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Irã pode ter papel-chave no processo de paz na Síria

11:56 | Jan. 03, 2014
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Conferência de paz na Suíça não deve ter participação iraniana, por oposição sobretudo dos EUA. Mas Teerã, que tem em Damasco um aliado valioso, pode ser fundamental para pôr fim a uma guerra que já custou 120 mil vidas. Durante meses, Rússia e Estados Unidos lideraram as preparações para uma conferência de paz sobre a Síria. A data, porém, acabou adiada em várias ocasiões às vezes por resistência do governo em Damasco, às vezes por reticências da oposição. Agora ficou definido que a conferência que busca acabar com uma guerra civil que já custou a vida de mais de 120 mil mortos deve ser realizada em 22 de janeiro, em Montreux, na Suíça. Na lista de participantes do encontro, apresentada pelo enviado especial da ONU para a Síria, Lakhdar Brahimi, não aparece a delegação iraniana, já que vários países se opuseram ao envio de um convite a Teerã. O Irã, contudo, desempenha um papel-chave na questão. "Sem o apoio do Irã, Assad não teria tido a mínima chance de permanecer por tanto tempo assim no poder", diz Günter Meyer, diretor do Centro de Pesquisa sobre o Mundo Árabe da Universidade de Mainz. Aliança estratégica A razão do apoio de Teerã a Damasco é uma parceria estratégica: desde 2006 que os dois países mantêm um pacto de auxílio mútuo prevendo apoio em situações de crise. O Irã, afirma o especialista, investe "todos os recursos para manter Assad no poder". De acordo com informações do serviço secreto americano, Teerã tem enviado, por via aérea, armas para as tropas de Assad. Não se sabe, porém, se há soldados iranianos combatendo em solo na Síria, embora tropas de elite da Guarda Revolucionária Iraniana tenham sido vistas treinando soldados fiéis a Assad. Há indícios ainda de que o Irã participe da capacitação de soldados iraquianos que defendem o regime sírio. "O Irã é parte do problema na Síria e exerce uma influência clara sobre o governo em Damasco", resume Volker Perthes, especialista em Oriente Médio e diretor do instituto alemão de relações internacionais SWP. Segundo ele, é importante que uma delegação iraniana participe da conferência na Suíça. O governo iraniano, que já se ofereceu para servir de mediador na guerra da Síria, também parece compartilhar essa opinião. "Se todos os lados envolvidos estiverem realmente interessados numa solução pragmática para o conflito na Síria, o Irã deverá participar da conferência", declarou o chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif. O governo sírio também exigiu a presença de representantes iranianos na conferência de paz. Para Damasco, não tem lógica deixar o Irã de fora, como salientou o ministro do Exterior da Síria, Walid Muallem, segundo informações da agência oficial de notícias síria Sana. Oposição saudita e americana Os maiores opositores à participação do Irã no processo de paz para a Síria são os EUA e a Arábia Saudita. "Os sauditas estão absolutamente dispostos a derrubar Assad", explica Perthes. Vários especialistas concordam que o interesse da Arábia Saudita na guerra síria é o mesmo do Irã: fortalecer a posição no Oriente Médio. Ou seja, a maior potência sunita da região (Arábia Saudita) e a maior potência xiita (Irã) veem, na guerra síria, sua rivalidade geopolítica refletida. Os EUA também se opõem oficialmente à participação do Irã na conferência. Perthes, porém, diz que há na postura de Washington certa flexibilidade com relação à presença da delegação iraniana. A suposição tem por base uma melhoria gradual das relações entre Washington e Teerã ocorrida desde a posse do atual presidente iraniano, Hassan Rohani, em junho último, após três décadas de relações difíceis entre os dois países. Segundo Meyer, Obama "vai fazer tudo o que estiver ao alcance de seu poder, a fim de chegar a uma solução pacífica" para o caso. O Irã tem ainda a favor de sua presença na conferência um defensor poderoso: o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon. "O Irã pode exercer um papel significativo, pois é uma potência regional importante", afirmou Ban, para quem a participação da delegação iraniana na conferência em Montreux é algo "lógico, prático e realista". Para cientistas políticos, apesar de todas as diferenças entre o Irã e outros Estados envolvidos, um interesse comum é claro: ninguém quer que os grupos islâmicos radicais se fortaleçam na Síria. Ou seja, Irã, Arábia Saudita e EUA, assim como a Rússia e os países europeus, têm na questão um denominador comum. Isso poderá, portanto, aumentar as chances de uma contribuição iraniana à paz na Síria.

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