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Israelenses e palestinos retomam negociações em meio a ceticismo

17:34 | 29/07/2013
Processo de paz é reiniciado nos EUA após três anos de estagnação, mas a expectativa entre a população dos dois lados é baixa. Entre as razões, a dificuldade de superar mesmos impasses que emperraram conversas passadas. Enquanto israelenses e palestinos retomam, em Washington, suas primeiras negociações de paz diretas desde 2010, o clima no Oriente Médio é de ceticismo. A população dos dois lados já vivenciou diversas vezes o início de conversas de paz. E em todas houve esperança e se chegou a acreditar em uma solução. Nos últimos anos, porém, essa esperança foi se esvaindo. "É melhor do que nada. Do jeito que está, não dá para piorar", diz o estudante israelense Gad Marcus, em Jerusalém. "Mas minha esperança não está no [primeiro-ministro de Israel] Bibi Netanyahu. E se os palestinos realmente querem a paz, não faço ideia." Segundo recente pesquisa, 55% dos israelenses concordariam com um acordo com os palestinos. Mas 70% não acreditam que se chegará a um entendimento em Washington. As expectativas do lado palestino também são pequenas: 69% não enxergam uma solução de dois Estados pelo menos nos próximos cinco anos. "Apesar de cada vez mais pessoas agora falarem sobre o processo de paz, as pessoas aqui estão realmente pessimistas", afirma o palestino Imad Muna, vendedor de livros palestino em Jerusalém Oriental. "Sou um otimista por natureza. Mas desde 1994, ou seja, há 20 anos, nós estamos tentando negociar com Israel. E, muito honestamente, não tenho grandes expectativas de que dessa vez virá algo." Polêmica concessão Um último obstáculo que havia no caminho da retomada das conversas foi retirado no domingo (28/07), quando o governo de Israel anunciou a libertação de 104 presos palestinos. O gesto político foi bastante discutido. Foram necessárias várias horas de debate até que Netanyahu conseguisse convencer 13 dos 22 ministros de seu gabinete a apoiá-lo. Todos os 104 presos haviam sido detidos antes dos Acordos de Paz de Oslo, em 1993, acusados de atividade terrorista. Alguns cumpriam pena de prisão perpétua pelo assassinato de israelenses. Logo no início da reunião de gabinete, o primeiro-ministro de Israel afirmou que a escolha não havia agradado a ninguém, nem a ele mesmo. "Mas há momentos em que é preciso fazer escolhas difíceis pelo bem da nação", afirmou Netanyahu. A resistência foi especialmente grande sobre a colocação de que parte dos presos deveria ser de árabes israelenses. Os prisioneiros deverão ser soltos pelos próximos nove meses de maneira escalonada e de acordo com o avanço das negociações. "Nenhum país desse planeta libertaria assassinos como presente", criticou Naftali Bennett, presidente do partido religioso nacionalista Habait Hayehudi ("Lar Judaico"). Assim como ele, alguns ministros de Netanyahu, inclusive integrantes do mesmo partido do premiê (o Likud), também se opuseram à soltura dos detentos. No entanto, desde o início o governo em Ramallah deixou claro que só negociaria com Israel se houvesse uma garantia de que o país libertaria presos palestinos. Plano de diálogo Nos primeiros encontros dos negociadores, em Washington, a ministra da Justiça israelense, Tzipi Livni, e o chefe palestino do grupo de negociadores, Saeb Erekat, apresentam um plano de trabalho para as próximas semanas e meses. As conversas terão mediação do veterano diplomata Martin S. Indyk, ex-embaixador americano em Israel. Muitos dos detalhes da retomada das conversas, negociada por John Kerry após meses de conversas diplomáticas com os dois lados, ainda não são conhecidos. Os palestinos esperam que as discussões tenham como base as fronteiras anteriores a 1967. Israel deve insistir, sobretudo, em obter garantias de segurança. Os principais pontos de disputa como Jerusalém e o retorno de refugiados palestinos devem, pelo menos neste primeiro momento, ficar de fora. Mas o posicionamento dos dois lados em praticamente todas as questões são bem distantes. "As chances de que essas conversas, sob essas condições, cheguem a um acordo comum não são nada grandes", diz o professor de Ciências Políticas Abraham Diskin, da Universidade Hebraica de Jerusalém. "Mas nessa fase os dois lados deveriam, de alguma maneira, determinar que as negociações avancem e manterem firme essa decisão. Só isso já seria um grande êxito." O analista político Mahdi Abdul-Hadi, do instituto palestino Passia, também se mostra cético com relação às perspectivas de sucesso das negociações. Segundo ele, ainda é preciso recuperar muito da confiança perdida no âmbito político e na população. "Os palestinos estão cansados de esperar e estão frustrados. Muitos não acreditam que algo vai mudar", avalia Abul-Hadi. Mas por outro lado, afirma, não se quer perder totalmente a esperança. O pior que poderia acontecer e nesse ponto os dois lados concordam é que no final, conversas após conversas, não se chegue a resultado algum.

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