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Dificuldade de unir facções políticas ameaça transição egípcia

11:25 | 10/07/2013
Sem governo, sem Constituição e com generais no poder, Egito tem desafio de formar liderança legítima sem que sua frágil democracia desmorone de vez. Entre os principais riscos, a radicalização dos partidários de Morsi. Durante a campanha eleitoral, Mohammed Morsi prometeu ser o presidente de todo o povo egípcio. Mas, sem conseguir reunir todas as forças políticas em torno de si, durou apenas um ano no poder. Num Egito de economia estagnada e democracia frágil, governar sem o mínimo de consentimento dos rivais se mostrou inviável. O presidente interino, Adli Mansur, estará à frente do país somente até as próximas eleições. Porém, tanto ele quanto o próximo presidente eleito democraticamente no Egito Morsi foi o primeiro da História do país estarão diante de um grande desafio: unir um povo dividido. A chamada campanha Tamarod (rebelião) diz ter conseguido recolher mais de 20 milhões de assinaturas contra Morsi porque, como alega, não queria ser mais governada pela Irmandade Muçulmana. Mas é difícil imaginar um futuro governo egípcio de fato legítimo sem qualquer participação islamista. A Irmandade Muçulmana está firmemente estabelecida na sociedade, e Morsi ganhou as eleições de 2012 mesmo sob uma baixa participação eleitoral com 13,2 milhões de votos. "A princípio, não será fácil integrar a Irmandade Muçulmana no processo político", diz Amr Hashim Rabea, cientista político do Centro al-Ahram de Estudos Políticos e Estratégicos, baseado no Cairo. Nas última semanas, as diversas facções do xadrez político egípcio parecem ter endurecido o tom, e o conflito entre a Irmandade Muçulmana e os militares escala diariamente. Durante os mais recentes protestos, dezenas de pessoas morreram. "Há um enorme sentimento de raiva e uma grande frustração dentro da Irmandade Muçulmana e isso esconde, no momento, a reflexão sobre os próprios erros cometidos", opina o especialista em Oriente Médio Volker Perthes, diretor do Instituto Alemão de Relações Internacionais e de Segurança (SWP). Para ele, a situação deve mudar quando houver um relaxamento também por parte dos militares. No entanto, ao mesmo tempo em que o Exército promete não se intrometer na reformulação das instituições políticas, os militares fecham a sede da Irmandade Muçulmana e prendem membros da liderança islamista. Irmandade rejeita integrar gabinete Nesta quarta-feira (10/07), a Irmandade Muçulmana rejeitou a oferta para participar de um novo governo egípcio. "Nós não cooperamos com golpistas", disse um porta-voz do grupo, em resposta ao novo primeiro-ministro, Hazem al-Beblawi, que fizera uma oferta para que integrassem o novo gabinete. O Egito não dispõe, no momento, de um mediador neutro. E todos os partidos islamistas se retiraram das negociações para a formação de um governo interino, inclusive os salafistas do partido Al-Nour (Partido da Luz). "O islã politizado levou um duro golpe. E certamente isso levou também a um enfraquecimento da Irmandade Muçulmana", diz Perthes. Isso não é aceito pela Irmandade Muçulmana, que insiste em convocar seus partidários às ruas e adverte até de uma guerra civil. Vídeos de simpatizantes do grupo, divulgados pela internet, falam de ataques em todo o país caso Morsi não seja restituído ao poder. Para Volker Perthes, a violência pode aumentar ainda mais no país. "Ela não deve necessariamente partir da Irmandade Muçulmana, mas de forças que estão alojadas no entorno dela, como o Gamaa Islamiya, que possui um passado terrorista", afirma. Entre os egípcios, aumenta a preocupação de que a Irmandade Muçulmana venha a se radicalizar e se recuse a participar da reconstrução do país. "No futuro, haverá certamente partes da Irmandade Muçulmana que partirão para a violência. Mas também haverá outras que dirão que é preciso estabelecer agora um partido moderno, que esteja obviamente comprometido com a democracia", diz Perthes. As forças seculares no Egito estão cientes dos riscos que podem surgir para a segurança do país, aparentemente de forma deliberada, pois a aliança esquerdista liberal já se manifestou claramente contra a formação de um governo sem os partidos islamistas.

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