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Alemanha opta pela cautela em relação à Síria

10:17 | 30/08/2013
Com proximidade das eleições, riscos políticos de apoio a intervenção militar são minuciosamente pesados pelo governo Merkel, que, ao mesmo tempo, tenta não desagradar os aliados da Otan, como aconteceu na crise líbia. O governo alemão vem reagindo com grande cautela diante dos recentes desdobramentos na Síria. Assim como outros políticos ocidentais, a chanceler federal, Angela Merkel, não tem mais a menor dúvida de que o regime de Bashar al-Assad empregou armas químicas. Por meio de seu porta-voz, ela comunicou que o possível uso de gás tóxico não pode deixar de ter consequências. "Se tal uso for confirmado, a comunidade internacional deve agir", disse também o ministro alemão das Relações Exteriores Guido Westerwelle. "Então a Alemanha vai estar entre aqueles que consideram certo tirar consequências." Contudo, tanto a premiê quanto o chefe da diplomacia alemã deixaram expressamente em aberto quais seriam tais "consequências" e de que forma a Alemanha participaria delas. Política de contenção A falta de precisão nas declarações alemãs é quase imbatível, criticou o cientista político André Blank, do Instituto de Estudos do Oriente Médio, em Hamburgo. "Uma atitude verdadeiramente independente não existe na política alemã para a Síria." Em princípio, no entanto, a Alemanha se posiciona abertamente do lado dos aliados ocidentais os quais, no momento, vêm refletindo em voz alta sobre uma intervenção militar na Síria. Com vista ao passado recente, há razões para o comportamento cauteloso da Alemanha. Embora o "não" a uma participação alemã na guerra no Iraque tenha levado à vitória do então chanceler federal Gerhard Schröder nas eleições parlamentares de 2002, a relação com os aliados ocidentais, principalmente com os EUA, foi fortemente abalada. Em 2011, a Alemanha frustrou mais uma vez seus parceiros na Otan: na votação no Conselho de Segurança da ONU sobre uma intervenção militar na Líbia, Berlim se absteve, colocando-se assim contra seus aliados mais próximos, EUA, França e Reino Unido, e do lado da China e da Rússia, que também se abstiveram. No caso da Síria, pretende-se evitar obviamente que isso se repita. Por esse motivo, a Alemanha vem alinhando cuidadosamente a sua política com a de outros Estados europeus, enfatiza Blank. No entanto, em comparação com França ou Reino Unido, o governo alemão se mostra mais moderado. Por exemplo, na questão de armar os rebeldes sírios. A pedido de franceses e britânicos, a União Europeia suspendeu o embargo de armas contra a Síria. A Alemanha, ao mesmo tempo em que se bate por sanções coletivas contra o regime de Bashar al-Assad, também rejeita o fornecimento de armas aos insurgentes. O governo alemão apoia os rebeldes, mas com equipamentos não militares, como coletes de proteção e ajuda humanitária. Em busca de solução política Políticos alemães de todos os partidos têm enfatizado seu interesse numa solução política não apenas visando as eleições parlamentares no país, a se realizarem dentro de poucas semanas. "Dada a situação humanitária cada vez mais dramática na Síria, há necessidade urgente de se desenvolver uma linha comum no Conselho de Segurança das Nações Unidas", disse Philipp Missfelder, porta-voz para política externa da bancada parlamentar da União Democrata Cristã (CDU). No entanto, tal solução parece estar distante. Até agora, as potências com poder de veto China e Rússia impediram repetidamente a aprovação de qualquer resolução mais firme contra a Síria: ambas temem que isso poderia ser usado para derrubar Assad. Missfelder confirma que a meta da Alemanha "sempre foi preparar as rotas para o futuro, após o fim do regime Assad". Por esse motivo, diz, desde cedo apoiou-se a oposição síria. A Coalizão Nacional das Forças de Oposição e Revolução da Síria, organização central dos grupos de oposição, é reconhecida pelo governo alemão como "representante legítimo do povo sírio". A Alemanha pertence ao Grupo dos Amigos do Povo Sírio. Através dele, UE, EUA e muitos países árabes coordenam sua ajuda para a oposição síria. Juntamente com os Emirados Árabes Unidos, a Alemanha também está envolvida na reconstrução da Síria. Por iniciativa de ambos os países, foi criado um fundo de ajuda, a partir do qual a oposição poderá financiar projetos como a reconstrução da infraestrutura ou do fornecimento de água. Participação indireta Em Berlim, a Coalizão Nacional síria abriu uma representação, a fim de ajudar organizações não governamentais alemãs a coordenar melhor seu apoio aos oposicionistas. Além disso, o escritório deve servir como uma espécie de primeira parada para os recém-chegados da Síria. Em março passado, o governo alemão concordou em acolher 5 mil refugiados do país. A assistência in loco também faz parte da ajuda alemã. Desde 2012, Berlim gastou 193,33 milhões de euros em ajuda humanitária e projetos de ajuda na Síria e países vizinhos. "Isso não é quase nada, frente à escalada do conflito e o número de refugiados", comenta André Blank. Quase 1,9 milhão de sírios procuraram abrigo em Jordânia, Turquia, Líbano e Iraque. Nesses países, a Alemanha apoia principalmente organizações ligadas às Nações Unidas e ONGs no abastecimento dos refugiados. Mesmo que a ajuda humanitária e o desejo de uma solução política sejam prioridades da política alemã para a Síria, um apoio militar não está completamente descartado. Na eventualidade de uma intervenção, a Alemanha "não estará certamente na linha de frente", avalia André Blank. "Indiretamente, porém, há possibilidades de participação", afirma. Na região de fronteira entre a Turquia e a Síria, por exemplo, estão estacionados mísseis alemães Patriot a serem utilizados no caso de ataque sírio ao sudeste da Turquia. A Marinha alemã mantém diversos navios no Mediterrâneo, que podem ajudar em missões de reconhecimento na Síria. Além disso, também é plausível o apoio por parte de aviões-tanque alemães a caças e bombardeiros aliados como ocorrido na missão francesa no Mali.

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