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Reticência de países ocidentais esfria relação com governo e oposição no Egito

11:17 | 21/08/2013
Irmandade Muçulmana e governo interino do Egito divergem politicamente, mas têm a mesma opinião sobre os países ocidentais, segundo especialistas. Ambos os querem como aliados e sentem-se abandonados por eles. Desde a queda do ex-presidente do Egito Mohammed Morsi, no início de julho, a relação entre a Irmandade Muçulmana e o Ocidente ficou estremecida. A organização acusa o governo dos Estados Unidos de apoiar e comemorar o golpe. "Obama ameaçou Morsi abertamente com sanções econômicas", afirma Essam el-Erian, um dos líderes do Partido Liberdade e Justiça, que é ligado à irmandade. Mas a relação do governo interino do Egito com os EUA também não é das melhores. O jornal Al youm al-sabi, ligado aos opositores de Morsi, criticou a política americana com duras palavras e acusou o presidente Barack Obama de apoiar a Irmandade Muçulmana para, assim, impor seus interesses no país. "Obama sabe muito bem que qualquer outra coisa representaria a derrota em uma batalha na qual seu governo investiu bilhões de dólares", afirma. Para o cientista político Gamal Soltan, da Universidade Americana no Cairo, esse clima antiocidental expressa a sensação que os dois lados têm de terem sido abandonados pelo Ocidente. O Egito passa por um conflito profundo, e tanto a Irmandade Muçulmana quanto o governo interino querem ganhar os países ocidentais como aliados, considera Soltan. "Por um lado, o governo não se sente suficientemente apoiado pelo Ocidente no que chama de guerra contra o terrorismo. Por outro lado, a Irmandade Muçulmana se sente abandonada na luta por princípios que considera democráticos e de direitos humanos", disse à DW o cientista político. Segundo o especialista, ambos os lados estão convencidos de que defendem valores ocidentais e têm a impressão de que seus esforços não são devidamente reconhecidos pelo Ocidente. O presidente do grupo parlamentar Alemanha-Egito do Bundestag (Câmara Baixa do Parlamento alemão), Klaus Brandner, é da mesma opinião. Ele afirma que os dois lados, militares e Irmandade Muçulmana, acham que têm razão. "Ambos acreditam ter procedido de maneira engajada e consequente. Mas, no fim, não tiveram seus anseios atendidos." Posição de distanciamento Para Brandner, o Ocidente tem bons motivos para manter sua posição contida. "Nós não podemos dizer sim para ambos os lados. Falta-lhes a experiência de que processos democráticos precisam vir acompanhados por certa disposição para negociar", diz. Para Gamal, o descontentamento evidenciado no momento pela mídia egípcia e nas ruas do país pode durar algum tempo afinal, os dois lados sentem-se traídos. "Essa impressão com certeza marcará a relação entre futuros governos egípcios e o Ocidente", afirma. Já Brandner espera que a atual ira diminua. A ligação com o Ocidente é muito importante para o Egito, que reconhece os resultados alcançados no trabalho em conjunto com os países ocidentais, afirma o político. "Naturalmente, não se trata apenas dos êxitos econômicos, mas também das conquistas em direitos humanos e de liberdade. Além disso, uma parcela mais ampla da população passou a ter acesso à educação", diz Brandner. Os países ocidentais estão diante de um dilema. Não importa o que declarem ou como se comportem, um dos dois grupos egípcios sempre vai se sentir traído. Segundo Soltan, ambos compreendem a reação contida do Ocidente como apoio ao lado oposto e não conseguem ver a situação de outra maneira.

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