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Egípcios celebram queda de Morsi e presidente interino toma posse

09:02 | 04/07/2013
Período de transição, iniciado com juramento de Adly Mansour, ainda tem duração indeterminada. Muitos egípcios celebraram a destituição do presidente Morsi, cujo destino é incerto, pelos militares. O presidente do Conselho Constitucional egípcio, Adly Mansour, prestou juramento nesta quinta-feira (04/07) como presidente interino do Egito, um dia depois da deposição, pelo Exército, do presidente Mohammed Morsi, o primeiro chefe de Estado democraticamente eleito do país. "Me comprometo a preservar o sistema da República, a respeitar a Constituição e a lei e a proteger os interesses do povo", afirmou Mansour, designado pelos militares egípcios a substituir Morsi após uma semana de manifestações populares maciças. Mansour, de 67 anos, foi aplaudido durante uma breve cerimônia na sede do Conselho Constitucional, no Cairo. Segundo o Exército, ele deverá dirigir um governo de transição dotado de "plenos poderes" até que o país organize uma eleição presidencial antecipada e um pleito legislativo. Os militares não deram informações precisas sobre a duração do período de transição. Aviões militares sobrevoaram a capital egípcia várias vezes antes da posse de Mansour, soltando fumaça nas cores da bandeira nacional. Na noite de quarta para quinta-feira, a retirada de Morsi do poder pelos militares foi comemorada por milhões de egípcios que, desde o último fim de semana, exigiram a saída do presidente em gigantescas manifestações. No Cairo, não houve registros de confrontos entre adversários ao presidente destituído e seus apoiadores. Porém, em Alexandria a segunda maior cidade do país , houve enfrentamentos violentos que resultaram na morte de 14 pessoas e centenas de feridos. Comemorações A população egípcia passou toda a quarta-feira aguardando o fim do prazo dado dois dias antes pelo Exército ao presidente Morsi para que encontrasse uma solução para a crise política que opõe a Irmandade Muçulmana maior partido do país e do qual o presidente destituído é oriundo e a oposição. No final da tarde, centenas de milhares de manifestantes se reuniram na Praça Tahrir, no centro do Cairo, e em frente ao palácio presidencial. O clima era bastante tenso, mas ainda assim, mais calmo do que nos dias anteriores. "Silêncio, silêncio!", pediam os manifestantes quando chegou a hora do pronunciamento do chefe do Estado Maior das Forças Armadas, Abdel Fattah al-Sisi, que muitos ouviram pelo rádio e que confirmou a retirada do poder de Mohammed Morsi. Alguns minutos mais tarde, uma grande festa tomou conta da Praça Tahrir. A multidão comemorava aos gritos, fogos de artifício eram lançados enquanto as pessoas se abraçavam, derramando lágrimas de felicidade. "Estou muito feliz por egípcios de todas as classes estarem aqui na praça", afirmou à DW o professor universitário Sherif. "Podemos dizer que estamos livres dos radicais. A Irmandade Muçulmana nos trouxe muitos problemas graves", disse. O professor enfatizou que todos os manifestantes contra Morsi são, em primeiro lugar, egípcios, não apenas cristãos ou muçulmanos, e que todos bebem a mesma água e respiram o mesmo ar. Ao redor de Sherif, a multidão comemorava. Um homem se ajoelhou para agradecer a Deus, outro próximo a ele lutava para conter as lágrimas. Várias pessoas acenavam com bandeiras e usavam apitos e vuvuzelas. Um helicóptero militar sobrevoou a praça, jogando bandeiras egípcias à multidão que cantava "o povo e os militares são um só". Uma mulher com a cabeça coberta por um xale correu até um homem próximo a ela e gritou: "Os jovens nos libertaram pela segunda vez!", lembrando o levante popular do início de 2011, que resultou na renúncia do antigo presidente egípcio Hosni Mubarak. Após a queda de Mubarak, Morsi se tornou o primeiro presidente egípcio democraticamente eleito do país e tomou posse em junho de 2012. Incertezas sobre o futuro do país O Exército, a oposição política, a Igreja copta (cristã) e autoridades islâmicas entraram em acordo sobre a nomeação de Adly Mansour como presidente interino. Porém, ainda resta muito por esclarecer na situação política do Egito. Ainda não existe um plano de ação detalhado para a nova liderança do país. O destino do ex-presidente Morsi também ainda não foi decidido. "Ele precisa ir parar atrás das grades", defendeu Nadir, um manifestante na Praça Tahrir. "Muitos foram assassinados durante o governo dele e não serão esquecidos por nós." Incerto também é o futuro dos membros da Irmandade Muçulmana. Para os manifestantes anti-Morsi como Nadir, "o tempo deles já acabou e eles deveriam sair de cena". Para o jovem, o Egito verdadeiro é o que se manifesta na Praça Tahrir. Permanece, porém, o perigo de escaramuças entre os grupos rivais. A forma como os militares irão tratar a Irmandade Muçulmana nos próximos dias será determinante para o aumento ou não da violência. Ao mesmo tempo em que anunciou a destituição de Morsi, o Exército também fechou canais de televisão favoráveis ao ex-presidente. Muitos islamitas temem ser atacados ou presos, e já deixaram a região onde os protestos estão concentrados, no nordeste de Cairo. Um dos líderes mais importantes da oposição, Hamdie Sabahi, afirmou à rede de televisão Al-Arabiya que a Irmandade Muçulmana não deve ser excluída ou maltratada. Porém, o jornal estatal Al-Ahram relatou que foram emitidas 300 ordens de prisão para membros de alto escalão da formação. Para observadores, essas ações equivalem a uma convocação ao confronto e impossibilitam uma reconciliação entre os dois lados do conflito. Muitos líderes da Irmandade Muçulmana não foram encontrados durante a noite pela DW para comentar sobre os desenvolvimentos no Egito. Um porta-voz da organização afirmou que Morsi e membros de seu gabinete estão sob prisão domiciliar em um edifício da guarda presidencial. No entanto, o destino do ex-presidente não é, atualmente, a maior preocupação da maioria dos manifestantes. Mohamed, um dos muitos a protestar na Praça Tahrir, afirmou à DW que, para ele, o discurso do chefe das Forças Armadas foi bem elaborado e correto. "Ele pediu a união de todos os grupos sociais para discutir com os militares sobre os problemas, e é assim que deve ser", disse. Muitos manifestantes contrários a Morsi revelam algum ressentimento em relação à Irmandade Muçulmana. Mas vários esperam que não haja uma "caça" aos membros do partido. "Não acho que vá acontecer algo com eles", diz Mostafa. "Afinal, são egípcios como nós, nossos irmãos. Nós éramos da oposição e não fizemos nada contra eles. O novo regime deve agir da mesma forma." O jornal Al-Ahram já reportou a prisão de Saad Katani, líder do partido da Liberdade e Justiça da Irmandade Muçulmana. O porta-voz da organização, Gehad El-Haddad, afirmou nessa quinta-feira pelo microblog Twitter que o presidente Morsi foi separado dos seus membros de gabinete e levado ao ministério da Defesa. A União Europeia apelou na quinta-feira que Morsi seja tratado com respeito aos direitos humanos.

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