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Extremismo político ameaça acirrar instabilidade na Grécia

14:07 | 20/09/2013
Morte de músico é mais um exemplo na longa lista de atos de violência de radicais de direita contra partidários da esquerda nos últimos meses. Em meio à crise econômica, Atenas promete evitar escalada de tensão. O governo grego contesta e chegou até mesmo a dizer que vai processar jornalistas que vêm reafirmando que o grupo de extrema direita Aurora Dourada está novamente em ação. Porém, tudo leva a crer que o assassinato de um ativista de esquerda em Kiratsini, subúrbio da cidade de Pireu, tem forte ligação com os radicais. Na noite da última sexta-feira (17/09), o músico Pavlov Fyssas, conhecido no cenário do hip hop em Atenas, assistia a uma partida de futebol da Liga dos Campeões num café quando se envolveu numa briga ainda não se sabe exatamente o motivo. O desentendimento levou à trágica consequência. Segundo testemunhas, 15 pessoas, autointituladas integrantes do Aurora Dourada, atacaram com violência o músico de 34 anos e alguns amigos dele. Convocado pelo grupo por mensagem no celular, um homem de 45 anos, segundo relatos de testemunhas, surgiu no local minutos depois e deu duas facadas em Fyssas, que não resistiu aos ferimentos. Crime premeditado Na opinião de Konstantinos Logothetis, ex-vice-presidente da associação grega de magistrados, essa "divisão de tarefas" já é por si só reveladora. "O assassino não teve nada a ver com a briga, não foi algo que aconteceu no calor do momento. Essa outra pessoa foi chamada ao local do crime apenas para matar", avaliou Logothetis em entrevia ao canal grego de televisão Skai. "Esse homem tinha a força criminosa necessária e a formação, assim como a disposição, de fazer isso. Trata-se, portanto, de um crime premeditado até o último detalhe." O assassinato de Keratsini seria o ponto alto de uma série de atos criminosos motivados por razões políticas que vêm acontecendo na Grécia. Na sexta-feira passada (13/09), oito pessoas morreram após um confronto entre radicais de direita e ativistas de esquerda em Perama, subúrbio de Atenas. No fim de semana, agitadores de direita foram acusados de invadir uma cerimônia em homenagem às vítimas da Guerra Civil grega (1946-1949) no Peloponeso, com o intuito de atacar o orador principal do evento. Até mesmo o chefe do popular partido de direita Gregos Independentes, Panos Kammenos, adotou um tom mais áspero nos últimos tempos, em busca de votos entre os direitistas. Ao participar de uma convenção do partido em um resort no norte da Grécia, ele motivou os integrantes da legenda a "lincharem" socialistas. Estratégia para conter direita O analista político Tassos Kokkinidis diz que existe hoje uma perigosa polarização no cenário político grego. "Os partidos políticos na Grécia estão preocupados, sobretudo, em proteger seus interesses de curto prazo", afirma Kokkinidis. Segundo ele, muitos políticos ainda consideram mais importante se alfinetarem mutuamente do que construir uma estratégia conjunta na luta contra o radicalismo de direita. Por isso, acredita o analista, é preciso estar claro para todos que o Aurora Dourada representa uma organização criminosa. Depois da morte de Keratsini, o ministro da Ordem Pública, o conservador Nikos Dendias, cancelou uma viagem a trabalho que faria a Roma e foi para a frente das câmeras tentar acalmar a população e anunciar uma política de pulso forte contra atos radicais. Diante dos últimos "acontecimentos", disse ele, o governo não pode ficar parado. Ele prometeu punições mais rígidas contra responsáveis pela criação de grupos criminosos. E reforçou que também é importante um acordo de todas as forças políticas no país sobre como lidar com o fascismo e a violência motivada por razões políticas. Medo da escalada da violência Kokkinidis, no entanto, tem suas dúvidas se essa iniciativa realmente dará frutos. Ele ressalta que o partido de esquerda Syriza, a segunda maior força política do país, praticamente descartou a ideia de elaborar uma estratégica conjunta, uma vez que a legenda acusa o governo de corresponsabilidade pela escalada do uso da violência na política. O analista político teme ainda que a morte de Fyssas possa estimular atos de violência por motivação política no futuro. "Hoje já existem nas mídias sociais movimentos de retaliação e grandes manifestações contra o Aurora Dourada", ressalta Kokkinidis. Os temores do especialista são baseados em fatos reais. Na noite da última quarta-feira, houve confrontos entre manifestantes que participaram de um "protesto antifascista" e a polícia, em um lugar próximo de onde ocorrera o assassinato em Keratsini no dia anterior. Os supostos anarquistas atacaram uma delegacia e atearam fogo. As forças de segurança usaram gás lacrimogêneo para conter a multidão. Várias pessoas ficaram feridas. No meio da confusão, era possível ver o populista de direita Kammenos, que agredia manifestantes a socos e acabou sendo ferido. Há pouco tempo, o comissário de Direitos Humanos do Conselho Europeu sugeriu a proibição do Aurora Dourada. Segundo informações do portal online To Vima, de Atenas, o governo grego vem pensando seriamente na ideia. De qualquer maneira, já se sabe que não é mais suficiente querer combater os radicais de direitas apenas por meios políticos, alertou o redator chefe do jornal diário Kathimerini, Nikos Xydakis, em entrevista a um canal de televisão. "Democracia significa liberdade e tolerância com relação a todos, mas não frente aos que querem desestabilizá-la. Até agora, essas pessoas vem faturando em cima da tolerância estabelecida pela democracia. Agora é hora de elas sentirem a mão de ferro dela", defendeu.

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