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Alemanha tenta montar "quebra-cabeça" com arquivos destruídos pela Stasi

09:31 | 27/08/2013
Serviço secreto da antiga Alemanha Oriental deixou para trás mais de 15 mil sacos com aproximadamente 600 milhões de fragmentos de papel que podem ser chave para detalhar ações do antigo regime comunista. Durante 40 anos, a Stasi, como era conhecido o serviço secreto da antiga Alemanha Oriental, espionou, perseguiu, prendeu e interrogou seus cidadãos. E praticamente cada passo dado foi devidamente documentado. Quando o Muro de Berlim caiu, no entanto, os agentes se viram forçados a destruir as provas do mega-aparato de segurança comunista, e o que sobrou foi um gigantesco quebra-cabeça. Inicialmente, os documentos eram rasgados em máquinas. Mas, para agilizar o processo, os agentes os rasgaram muitos arquivos à mão mesmo. Com isso, foram deixados para trás mais de 15 mil sacos, com aproximadamente 600 milhões de fragmentos de papel que, remontados, podem ajudar a recuperar um trecho crucial da história alemã, com a compreensão do modo de agir de uma das instâncias mais importantes da ex-República Democrática Alemã (RDA) de regime comunista. O trabalho começou em 1994, cinco anos após a queda do Muro, e envolvia 40 pessoas. Hoje são apenas 12 os que ainda tentam juntar as peças à mão parte dos documentos é reconstituída com ajuda de computadores. "Temos sacos de diferentes tamanhos cheios de antigos documentos da Stasi. Pego uma pilha de vestígios onde vejo similaridades e vou tentando juntar as peças do quebra-cabeça. Às vezes temos sorte e encontramos arquivos que foram rasgados apenas uma vez", diz a funcionária Ines Splettstoesser. Duas décadas de trabalho Ela e os colegas trabalham em grandes mesas cheias de fragmentos de todas as cores, formatos e tamanho, no terceiro andar do antigo prédio da Stasi no bairro de Lichtenberg, em Berlim. Os fragmentos que se encaixam são colados à mão e arquivados. Um incrível jogo de paciência, já que não há um modelo a ser seguido. Os funcionários não sabem com o que a página deve se parecer ao ficar pronta, nem se todos os fragmentos de papel de uma página estão num saco só. "Dependendo do saco, um funcionário pode passar anos vasculhando sem achar as peças necessárias para completar um documento", diz Joachim Haussler, um dos responsáveis pelo projeto. Mas novas tecnologias devem ajudar a acelerar o trabalho de colar vestígios de documentos da Stasi. O processo já dura 18 anos, e ainda pode levar mais décadas para reconstituir documentos de grande relevância. Porém, em 2007, o governo federal encomendou ao Instituto Berlinense Fraunhofer para Produção de Sistemas e Design de Tecnologia (de sigla alemã IPK) o desenvolvimento de um programa de computador que possa digitalizar esses fragmentos, ajudando a juntá-los de maneira mais rápida e eficiente. Desde o começo do ano, o projeto ePuzzler, que usa um scanner específico para digitalizar os dois lados dos documentos rasgados, está sendo implementado. Ajuda de computadores Dezenas de fragmentos de papel, alguns tão pequenos quanto uma moeda, são distribuídos sobre películas protetoras no vidro de um scanner do tamanho de uma mesa de cozinha. Esse scanner especial digitaliza os dois lados dos fragmentos ao mesmo tempo. Segundos depois, todos os fragmentos aparecem na tela do computador. Depois de digitalizados, eles podem ser analisados pelo programa de computador, que tenta juntar sozinho as peças do quebra-cabeça. "Calculamos uma série de características que definem cada trecho desses fragmentos", afirma Bertram Nickolay, que explica que o sistema pode distinguir as diferentes cores, formas e tipos de papel, além de detectar se o documento foi escrito à mão ou com uma máquina de escrever. "O sistema reúne os fragmentos que tem o maior número de características em comum." O ePuzzler já está em funcionamento, juntando fragmentos e reconstituindo documentos destruídos. No entanto, antes de começar a funcionar em grande escala, ele deve passar por um teste: escanear novamente pequenos fragmentos de 400 sacos de arquivos em pedaços. Para uma implementação em grande escala, os pesquisadores do instituto querem melhorar ainda mais os scanners e achar uma maneira de os fragmentos poderem ser analisados, limpos e desamassados automaticamente. Essas tarefas ainda precisam de muito tempo para serem realizadas manualmente pela equipe. Algum trabalho manual ainda será necessário no futuro, mesmo com o ePuzzler. Alguém precisa decidir o que deve ser reconstituído e supervisionar se o programa está funcionando corretamente. O software também poderá ser utilizado em outras áreas. "Fomos solicitados para fazer testes com o programa para a reconstituição de pinturas e de documentos financeiros destruídos. Esse projeto é uma ótima base para levarmos inovação e know-how para outras áreas", afirma Nickolay.

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