Premiê do Iraque pede que população expulse terroristas de cidade ocupada
Maliki quer que moradores e líderes tribais afastem rebeldes ligados à Al Qaeda, que controlam Fallujah há dias. Exército prepara "grande ataque" para reaver domínio local, e EUA prometem ajudar.
O primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, convocou nesta segunda-feira (06/01) os moradores de Fallujah, a cerca de 70 quilômetros de Bagdá, a expulsarem os "terroristas" que controlam a cidade, para evitar um ataque pelas forças de segurança e um conflito de maiores proporções.
Maliki disse que o "povo de Fallujah e suas tribos" devem "expulsar os terroristas" para que suas "áreas não sejam submetidas ao perigo de choques armados", segundo a televisão estatal. A emissora também afirmou que ele ordenou às forças de segurança que "não ataquem áreas residenciais" da cidade.
As milícias armadas na região são controladas por tribos da minoria sunita, que dominava o Iraque durante o regime de Saddam Hussein. Autoridades de segurança disseram que Maliki concordou em adiar uma ofensiva para dar aos líderes tribais na cidade mais tempo para expulsarem, por conta própria, os radicais islâmicos.
Pouco tempo depois, as tropas do governo se retiraram da periferia leste de Fallujah. Segundo a agência de notícias iraquiana Sumeria News, a retirada foi resultado de negociações entre autoridades locais e o governo do país.
Governo prepara ofensiva
O governo do Iraque está preparando um "grande ataque" para retomar Fallujah, que está há dias fora do controle estatal. A capital da província de Anbar, Ramadi, no oeste do país, também é controlada parcialmente por combatentes ligados à rede terrorista Al Qaeda.
Insurgentes do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, milícia formada por vários grupos apoiados pela Al Qaeda, invadiram na semana passada as cidades de Ramadi e Fallujah, na província iraquiana de Anbar, no oeste do país. Em Ramadi, grande parte dos invasores foram expulsos por combatentes tribais e forças policiais locais.
A tomada de poder dos insurgentes dividiu a população de Anbar, de maioria sunita. Muitos na região acusam Maliki de discriminar os sunitas e de mantê-los fora do poder. Alguns simpatizam e apoiam militantes islamistas ou têm medo de se rebelar contra eles. Outros prometem ajudar o governo a recuperar o controle da região.
"Agora estamos tentando fazer com que os combatentes da Al Qaeda deixem a cidade", disse um líder tribal em Fallujah, cidade cuja população é de cerca de 300 mil habitantes.
Conhecida como a "cidade das mesquitas" e um centro para a fé sunita e da identidade do Iraque, Fallujah foi seriamente danificada em duas ofensivas contra os insurgentes realizadas pelas forças americanas em 2004. Muitos fugiram da cidade nos últimos dias para escapar dos combates.
Mas os militantes também recebem ajuda em Fallujah de tribos descontentes que se aliaram a eles. Grande parte do Exército do Iraque é liderada por membros da maioria xiita, que enfrenta grande hostilidade em Anbar, província que cobre cerca de um terço do território do país.
EUA rejeitam envio de tropas
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, disse no domingo que Washington vai prestar assistência às forças iraquianas em sua batalha contra os insurgentes, mas ressaltou que esta é "a luta deles", frisando que Washington não tem planos de enviar tropas terrestres. O governo do Irã também ofereceu ao Iraque "equipamentos e consultoria".
Combates em Anbar já teriam matado mais de 200 pessoas em apenas três dias, no que é considerada a maior onda de violência a atingir a província nos últimos anos.
Os confrontos começaram em Ramadi em 30 de dezembro, quando as forças de segurança destruíram um acampamento onde, durante um ano, grupos sunitas protestavam contra marginalização e preconceito que dizem sofrer por parte do governo, liderado pelos xiitas.
A violência, então, se espalhou para Fallujah, e a posterior retirada das forças de segurança de partes de ambas as cidades abriu o caminho para militantes liderados pelo Estado Islâmico assumirem o controle.
Grupo surgiu na Síria
O Estado Islâmico do Iraque surgiu na guerra civil da Síria como uma força poderosa formada por muçulmanos sunitas que buscam derrubar o presidente Bashar al-Assad. No Iraque, ele vem conseguindo crescer sua influência sobre a província de Anbar, região de maioria sunita pouco povoada do tamanho da Grécia. Seu objetivo declarado é criar um Estado sunita abrangendo as províncias sírias controladas por rebeldes.
Dois anos depois de as tropas dos EUA encerrarem nove anos de ocupação, a violência no Iraque deixa patente como a guerra civil entre os rebeldes sírios apoiados pela Arábia Saudita e outras potências sunitas, de um lado, e Assad, um aliado do governo xiita do Irã de outro, inflamou um confronto regional mais amplo.
MD/afp/rtr/dpa
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