Kremlin recorre a máquinas de escrever alemãs para evitar espionagem
Praticamente em desuso atualmente, velhas máquinas de datilografar viram solução para o serviço secreto russo, que cada vez mais prefere armazenar informação sigilosa em papel.
Em tempos em que trocar informação sem ser vigiado parece coisa rara, o Serviço Federal de Proteção (FSO), responsável pela segurança do presidente russo e das mais altas autoridades do Kremlin, vem recorrendo a um método improvável para armazenar alguns de seus dados mais sensíveis: as velhas máquinas de escrever.
Recentemente, o FSO fez uma encomenda superior a 11 mil euros à fábrica alemã Olympia Business Systems, uma das poucas que ainda produzem máquinas de escrever. E uma das razões é que a empresa fornece fitas de tecido, que, diferentemente das de carbono, não são reproduzíveis.
"Se uma fita de carbono cair em minhas mãos, é possível reproduzir o texto facilmente. No caso da fita impressora de tecido é diferente, uma vez que, em princípio, somente a tinta é retirada da fita, tornando a reprodução impossível", explica Andreas Fostiropoulos, diretor da Olympia.
O executivo diz que máquinas de escrever com fitas de tecido tornam mesmo para a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) praticamente impossível a espionagem dos dados trocados.
"Eu não saberia como. Não existe nenhuma conexão com outras redes", afirma Fostiropoulos, que, no entanto, não vê a opção do FSO como uma saída duradoura para driblar a espionagem. "Não devemos nos iludir. A máquina de escrever ainda deverá nos acompanhar por alguns anos. Mas não se trata de uma tecnologia-chave para o futuro."
Telefones da Guerra Fria
O FSO terá de esperar ainda por volta de quatro meses pelas máquinas de escrever. A empresa alemã produz quatro tipos diferentes de máquinas e vende cerca de 3 mil ao ano. São fabricados dois modelos eletrônicos portáteis e dois da chamada área compacta, que estão disponíveis com ou sem visor. Dependendo do modelo, o preço varia de 150 a 300 euros.
"Depois dos escândalos com o WikiLeaks e de relatórios do primeiro-ministro Dimitri Medvedev terem sido espionados durante a reunião do G20 em Londres em 2009, foi decidido que seria necessário expandir a prática de criar documentos em papel", disse recentemente uma fonte do FSO ao jornal russo Isvestiya.
Em entrevista ao mesmo jornal, um porta-voz do FSO disse que a Rússia continua a usar conexões telefônicas da época da Guerra Fria, que são à prova de escutas, para conversas secretas com outros países. O diário diz que máquinas de escrever também são usadas com frequência no Ministério da Defesa e no Ministério de Proteção Civil.
A revelação das precauções tomadas pelo Kremlin chega num de renovada tensão entre EUA e Rússia, sobretudo por conta do caso Edward Snowdem, responsável por relevar o megaequesma de espionagem online da NSA.
Ele conseguiu asilo político na Rússia. E, na semana passada, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, criticou Moscou por, em meio à controvérsia, devolver à mesa de negociações "uma retórica antiamericana própria da Guerra Fria".