. "Foi lamentável o episódio de racismo contra o jogador Tinga", escreveu Dilma na sua conta no Twitter. "Por isso, hoje o Brasil inteiro está #FechadoComOTinga." O presidente do Atlético, Alexandre Kail, criticou os insultos racistas ao jogador. "Racismo na Libertadores? Me tiraram o prazer da derrota do Cruzeiro. Lamentável!", escreveu o dirigente alvinegro. Também atletas atleticanos, como Diego Tardelli e Réver, expressaram apoio ao cruzeirense. Em tom parecido manifestaram-se, pelo Twitter, o ex-jogador Ronaldo e os craques Neymar e Ronaldinho Gaúcho. Até o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, enviou telegrama ao jogador, prestando "total solidariedade pelos odiosos atos de racismo". Tinga entrou em campo aos 20min do segundo tempo na partida de estreia do Cruzeiro e do Real Garcilaso na Copa Libertadores na quarta-feira (12/02). Toda vez que recebia ou tocava a bola, era fortemente vaiado no estádio da cidade de Huancayo, o que o impediu de se concentrar em campo. O caso também teve forte repercussão nas redes sociais, com a hashtag #FechadoComOTinga, usado também por Dilma, ganhando rapidamente espaço no Twitter. "Ao mesmo tempo em que as barbaridades estão mais evidentes, as reações surgem na mesma medida, e isso é positivo", afirma o coordenador do Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcidas da Universidade Federal de Minas Gerais (Gefut/UFMG), Silvio Ricardo da Silva. Já o filósofo Roberto Romano, da Unicamp, afirma que as manifestações de solidariedade não significam que a população brasileira esteja menos tolerante com o racismo. "Atitudes racistas continuam. O fato é que elas estão mais domesticadas devido às leis que criminalizam esse tipo de comportamento em público", observa. "Eu não diria que o brasileiro está menos racista. Ainda estamos no caminho para atenuar esse mal no Brasil." Jogador já foi alvo de preconceito Especialistas destacam que a ação da torcida peruana é contraditória, já que o país também tem uma população miscigenada, como no Brasil. Além disso, o Peru tem como grande ídolo do futebol o jogador Teófilo Cubillas, que é negro. O presidente do Peru, Ollanta Humala, também manifestou repúdio à reação da torcida. "Por mais estranho que possa parecer, a torcida peruana tem formação racial indígena e é tão miscigenada quanto o povo brasileiro. Mas parece que as pessoas se esquecem disso. Eu acho que gritos tanto homofóbicos quanto racistas revelam o que vai na alma da pessoa", diz o jornalista esportivo Juca Kfouri. Tinga já foi alvo de racismo entre as quatro linhas em 2005, quando defendia o Internacional. Torcedores do Juventude, de Caxias do Sul, imitavam sons de macaco quando o jogador tocava na bola. Na época, o time foi punido pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) com multa de 200 mil reais, além da perda de dois mandos de campo. Mas o episódio não gerou a mesma onda de solidariedade. "O time do Caxias também tinha negros, e eles pegaram o Tinga para Cristo. Como você pode hostilizar Tinga pela cor da pele se no seu time há negros? A questão não é tão simples assim", afirma Kfouri. "Eu não tenho, infelizmente, muita ilusão quanto a esses que estão se solidarizando com o Tinga hoje. Eu acho que eles torcem mais para o Cruzeiro do que repudiam o racismo." Iniciada investigação A Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) aceitou a denúncia feita pelo Cruzeiro e abriu uma investigação preliminar para apurar o caso de racismo, o que pode resultar em punição ao Real Garcilaso. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) destacou, em nota, que além de Tinga, jogadores como Neymar, Marcelo, Diego Maurício, Roberto Carlos e Hulk também sofreram preconceito nos gramados. Para Silvio Ricardo, do Gefut, a Conmebol é negligente em relação a casos de racismo nos estádios que recebem jogos da Libertadores: "É recorrente na história do campeonato haver atos de violência, pressão a árbitros, jogos em altitudes que são fisiologicamente nocivas à saúde. Há uma certa concessão da entidade a casos que jamais ocorreriam em jogos da Fifa, por exemplo." Em solo brasileiro após retornar de Lima, o jogador disse estar chateado com a situação e ressaltou que está preparado para enfrentar essas dificuldades, mas sua família, não. "Espero que a gente venha a mudar isso por nós mesmos, não precisamos esperar por ninguém. Espero que cada um possa mudar isso dentro de casa e no convívio com as pessoas", afirmou o jogador.

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