Alemanha tenta lidar com prostituição infantil crescente
Falta de dados e de instituições de amparo dificultam o trabalho de combate à exploração sexual de meninos e meninas, que são levados a se prostituir após serem vítimas de golpes.
Prostituição infantil é um problema geralmente associado a países mais pobres, mas, cada vez mais, impõe desafio também ao chamado primeiro mundo. Na Alemanha, por exemplo, a prática é conhecida de longa data, mas não há dados sobre sua real dimensão. E a falta de informação dificulta o trabalho de combate à exploração sexual.
"Na Alemanha, há poucos dados sobre prostituição infantil. Faltam informações, fatos e números", afirma Mechtild Maurer, diretora da Associação de Trabalho para Proteção de Crianças da Exploração Sexual. Segundo ela, as estatísticas da polícia não são detalhadas o suficiente. Há dados sobre violência sexual e abuso, mas não sobre a rede organizada por trás disso.
Além da falta de informações, o fato de a prostituição infantil acontecer em locais escondidos também torna mais difícil a investigação. Em clubes, bordéis e apartamentos alugados exclusivamente para prostituição não costumam ser encontrados menores de idade.
Para as vítimas, há poucos pontos de referência para auxílio. Um dos poucos é a chamada Missão da Meia-Noite, em Dortmund, que presta apoio a prostitutas. Segundo a organização, uma em cada 11 pessoas que procura ajuda é menor de idade.
Ao todo na Alemanha, cerca de 400 mil pessoas se prostituem, segundo a Associação Hydra de Berlim. As informações sobre os clientes também são limitadas a maioria são homens com mais de 40 anos e pertencem a todas as classes sociais.
Muitas vítimas
As informações mostram que muitos preconceitos são falsos. "Nós sabemos que a prostituição infantil é muito mais diversificada do que se supunha", afirma Maurer. O tráfico de pessoas é um negócio milionário na Europa. Suas vítimas não são somente meninas e jovens mulheres do Leste europeu e da África, mas também da Alemanha.
A Missão da Meia-Noite estima que dois terços dos jovens que procuram a organização sem levar em conta aqueles que foram vítimas de tráfico humano e obrigados a se prostituir são da Alemanha.
Alguns possuem uma rotina diária: se prostituem entre o horário do fim das aulas até o do jantar. Outros vêm do cenário das drogas e precisam vender o corpo para financiar o vício. Nesse caso, na maioria das vezes, são moradores de rua.
Os caminhos que levam à prostituição são os mais diversos. Jovens e meninas fazem essa opção através de conhecidos e parentes ou de homens e mulheres que ganham a confiança das vítimas, aplicando diferentes golpes.
Paixão e apartamentos
Uma forma de atrair meninas para a prostituição é através de rapazes, conhecidos na Europa como loverboys, que seduzem as vítimas. "Na maioria dos casos, esses jovens procuram e abordam, em escolas, bares e discotecas, meninas na puberdade. Como são simpáticos e charmosos, elas se tornam emocionalmente dependentes", afirma Silvia Vorhauer, assistente social na Missão da Meia-Noite.
No decorrer da relação, as meninas acabam se afastando da família e dos amigos, conta Vorhauer, que descreve da seguinte maneira a forma de agir dos agenciadores: o jovem se torna cada vez mais importante na vida da menina e, aos poucos, acaba revelando supostos problemas pessoais, como dívidas de jogo.
"As meninas acreditam que precisam ajudá-los a conseguir dinheiro rapidamente e muitas consentem em ser mandadas para a prostituição", completa a assistente social.
A prostituição infantil não faz apenas vítimas do sexo feminino. Cada vez mais, esse problema atinge meninos, explica Maurer. Mas a forma de aliciamento é diferente. Ela ocorre, por exemplo, nas chamadas casas abertas, alugadas primeiramente para servir de ponto de encontro.
"Os jovens são convidados para jogar, tem pebolim, videogame, filmes e, em algum momento, serão assistidos filmes pornôs", afirma Maurer. Os jovens constroem relacionamentos, tornando-se até amigos de homens desconhecidos. No final, eles são convidados a praticar atos sexuais - inicialmente entre eles e, depois, com outros. Muitos participam por se sentirem pressionados.
Difícil libertação
O contato inicial com as vítimas é difícil, apenas poucos procuram ajuda. Com frequência são os parentes que suspeitam e procuram organizações de apoio, como a Missão da Meia-Noite. Esse é apenas o primeiro passo do longo caminho para libertar essas meninas e meninos.
Muitos jovens não têm conhecimento da situação de emergência em que se encontram e até percebem positivamente sua entrada na prostituição."Há o fenômeno que chamamos de euforia de início, ou seja, as meninas no meio da puberdade revoltam-se contra as regras e normas da sociedade, entram para a prostituição e também em um tabu que, além de tudo, é rentável", conta Vorhauer.
Com frequência, as meninas têm medo que o assistente social acabe com a relação que elas têm com os rapazes agenciadores, diz Vorhauer. Por isso, a saída desse meio só é possível se o desejo partir das próprias meninas. "O mais importante é não destruir a confiança", afirma a assistente social.