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Opinião: Papa propõe revolução que vem de cima

13:51 | 28/07/2013
Durante a JMJ, o papa convocou os jovens a empreenderem uma grande mudança na Igreja e no mundo. Mas a jornalista Astrid Prange ressalta que ficaram de fora do discurso temas polêmicos, de interesse direto dos jovens. É uma revolução silenciosa. Uma revolução que deve transformar a Igreja Católica. Uma revolução sob ordem papal. Ela foi convocada pelo próprio Francisco, pois o pontífice quer realizar mudanças em sua instituição. E para isso ele precisa de jovens do mundo inteiro. "Eu e você somos discípulos missionários. Somos construtores da Igreja de Jesus", conclamou o papa aos cerca de 3 milhões de peregrinos que se aglomeravam nas areias de Copacabana em vigília, durante a Jornada Mundial da Juventude. A clareza de seu chamado não deixa dúvidas quanto: "Por favor, jovens, não sejam covardes, metam-se, saiam para a vida. Jesus não ficou preso dentro de um casulo. Saiam do casulo. Saiam às ruas como fez Jesus!". A excitação que as palavras de Francisco leva aos peregrinos poderia ter causado preocupação em muitos membros do clero e, sobretudo, do Vaticano. Não seriam os consagrados padres, bispos e cardeais os pilares da Igreja? Por que motivo jovens comuns deveriam reformá-la, e não seus representantes consagrados? Francisco escolheu sabiamente as palavras e o local para pronunciá-las. A celebração católica em Copacabana tem um significado estratégico para o argentino de 76 anos, pois os jovens podem fornecer a ele o tão necessário suporte teológico e político-eclesiástico, em sua luta contra a corrupção, a "fossilização" e o carreirismo dentro do Vaticano. Desde que foi escolhido papa, em 13 de março deste ano, Jorge Mario Bergoglio deixou claro que pretende colocar em ordem as coisas no Vaticano. Apenas um mês após o início de seu papado, ele chamou o carismático cardeal de Honduras Óscar Rodriguez Maradiaga, seguidor confesso da corrente "Opção pelos pobres", para coordenar os trabalhos de um conselho de oito cardeais que vai propor uma reforma na Cúria romana. Também na América Latina, Francisco quer despertar seus companheiros. Durante a JMJ, a portas fechadas, ele deu uma dura repreensão em cerca de 300 bispos brasileiros. O papa os corresponsabilizou pela perda de milhões de fiéis, que nos últimos dez anos deixaram a Igreja Católica e foram para a evangélica. A impiedosa pergunta de Francisco também poderia ser colocada a vários dignitários católicos de todo o mundo: a Igreja estaria talvez muito distante do cotidiano dos fiéis, fria e fechada demais, egocêntrica e dogmática? Ela estaria passando para algumas pessoas a imagem de ser uma relíquia de tempos antigos, que não tem respostas para os dias atuais? Habilidosamente, o papa ligou as recentes demonstrações em massa que ocorreram no Brasil com o engajamento na Igreja. Os jovens católicos não devem deixar que outros sejam protagonistas das mudanças por um mundo melhor, mas sim devem mostrar que a Igreja pode dar uma contribuição importante para uma sociedade mais justa. Já sobre temas internos da Igreja, que são motivos de muita discussão na Alemanha como o celibato, a ordenação de mulheres, a posição dos leigos, a proibição de que divorciados participem da comunhão, ou o posicionamento sobre o homossexualismo o papa não comentou. A revolução proposta por ele é conservadora. Mas se ele não quiser perder o impressionante apoio junto aos jovens católicos, terá que fazer concessões. Pois uma revolução de verdade não parte de cima, mas sim da base.

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