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Papa não disse novidade sobre gays, afirma especialista

11:25 | 01/08/2013
Para editor-chefe da Agência Católica de Notícias, declarações de Francisco não são novidade em relação ao que é pregado há séculos pela Igreja sobre homossexuais. Segundo ele, diferença está na forma como foi dito. Talvez ainda tocado pela Jornada Mundial da Juventude, o papa Francisco respondeu a perguntas de jornalistas durante seu voo de volta do Rio de Janeiro para Roma. A entrevista coletiva para a imprensa durou 80 minutos e incluiu temas polêmicos, entre eles a postura da Igreja frente à homossexualidade. Embora não tenha dado declarações detalhadas a esse respeito, o pontíficie escolheu com precisão suas palavras. Para o editor-chefe da Agência Católica de Notícias e ex-correspondente no Vaticano, Ludwig Ring-Eifel, o papa apenas reforçou o que a doutrina católica prega há mais de 200 anos ao defender a não exclusão de homossexuais. Em entrevista à DW, ele diz que a diferença foi que Francisco salientou a não discriminação falando de maneira positiva, uma mudança frente ao discurso adotado por seus antecessores. Deutsche Welle:O que o papa disse exatamente? Ludwig Ring-Eifel: Na verdade, ele disse apenas algumas poucas frases. Ele respondeu literalmente à pergunta a respeito da existência de conluios homossexuais no Vaticano. "Dizem que há tais pessoas, mas não há ninguém em cujo passaporte conste que se trata de um homossexual". A declaração foi feita em tom levemente irônico e, a seguir, o papa salientou que não pode julgar ninguém que procura Deus com o coração aberto, embora tenha preferências homossexuais. "Quem sou eu para julgá-lo?", completou. Essas foram as passagens decisivas de suas declarações. Francisco conclamou as pessoas a não discriminarem os homossexuais? Pode-se dizer isso, embora essa não seja nenhuma novidade de fato. Isso é exatamente o que está no Catecismo da Igreja Católica. Há mais de um quarto de século que a doutrina católica prega que os homossexuais homens e mulheres não deveriam ser discriminados por suas preferências, mas que a Igreja Católica, em função de determinados textos bíblicos, se atém à postura de que condutas homossexuais são pecados. Preferências homossexuais não são, nas palavras do papa, pecado, mas os atos homosssexuais sim. É essa a diferença? Exatamente, a diferença é esta e ele salientou-a mais uma vez agora, com outras palavras. E acentou naturalmente o aspecto que é mais cordial no tom. Ele salientou a não discriminação, falando de maneira positiva. Isso se dava de forma distinta com os dois pontíficies anteriores. O senhor se refere ao documento da Congregação para Educação e Formação de 2005. Qual era o conteúdo dele? Era uma encíclica, não era um documento papal oficial. Tratava-se exclusivamente da possibilidade de aceitar homossexuais em seminários e no sacerdócio. E, em caso positivo, sob quais condições. Naquela época optou-se por palavras muito ásperas. O documento diz, entre outros coisas, que "a Igreja, mesmo com todo o apreço pelas pessoas em questão, não pode aceitar como sacerdotes aqueles que praticam a homossexualidade, que têm preferências homossexuais profundamente ancoradas ou que apoiam uma chamada cultura homosssexual". Na citação ficou claro que, de maneira geral, a preferência homossexual profundamente ancorada seria um critério de exclusão. Isso vai um pouquinho contra o Catecismo, que diz que a preferência em si não é pecado, mas sim a prática. O papa ou a Congregação de Educação podem naturalmente revidar o documento nesta passagem, inserindo termos mais suaves, caso queiram. Isso é sem dúvida possível, pois não se trata de um documento dogmático, não se trata de um encíclica, mas sim de uma instrução de conduta elaborada em 2005. É esta maneira pastoral e misericordiosa do papa Franciso que leva agora à especulação de que ele defenderia uma nova posição frente aos homossexuais? Nesses quatro meses como pontíficie, o papa se comportou constantemente desta forma pastoral e muito misericordiosa. Ele se volta para as pessoas. E deixa também claro em suas palavras metafóricas, que são compreensíveis e acessíveis, salientando com frequência a comiseração da Igreja. Ele coloca isso muito mais que questões a respeito das leis, da moral e dos dogmas. Esses foram os temas que o papa Bento salientou. Aquilo que ele disse sobre a homossexualidade, à sua maneira peculiar, está sendo superestimado pela opinião pública? Eu não diria que isso esteja sendo superestimado, pois é digno de nota que um Papa enfrente essa mudança de tom em seu pronunciamento e ainda faça isso de maneira consciente. Ele sabe que aquilo que estava dizendo para a imprensa no avião seria citado no dia seguinte de São Francisco a Moscou, de Oslo à Cidade do Cabo. Ou seja, ele fez isso de maneira muito consciente. E quer deixar claro: a Igreja Católica não é uma instituição que exclui pessoas, mas sim uma "mãe", que vai ao encontro das pessoas e as abraça. Ele fez inclusive um gesto para simbolizar isso. E se perguntou depois qual é a estrutura da pessoa, como ela pensa, como ela sente. Ele vê primeiro a pessoa e só depois um potencial filho ou filha da Igreja. Na sua opinião, deve-se contar com uma nova postura da Igreja frente à homossexualidade a médio prazo? Esta é uma pergunta de difícil resposta, pois a Igreja Católica está atrelada, em questões de moral sexual, à Bíblia. No Novo Testamento, a avaliação da homossexualidade é muito clara. Isso não é algo que a Igreja Católica tenha inventado, mas que está escrito no Novo Testamento. Em segundo lugar, a Igreja está ligada à longa tradição de dois mil anos de evolução de uma teologia da moral, que sempre se ateve a essa categorização da conduta homossexual como pecado. Não se pode, como pontíficie, simplesmente abolir isso. Caso isso ocorra, será através de um longo processo, que vai durar supostamente décadas, se não séculos. E ninguém encontrou ainda até agora um caminho teológico que possa levar até lá.

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